segunda-feira, 20 de julho de 2015

Como ser um garanhão (edição especial para Marrões) - III

III - Não conheces a anedota do coelho Alfredo?

“ Dá-mo todo”, “Ai tão bom”, “Que delicia podermos estar à vontade”…
Hora e meia disto! Não bastava ter descoberto que vivia com um casal gay, como ainda tive de aturar a sua performance sexual.
Por fim, lá saíram os dois do quarto e foram para a casa de banho, suponho que para tomarem um duche, ou assim, e eu ali, sentado no chão a ver televisão, uma vez que nem coragem tinha para me sentar no sofá onde eles estavam quando entrei!
Estava completamente sem saber o que fazer.
Remoía eu as minhas conjecturas quando tocaram à campainha, apanhando-me de surpresa! Só depois olhei para o relógio e me lembrei do anúncio. Fosse quem fosse era pontual! Abri a porta…
-Olá! Estou aqui por causa do anúncio.
O meu cérebro teve uma cãibra! Uma rapariga?!? Mais uma rapariga gira e com um sorriso luminoso!
Esticou-me a mão para me cumprimentar e eu só conseguia pensar “Vê lá se por uma vez na tua vida consegues ser cool!” e estiquei a mão, coisa que exigiu que me concentrasse, porque o meu cérebro parecia ter fugido para algum lado desconhecido!
-Eu sou a Cristina, mas todos me tratam por Cris. Foste tu quem pôs o anúncio?
-Ah! Não, por acaso não fui. Foram os meus colegas de casa…
-Oh! Mas estás à procura de pessoas com quem dividir a renda não estás?
-Sim, sim, estou…
-E tu és…?
Estupido! Obviamente estupido! Ainda nem sequer me tinha apresentado!
-Alfredo,… - lá consegui obrigar-me a dizer – chamo-me Alfredo!
-Como o coelho da Anedota?
-Qual anedota?
-Não conheces a anedota do coelho Alfredo?
-Não!
-Pois, é um coelho já velhote que tem de treinar o substituto na coelheira, manda pôr as coelhas em fila, tudo de rabinho empinado, começa a ir uma a uma, sempre “com licença, obrigado, com licença, obrigado” para mostrar ao novato, mas já não se aguenta muito tempo. Mas o novato topa a cena e logo a seguir manda alinhar as coelhas e começa logo a apanhar a coisa, “com licença, obrigado, com licença, obrigado, com licença, obrigado, desculpa Alfredo, com licença, obrigado…” – e desata à gargalhada!
Já eu ainda tinha o cérebro demasiado estupidificado para reagir e fiquei só a olhar para ela, muito provavelmente com a cara que Deus me deu, ou seja, cara de parvo. Ela apercebe-se, começa a tentar controlar o riso enquanto olha para mim, até que se consegue finalmente controlar e diz:
-Pois, não tem assim tanta piada…
E eis que chegamos a um daqueles silêncios constrangedores!
“Vê lá se não estragas isto, ó estúpido” dizia uma voz bem dentro de mim e lá lhe disse com uma voz fina e meio tremula:
-Não é melhor entrares?
-Claro!
E entrou.
Respirei fundo e levei-a até ao sofá.
Pequena pausa nos acontecimentos apenas para tentar descrevê-la.
Era pequena. Pouco mais de metro e meio. No entanto tinha uma estrutura de corpo “petite” muito agradável. O rosto parecia de uma boneca, o que contrastava um bocado com a pinta “punk-rocker” que tinha. Calças de ganga preta, justas, botas, uma t-shirt de Led Zeppelin e um blusão de cabedal. Uma maquilhagem não muito carregada, a não ser pelo encarnado vivo nos lábios e um eyeliner carregado, dando-lhe um aspecto meio gótico. Cabelo comprido, escorrido, preto asa-de-corvo com a franja pintada de louro platinado. Um daqueles bombons pequenos mas que se adivinham deliciosos…
…não que eu tenha muita pratica com bombons…
…ou até com outro estilo de guloseimas…
…mas voltemos onde estávamos.
Ela entra, olhando com uma curiosidade natural para o espaço até que pousa os olhos na mesa de café em frente ao sofá e vê um livro de Manga Japonesa, “Black Jack” em cima dela.
-Olha! Aquele livro é teu?
Entrei em pânico! Pronto, ela vai-me achar um marrão! Já foste…
-Eu adoro Manga!
“A sério?!?”
-Mas conheces?
-Sim. A minha antiga baterista adorava Manga. Ela é meio Japonesa. Nós eramos muito próximas e acabei por começar a gostar também…
-Ah! Que fixe! Tinhas uma banda? Isso é altamente…
-Ya! Toco guitarra. – Respondeu ela com um sorriso e um brilhozinho nos olhos.
-Que fixe, mesmo! Bem, mas agora que já viste por alto o apartamento, continuas interessada?
-Sim, claro que sim.
-Ok! Presumo que tenhas um trabalho…
-Sim, sim,… - respondeu ela com um sorriso nervoso - …e também tenho um rabo bonito, não achas? – Disse ela virando-se de costas e espetando o rabo na minha direcção.
Engoli em seco!
-Sim, claro, acho…
E eis que a porta da casa de banho se abre e saem o Abel e o Francisco completamente nus, ainda meio molhados e abraçados um ao outro, deixando um ar completamente desconcertado na cara dela! Só depois reparam que ela lá está. Largam-se rapidamente.
-Pessoal,… - disse-lhes eu - …esta é a Cris e é a marcação das 18:30!
-Ah! Muito prazer. – Apressou-se o Francisco a cumprimenta-la, sendo seguido pelo Abel.
Os dois desculparam-se e retiraram-se rapidamente, provavelmente para se vestirem.
-Eles são um casal? – Perguntou a Cris baixinho.
-Sim, são! – Respondi eu ainda a tentar que a ideia me assentasse na cabeça.
-E tu também és gay?
-Bem, eu…
-Perfeito! Assim nem sequer tenho medo que me violes à noite, ou assim! Sabes como é que é, uma rapariga meio desprotegida e sozinha como eu…
-Sim, mas…
-Se aceitares, fico com a casa! Posso ficar?
Respirei fundo! Pelo menos ela ia ficar! Fixe! Trataria de a esclarecer depois.
-Sim podes!
-Que pinta! E quando é que me posso mudar?
-Bem, eles só se mudam daqui a uma semana, mas acho que vão ficar os dois no quarto do Francisco, portanto é mais ou menos quando quiseres.
-A sério?!? – perguntou ela com um sorriso radiante que até parecia querer aquecer a minha alma.
-A sério!
Abraçou-me e deu-me um beijo na face que me deixou completamente derretido e com as pernas bambas.
-És um querido. Quer dizer que a entrevista acabou?
-Sim, e devo ter alguém a chegar para a próxima entrevista, por isso, se não te importas…
-Claro que não.
Levantámo-nos para a levar à porta, abri-a, ela saiu e voltou a perguntar:
-Posso mudar-me quando quiser, então?
-Sim podes.
-Fixe. Atão inté…
Sorri.
-Inté.
E fechei a porta. Miúda simpática. E bonita. Muito pequena, é verdade, mas mesmo, mesmo gira!
Batem à porta. Deve ser a marcação a seguir…
Abro a porta…
…e lá está a Cris carregada de sacos!
-Disseste que me podia mudar quando quisesse e como tinha a carrinha aqui à porta…

2 comentários:

  1. O engraçado disto, é que seria suposto ser um discurso na 3ª pessoa, afinal o protagonista é um "Alfredo" mas está tudo escrito na primeira pessoa, ou seja, em modo CNGil ahahahaahh

    ResponderEliminar
  2. Noname,

    Tás enganada. Desde o começo que é o Alfredo "Freddy" a contar a história. Ele até se apresenta no primeiro capítulo...

    ...quanto ao modo da escrita, é mais, C.N.Gil em pura viagem na maionese...

    LOL

    :)

    ResponderEliminar

O QUÊ?!?!? ESCREVE MAIS ALTO QUEU NÂO T'OUVI BEM!