segunda-feira, 18 de março de 2024

Conscientização - XVI

  

Andreia acabava agora de redigir um contrato sem nome, nos termos que César lhe havia pedido, e preparava-se para se vestir, uma vez que ele lhe tinha dito que sairiam essa noite novamente. Ele tinha-lhe dito qual o vestido que queria que ela usasse essa noite. Era um dos muitos que tinham comprado essa tarde.

Depois da sua atrapalhação por causa do tamanho do carro nas ruas de Sintra, verdade seja dita que, assim que apanharam estrada aberta e deixou de estar receosa, percebeu que, ao contrário do que esperara, o carro parecia leve e ágil, respondendo com uma precisão absoluta a cada movimento seu e ela sentiu uma segurança que nunca antes tinha sentido em carro nenhum. De tal forma que apenas quando começaram a descer o Monsanto em direcção ao viaduto Duarte Pacheco e César lhe disse – Se calhar convinha levantar o pé, não? – se apercebeu de que fizera a viagem, desde as portagens, em Carcavelos, a cerca de duzentos quilómetros hora e se assustou, levantando o pé e deixando que o motor e a gravidade da subida desacelerassem o carro gradualmente, entrando dentro dos limites de velocidade no túnel do Marquês.

Estacionaram o carro no parque de estacionamento dos Restauradores. Daí começaram um périplo por várias lojas, sendo a primeira a “Ana Salazar” na rua do Carmo, passando depois pela “Fátima Lopes”, “Ana Sousa” entre outras, vindo depois para a Avenida da Liberdade e correndo as lojas de marcas internacionais como a “Emporio Armani”, “Luis Vuitton”, “Trussardi”, “Escada”, “Fashion Clinic”,…

Esta tarde teria sido o sonho de qualquer “fashionista”, tendo César gasto largos milhares de euros em roupa, sapatos e assessórios, tendo cada uma das compras sido aprovada por ele.

O vestido que estava estendido na cama, cor de laranja e de tecido leve, semitransparente, cuja frente acabava um palmo acima do joelho, mas a parte de trás cerca de um palmo abaixo e lhe deixava as costas nuas, tinha protagonizado um dos momentos mais embaraçantes dessa tarde. Experimentou-o com uns sapatos de salto alto da mesma cor do vestido. Ao ver que o tecido era quase transparente, limitou-se a baixar as alças do soutien e apresentou-se assim a César. Este reagiu com a frieza que o caracterizou a tarde inteira, talvez para não a embaraçar, pensava ela, e limitou-se a dizer-lhe para o experimentar sem soutien, uma vez que este estragava por completo o efeito nas costas. Ela voltou a entrar no provador, tirou-o e corou de imediato perante a ideia de sair e se expor a César com a auréola mamária e o próprio mamilo espetado completamente visíveis por baixo do tecido. Ainda assim, respirou fundo, saiu, César observou-a e aprovou o vestido, embora tenha procurado de imediato uma empregada que lhe oferecesse uma solução para o embaraço dela, que chegou sob a forma de um soutien auto-adesivo em silicone e alguns pares de adesivos tapa-mamilos de silicone e tecido.

Acabou de redigir o contrato, do qual imprimiu duas cópias, maquilhou-se, vestiu-se e observou-se no enorme espelho do roupeiro do seu quarto. Os sapatos, os mesmos com que experimentara o vestido tornavam-lhe as pernas mais longas e elegantes e o vestido assentava-lhe na perfeição. Deu-se por satisfeita e desceu a escada ao encontro de César que a aguardava na sala de estar, entretido a ver informações das bolsas de quase todo o mundo no enorme LCD.

Ele olhou-a assim que entrou, com um ar sério, observou-a minuciosamente.

- A sua maquilhagem não está bem. – Disse ao fim de um bocado

- Está demasiado carregada e é muito nova para ter tanta base na cara. Além disso, como tem a pele muito branca não gosto de a ver com esses tons. Use um “eye shadow” em tons de rosa, ou castanhos suaves. Os azuis que está a usar esbatem-lhe os olhos, que são da mesma cor, em vez de os realçarem. Use cores contrastantes para os destacar e dar ainda mais vida. Afinal não nos vamos esconder de ninguém. E o batom, em vez desse rosa, use um encarnado escuro e brilhante para contratar mais com o seu tom de pele.

Ela ficou a olhar para ele, surpreendida pela reacção, assentiu e virou-se para voltar para o quarto. Ele voltou a interpela-la:

- Já agora, troque a roupa interior.

Ela voltou-se para ele, encarando-o com um ar inquiridor. Ele sorriu e continuou.

- Era melhor usar roupa interior creme… – disse.

Só então ela reparou que a roupa interior preta era claramente visível por debaixo do vestido. Corou, sentindo-se verdadeiramente embaraçada. Ele sorriu.

- Andreia, lembre-se sempre: a diferença entre a elegância e a vulgaridade, na maior parte das vezes, não é mais que um mero detalhe…


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