terça-feira, 10 de dezembro de 2024

Consequências (XXXI de XLIII)



Apesar de atazanar constantemente a cabeça do pai ao longo do Fim-de-semana, não conseguiu que este se comprometesse a ir a um casamento na sua cidade natal.

Aqueles dias acabaram, os meses foram passando e a data do casamento aproximava-se.

Alex pensava muitas vezes na conversa que tinha tido com Paola e era verdade. Para castigar a mulher tinha abdicado de tudo, até de viver. E a verdade é que, de alguma maneira ter estado perto da morte, ter duvidas se voltaria a andar, passar por todo aquele processo de reabilitação, deu-lhe outra perspectiva sobre a vida.

Tinha a certeza de que ela já teria seguido em frente e que ele seria já só uma memória. As palavras que ela escrevera mais para ela própria que para ele, aquele desabafo… Havia que resolver os assuntos de uma vez por todas. E ele queria estar perto dos netos, quando eles aparecessem. Queria reclamar a sua vida de volta.

Tudo começou com um simples telefonema.

“Alex, viva, tudo bem contigo?”

“Tudo bem Paulo. Olha, o tipo ainda quer vir para aqui?”

“Quer pois. Tu estas finalmente farto disso, não?”

“É um tudo nada monótono e quando não é a animação não é saudável.”

Paulo riu-se. 

“Tudo bem, só te peço que o treines por umas duas semanas e depois podes sair. Mas já agora, queres ir para onde, para ver onde te encaixar?”

“Quero ir para casa.”

“Ok. Ficas a saber que, seja qual for a tua posição, mesmo que seja o teu antigo lugar, vais manter o vencimento e as regalias que tinhas ai. É uma espécie de agradecimento por teres passado pelo inferno.”

“Acredita que gosto de saber isso. E olha, não me importava com a minha antiga posição. Quero ter um bocado de tempo para a família.”

“Fazes bem. Vou falar com o tipo e aviso-te quando ele chega. Quando é que queres partir?”

Que tal de hoje a três semanas? Deve dar tempo para ele chegar e para eu lhe passar o trabalho, e tenho um compromisso aí a que não posso faltar nesse fim-de-semana.”

“Perfeito. Vemo-nos aqui então se segunda a três semanas.”

Desligaram a chamada e em seguida Alex ligou outro numero.

“Alô bonitão.” Respondeu a voz sensual do outro lado.

“Alô Paola. Tem planos para daqui a três semanas?”

“Sabes que ainda que tivesse, mudava-os.”

“Bem, não sejas tão rápida a responder antes de saberes onde te queria levar…”

“Seja onde for, levas-me sempre ao céu…”

Alex sorriu.

“Já te disseram que és uma provocadora?”

“Já se me constou. Mas então qual era o teu plano?”

“Seres a minha companhia no casamento da minha filha.”

Caiu um silêncio.

“Alex, não sei se é boa ideia…”

“Ouve. Eu vou sair daqui. Vou voltar para casa. Pensei muito no que tu disseste há uns tempos e acho que tenho de enfrentar esta situação de uma vez por todas. Quando partir de hoje a três semanas, já não volto.” Ele sentiu a ponta de tristeza do outro lado, mas continuou “Eu sei que aquilo que temos é casual. Era para ser, foi e é. Uma relação entre nós nunca esteve nas cartas e tu foste bem explicita em relação a isso na nossa primeira saída e sei que continuas a achar o mesmo. Mas, aparte isso tudo, és uma amiga especial, apoiaste-me ao longo de meses e agora voltamos a ver-nos se voltarmos a ver-nos. Queria que viesses comigo, que passasses o fim-de-semana lá, em jeito de despedida, e que partilhasses comigo a felicidade da minha filha, que também já te conhece.”

Paola ouviu-o emocionada.

“Alex, se fazes questão, eu vou. Sabes perfeitamente que a amizade entre nós vai ficar. Mas sim, é possível que não nos voltemos a ver. Mas será que a minha presença não vai causar problemas?”

“Já lá há problemas para resolver de embarda. Mais um, menos um…” disse ele com riso na voz. Ela riu também e disse finalmente:

“Claro que vou, Alex.”

E quando este telefonema chegou ao fim marcou outro numero em seguida.

“Patricia?”

“Sim pai.” Respondeu a voz animada do outro lado.

“Só para te dizer que vou.”

“Até que enfim. Estava difícil. Quando é que chegas?”

“Não te preocupes eu trato de mim. Eu apareço durante a manhã de domingo. Mas…”

“Mas…?”

“Levo companhia.” Um silêncio longo fez-se sentir “Há problema?”

“A Paola, certo?”

“Sim.”

Ouviu a filha a respirar fundo.

“Tudo bem, pai. Só quero que apareças. Quero ter-te aqui nem que seja só por um dia.”

Alex sorriu, omitindo que ia ficar.

Acabaram o telefonema e, estranhamente, sentiu um peso a querer levantar de cima de si.


2 comentários:

  1. Este alívio de Alex é sintomático do quanto o tempo soube fazer o seu trabalho de cicatrizar as velhas feridas. Pelo menos, aquele ódio feroz que consome mais a quem o sente, do que a quem se dirige, parece ter-lhe dado tréguas. Isso também se deve um pouco a Paola, na verdade... :)

    Mais XIII episódios e vemos como tudo acaba...será essa a prenda de Natal que vais oferecer aos teus leitores, Gil? 😊

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    1. Não sei se há assim tantos leitores... Mas à Leitora que sei, é capaz ;)

      Abraço, Janita

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