O táxi parou às oito da manhã de domingo, Alex fez contas com o taxista e saiu em seguida, dando a volta ao carro e abrindo a porta, ajudando Paola a sair. Faziam um par esplendoroso, ele vestido com um fato ajustado Hugo Boss e ela com um magnifico vestido verde esmeralda até aos pés e com um ombro destapado.
Alex olhou para a casa e respirou fundo.
“Estas bem?” perguntou Paola.
Ele não respondeu, apenas anuiu, e, dando-lhe o braço, aproximou-se da porta que estava aberta e por onde algumas pessoas fardadas passavam atarefadas levando embalagens para dentro da casa, de certeza alguma empresa de catering contratada para fornecer comida aos convidados da noiva antes de seguirem para a Igreja.
Alex parou antes de entrar, na duvida se o deveria fazer sem se anunciar ou não. Era estranho ter esta reacção numa casa que tecnicamente ainda era sua, mas que na prática não o era e de onde ele tinha saído há quase dois anos e meio sem ter qualquer intenção de voltar.
Tiago ia a passar da sala para a cozinha quando os viu ali parados, mudou de rumo imediatamente, cumprimentou Paola e depois atirou-se para os braços do pai.
Marie saia da cozinha ainda a responder a alguém quando virou a cabeça, viu Alex e parou, ficando estática e deixando cair os pratos que tinha na mão que se escaqueiraram no chão com um estrondo.
Alex olhou para ela e deu-lhe um leve aceno com a cabeça.
Ela olhou para Alex, depois para Paola e claramente não sabia como reagir. Acabou por se virar e voltar a correr para dentro da cozinha.
“A tua mãe pareceu feliz por me ver.” Comentou Alex para o filho.
“Não ligues. Daqui a pouco passa-lhe. Já falo com ela. Mas o que é que estás a fazer aqui fora? Entra.”
As pernas de Alex pareciam mexer-se com um enorme esforço, arrastando-o finalmente para dentro da casa, ao mesmo tempo que ouvia a filha a descer as escadas e a perguntar “O que é que aconteceu? O que é que se partiu?” com Tiago a responder-lhe “Está tudo bem, a mãe deixou cair uns pratos e partiram-se, só isso.”
Entretanto ela chega ao fundo das escadas e vê o pai com Paola à entrada da sala e lança-se nos braços dele sem qualquer cerimónia.
“Pai. Até que enfim.”
Depois deu um abraço apertado a Paola.
“Pai, tenho de voltar para o quarto, que estava lá com a maquilhadora, mas não vás para lado nenhum, ouviste?”
Alex riu.
“Não, querida, não vou a lado nenhum.”
Entraram finalmente na sala. Alex olhou em volta e nada parecia ter mudado. Tudo parecia ter acontecido na noite anterior e ao mesmo tempo parecia também uma recordação distante.
“Tiago, vais ter de falar com alguém para nos dar uma boleia depois.”
“Não vieste de carro?”
“Não, vim de táxi. E se for preciso chamo um para ir, mas se houver boleia…”
“Não sejas parvo.” Disse Tiago, retirando-se por momentos e voltando com uma chave que entregou ao pai “Está na garagem. É melhor tirares o carro para a rua antes que chegue mais pessoal. Não te preocupes que está tudo em ordem. Tenho dado umas voltas com ele aos fins de semana, para o manter…” e depois acrescentou com um sorriso sacana “E além disso, aparecer em algum lado com um Mustang clássico abre muitas portas, se é que me entendes…”
Alex olhou para ele com um ar sério e disse:
“Filho, deixa-me dizer-te uma coisa que como teu pai me vejo obrigado a dizer.” Tiago levantou o sobrolho “ Quando encontrares a mulher certa, não a deixes fugir. Casa-te com ela e vive a tua vida.” Tiago assentiu, surpreendido com o ar sério do pai que continuou “ Mas enquanto não encontrares, diverte-te com as erradas.”
Desataram todos a rir e Alex pediu a Tiago para fazer companhia a Paola enquanto ele tirava o carro da garagem.
O carro estava ali, como ele o tinha deixado. Parecia estar pacientemente à espera dele. Entrou, sentiu o cheiro do cabedal dos estofos, sentiu o volante na mão, colocou a chave na ignição, ligou-o e ele despertou com um rugido. Carregou no botão para abrir a porta da garagem, retirou o carro, que estacionou na rua em frente à casa, e voltou para junto de Paola e Tiago, que estavam absortos a conversar um com o outro.
Tornou-se óbvio, ao longo da manhã, que Marie evitava entrar na sala a todo o custo. Alex apenas a viu de relance quando ela passava no corredor para ir para os quartos, no piso de cima. A casa foi-se enchendo de convidados, Muitos deles desconhecidos de Alex, provavelmente colegas a amigos da filha e outros família e conhecidos de longa data que, quando o viam, o cumprimentavam efusivamente.
A meio da manhã a noiva desceu finalmente, para se juntar aos convidados e posar para as fotos com todos eles. Alex não conseguiu conter uma lágrima de emoção quando a filha se chegou ao pé dele, deslumbrante no seu vestido de noiva.
“O meu bebé.” Disse-lhe ao ouvido enquanto a abraçava “Parece que ainda ontem andava contigo às cavalitas…”
“É para veres que estás a ficar velhote.” Respondeu a filha com um ar brincalhão e a irradiar felicidade “Mas vou ser sempre, sempre o teu bebé. Mas pode ser que daqui a algum tempo tenhas outro para levar às cavalitas…” continuou ela, piscando-lhe o olho.
Alex olhou para a filha com um ar intrigado, e depois sorriu.
“Já?”
“Pois, não estava planeado, mas fizemos tantos projectos nos últimos tempos que um concretizou-se…”
Alex abraçou-a novamente e disse-lhe ao ouvido:
“Parabéns, mamã.”
“Parabéns, avô.” Respondeu ela.
Daí a pouco Marie finalmente juntou-se aos convidados. Alex viu-a a descer do primeiro andar, com um vestido elegante e discreto. Mas nunca se aproximou ou interagiu com Alex. No entanto ficou extremamente surpreendida quando Lisa e Fernando chegaram e o cumprimentaram, bem como a Paola, como se fossem amigos de há muito.
Assim que teve uma oportunidade, Marie puxou Lisa para um quarto.
“Lisa, vi-te a cumprimentar o Alex e a rapariga que está com ele…”
Lisa sorriu.
“Não te ponhas a fazer filmes na tua cabeça, por favor. Ontem fui jantar fora com o Fernando e encontramo-los no restaurante. Acabamos por ficar à conversa e jantamos e saímos juntos a seguir. Não há mais história por trás.”
“Quem é ela?” perguntou Marie.
“A tua filha não te disse?”
“Sei que se chama Paola, é Italiana e foi a fisioterapeuta do Alex quando ficou ferido.”
“Sim, e ficaram amigos e o Alex fez questão que ela viesse. Mas ela tem avião ao fim da tarde, não vai ficar até ao fim da festa. Creio que tem de estar no Dubai amanhã de manhã…”
“Eles não vão ficar?” perguntou Marie com algum medo nos olhos, a imaginar que apenas veria Alex por umas horas antes de ele partir novamente.
“Ela não vai ficar. O Alex voltou permanentemente. Vai voltar ao cargo que tinha. Não tenhas medo, ele não vai para lado nenhum. E a Paola não morde. É muito simpática até. Acho que ias gostar de falar com ela.”
Marie recebeu todas aquelas informações, mas continuou sem saber o que fazer. Mas o facto de saber que Alex não iria embora acendeu uma esperança.
“Marie, agora vai-te compor, levantas o queixo e vais lá para fora cuidar dos convidados e ser a anfitriã perfeita. Hoje não é dia para lidar com estes esqueletos. Deixa-os no armário por mais um bocadinho.”
Marie olhou-se ao espelho, ajeitou-se, levantou o queixo e saiu do quarto já com um sorriso e uma disposição diferente.
Assim mesmo! Queixo pra cima, barriga pra dentro e peito pra fora... 😊
ResponderEliminarAposto que, quando escreveste essa conversa do Alex com a filha, - a parte de ainda 'ontem' andar com ela às cavalitas - te lembraste da tua filhota. O tempo voa, é o que é.
Um abraço, Gil
...e se a minha adorava andar às cavalitas! E agora, não tarda nada, tá-me a pedir a chaves do carro... LOL
EliminarVoa mesmo, acredita!
Abraço, Janita :)