segunda-feira, 11 de março de 2024

Conscientização - IX

   

Era notória a dúvida que ia na cabeça de Andreia quando chegou ao escritório. Estava ali, de pé, sem saber o que fazer a seguir ou como reagir. Assustou-se quando César entrou.

- Pode sentar-se. – Disse ele secamente, mais ordenando do que informando. E ela assim o fez enquanto ele dava a volta à secretária e se sentava à sua frente.

Depois ele ficou uns longos minutos apenas a observá-la sem dizer uma única palavra.

Andreia simplesmente corava, com um desconforto crescente, olhava para ele de relance e via-lhe os olhos fixos em si como se estivesse a tentar ver-lhe a alma. Sentia o silêncio a abater-se sobre ela e as paredes do escritório amplo a ficarem cada vez mais próximas. Sentia-se claustrofóbica ali e a presença daquele homem era cada vez maior.

Ao fim de um tempo que lhe pareceu uma eternidade, mas que na realidade não tinha sido mais de dois minutos ele sorriu e passou-lhe um papel para a mão.

- Leia cuidadosamente. – Disse.

Ela leu com calma. Era um contrato de trabalho que a obrigava a uma confidencialidade absoluta. De tal forma que se alguém lhe perguntasse o que ele acabara de dizer quando lhe dera o papel para a mão ela não o poderia revelar sob pena de ter um processo judicial de tal forma absurdo que raiava o impensável.

- Como calcula D. Andreia, …

- Só Andreia, por favor…

- Como calcula Andreia,… – retomou ele – …a confiança que tenho de ter em si é absoluta. Mas eu não confio em ninguém. Como tal tenho de me precaver. Se concordar, assina. Caso o faça quero que saiba que preciso da sua total disponibilidade, seja a que horas for. Como tal, se quiser mudar-se para aqui, está à vontade. O seu ordenado será o que está na última página, bem como as suas folgas. Vou deixá-la sossegada algum tempo para que pense e decida.

E dito isto levantou-se e saiu deixando-a sozinha.

Desceu as escadas, voltou ao hall onde ainda estava o restante staff da casa.

- Façam uma lista de tudo o que precisam. Desde comida, electrodomésticos, trens de cozinha, ferramentas de jardinagem, produtos de limpeza… Seja o que for. Têm o dia de hoje para fazer esse levantamento. Algum de vocês conduz?

O Sr. João acusou-se.

- Muito bem. Amanhã irei comprar um carro que ficará ao vosso serviço. Poderão durante o dia de amanhã fazer as compras que sejam necessárias. Para já, e uma vez que temos de comer, convém mandar vir qualquer coisa.

- Há um restaurante na vila que faz comida para fora… – Aventurou a D. Josefina – …e que é muito boa. Eu já lá trabalhei…

- Muito bem. Peça o menu pelo telefone e depois encomendamos, nem que vá lá eu buscar a comida.

- Sim senhor. – Disse ela, dirigindo-se para o telefone. Os outros, prontamente, começaram a tentar procurar os cantos à casa para saber o que fazia falta.

Já César subiu as escadas e voltou ao escritório. Ao entrar reparou que Andreia continuava nervosamente sentada mas o contrato estava já assinado em cima da secretária.

- Bem-vinda, Andreia. – Disse – Espero que nos venhamos a dar muito bem.


Sem comentários:

Enviar um comentário

O QUÊ?!?!? ESCREVE MAIS ALTO QUEU NÂO T'OUVI BEM!