terça-feira, 19 de dezembro de 2023

Lilith - XIII - Diana

Cinco e meia da tarde.

Estacionava o carro em frente a casa. Parámos na entrada do prédio para eu recolher o correio e subimos em seguida as escadas até ao primeiro andar e entrámos. A casa tinha um leve cheiro a mofo por estar fechada há tanto tempo. A última vez que cá tinha estado tinha sido entrada por saída, quando vim buscar o portátil. Pousei o correio na mesa da sala e apressei-me a ir abrindo as janelas, à medida que lhe mostrava a casa, e deixando entrar ar e luz.

De seguida fui ver o correio, cheio da publicidade e das contas de sempre, com um ou outro ocasional convite misturado, que ainda se davam ao trabalho de me mandar. Fui descartando envelopes um a um. Lilith estava sentada no sofá ao meu lado enquanto fazia isso. Quando dispensei uma carta com um convite, ela pediu-me:

– Posso ver isso?

– Podes, mas não é interessante.

– É o quê?

– É um convite para uma festa qualquer.

Ela abriu o envelope.

– Uma exposição de pintura. Parece interessante…

– Achas? Para mim nunca é…

– Porquê?

– Porque estão lá sempre as mesmas pessoas, a pseudo-elite intelectual com as suas grandes ideias e os seus julgamentos do trabalho dos outros, bem como a gentinha do jet-set que não tem talento para nada a não ser para aparecer.

– Não me digas que nunca há gente interessante?

– Claro que não digo. Há pessoas interessantes. Mas acabas por passar muito mais tempo a falar com os outros…

– Devíamos ir.

Olhei para ela de soslaio.

– Porquê?

– Porque era giro e ficou claro que não gostas de discotecas e afins e eu quero ver gente.

– Mas temos de ir a rigor e tudo.

– Sim, mas eu posso levar qualquer coisa da tua ex. Ainda aí tens roupas dela, não?

– Tenho, ela não levou nada.

– Então… Vais ver, arranjamo-nos. Vais-te alinhar, que estás uma desgraça, vais tomar um banho, fazer a barba, pôr um bom after shave. Eu vou vasculhar os teus armários, vou-te escolher uma roupinha catita para quando saíres do banho e ponho na tua cama. E entretanto tenho a certeza de que arranjo qualquer coisa para mim também. Calculo que não tenhas cá nada que se coma…

– Pois, por acaso não tenho.

– Então vá, vamo-nos arrumar e vamos jantar fora com tempo. Anda vai…

E despachou-me. Não adiantava argumentar fosse o que fosse e eu sabia-o.

Levei roupa interior comigo para a casa de banho do meu quarto, onde tomei um duche longo e bem relaxante, por sinal. Fiz a barba com calma, com atenção, dando-me importância, coisa que raramente fazia. Penteei-me com cuidado. Pensava «Se vou sair com esta mulher é melhor caprichar um bocadinho!».

Quando saí da casa de banho tinha em cima da cama a roupa que ela tinha escolhido para mim. Um fato preto liso com um casaco de corte cintado, uma camisa branca com riscas verticais espaçadas em cinzento claro e uns sapatos. Vesti-me com calma. Quando acabei dei mais um toque no cabelo. Finalmente saí para a sala, já vestido. Ela aguardava-me.

Quando a vi fiquei parado, literalmente parado. Tinha apanhado o cabelo deixando apenas um longo caracol a desenrolar-se de cada lado da face, abaixo do ombro, emoldurando-lhe o rosto, mas realçando o pescoço comprido e elegante. Usava um vestido que só me lembrava de ter visto uma vez a Diana, muito decotado, a realçar‑lhe o busto, num cetim púrpura que caía naturalmente ao longo das curvas do seu corpo dando-lhe um ar imperial e ao mesmo tempo suave. Os realces da luz no tecido aumentavam ainda mais a sensação de fluidez e de que ela flutuava em vez de andar. Nos pés uns sapatos de estilo italiano, clássicos, mas que alimentavam na perfeição a ilusão de que as suas pernas seriam mais compridas, aumentando o efeito de elegância. Pela primeira vez via-a maquilhada, com um rímel preto e uma sombra castanha que fazia com que os seus olhos azuis, já de si ofuscantes, parecessem atravessar tudo o que tocavam. Nos lábios o batom castanho brilhante realçava o desenho tornando-os ainda mais carnudos. Estava linda, bela, e quase não me apetecia sair só para ela não passar a vergonha de ser vista comigo.

Ela caminhou para mim, alinhou-me o colarinho da camisa e desabotoou-lhe mais um botão.

– Assim ficas melhor, mais desportivo – disse. – Vamos então?

Encolhi os ombros.

– Vamos.

Jantámos num restaurante perto de onde era a galeria de arte. Já passava das dez e meia quando finalmente nos dirigimos para lá. Mostrámos o convite à entrada. Mal entrámos, ela sussurrou-me ao ouvido:

– Vou retocar a maquilhagem. – E afastou-se rapidamente deixando-me sozinho num sítio onde eu não queria estar. Olhei em volta. Localizei o bar, dirigi-me lá, sentei-me num banco alto, pedi um whisky de malte. Deixei-me ficar virado para o bar, sem vontade de ver ninguém ou de ser incomodado. Apenas queria fazer o meu tempo ali. Lilith que se divertisse, se quisesse.

– Olha só o que arrastaram da rua para aqui…

Uma voz que eu já não ouvia há 10 anos. Continuava carregada com o mesmo desprezo que tinha na fita gravada. Continuava inconfundível. E se a minha noite já não mostrava grandes perspectivas, acabara de ser pura e simplesmente arruinada. Bebi o whisky de um trago. Precisava da anestesia só para me virar na cadeira. Voltei-me.

– Olá, Diana – disse mesmo antes de a ver, enquanto me voltava.

E depois vi, e os dez anos volvidos apenas pareciam ter aumentado nela qualquer coisa de mau, continuava a ver desprezo nos seus olhos. Era ainda uma mulher bonita, mas a sua pele acusava os anos passados. Tinha o cabelo pintado de loiro platinado, o que não lhe ficava mal, uma vez que tinha a pele clara, mas preferia de longe vê-la com o seu castanho cobre natural. Estava mais magra do que eu me lembrava dela. Usava um vestido justo muito trabalhado em tons de bordeau e preto, comprido, quase até aos pés.

A acompanhá-la estava alguém que eu não fazia ideia de quem era. Um homem elegante, de meia-idade, alto e com o rosto de traços vincadamente masculinos e simétricos.

– Então? Resolveste sair de debaixo da pedra onde tens estado enfiado?

– Não, por acaso, não. Fui arrastado.

– Arrastado? Mas que bem. Vejo que não mudaste nada.

– Acho que mudei o suficiente. Já tu estás, obviamente, quase na mesma.

– Quase?

– Sim, quase.

– Porquê quase?

– Porque estás mais velha.

– Também não estás mais novo…

– Pois não, mas ao contrário de ti, isso não me preocupa – disse com um sorriso.

Era curioso o que sentia neste primeiro frente a frente ao fim de todos estes anos. Sentia que finalmente conseguia encará-la e não digo que a desprezasse como ela o fazia a mim, mas sentia-me totalmente desprendido dela.

E eis que Lilith entra pela sala e caminha na minha direcção com a segurança habitual. É notório o efeito que ela tem em todos à medida que atravessa sem olhar para ninguém. Desviei os olhos de Diana e olhei-a. Ela sorriu.

Veio direita a mim, passou pela Diana e pelo seu acompanhante, encostou-se a mim, abraçando-me e disse:

– Tiveste saudades minhas?

– Muitas… – respondi.

Olhou-me com um olhar maroto.

– Ainda bem – disse, e dizendo inclinou-se para a frente beijando‑me com suavidade, ignorando e fazendo-me ignorar por completo tudo o que nos rodeava. Depois afastou-se um pouco ficando com a cara a centímetros da minha, os seus olhos nos meus, uma expressão de miúda que está prestes a fazer uma travessura e perguntou:

– Não me apresentas os teus amigos?

– Claro… – disse.

Ela virou-se para eles permitindo que eu fizesse as apresentações.

– Querida, esta é a Diana Almeida, a minha ex-mulher, e este senhor é o…

– Ricardo… – apressou-se ele cumprimentando-a. – Ricardo Gomes.

Virei-me para eles e apresentei-a.

– Esta é Lilith.

– Lilith? – Perguntou Diana – Nome interessante.

– É de origem hebraica.

– É judia, então?

– Pode dizer-se que sim, mas não propriamente. Creio ser mais um bocadinho de cada cultura que vou absorvendo.

– E o que é que uma jovem como você poderá ter a dizer do mundo?

– Muita coisa, sabe. A idade não se mede pela pele mas pelo que se viveu, não acha? – Não esperou pela resposta e virou-se para mim: – Querido, vamos dar uma volta por aí?

– Ainda estou a acabar a bebida, e já não via a Diana há dez anos. Não queres ir tu indo?

– Sozinha? Achas? Não, sozinha não! – E com isto lança um olhar ao Ricardo que foi de tal forma que quase podia jurar que os joelhos dele tremeram. – Ainda há para ai alguém mal intencionado…

– Linda, eu sei que davas conta dele, se houvesse.

– Mas não, amor. Sozinha… Já sei! Só se o Ricardo me acompanhar e assim ainda falavas um bocadinho com ela. Que dizes?

– Se o Ricardo não se importar…

– Claro que não me importo – disse Ricardo solícito, se calhar até demasiado solícito.

– Então vamos… – disse ela dando-lhe o braço. – Até já, amor. – E seguiram os dois pela galeria.

Ficamos a vê-los ir, eu e Diana, e vimo-los desaparecer por entre as pessoas que se juntavam com opiniões, de certeza esclarecidas, em frente aos quadros. Já eu estava sem qualquer curiosidade para os ver, muito menos para encontrar algumas pessoas com quem teria de manter conversa de circunstância.

Estava também sem perceber muito bem o que queria Lilith. Percebi que queria jogar de alguma maneira, e fui a jogo com ela, mas o objectivo escapava-me. Neste momento estava sozinho com a última pessoa no mundo com quem queria falar, e embora não me sentisse tão desconfortável como imaginava quando via mentalmente este encontro, a verdade é que ter uma conversa com ela era quase impossível.

Sentei-me novamente no banco alto, de costas para o bar, pedi outra bebida, e deixei-me estar mergulhado nas minhas considerações. Foi Diana quem quebrou o silêncio.

– Onde é que desencantaste esta miúda?

Miúda. Eis um termo giro para a definir.

– Bateu-me à porta no outro dia.

Ela riu.

– Caiu-te do céu?

– Bem se pode dizer que sim.

– Só mesmo tu… Mas não achas que ela é, sei lá, talvez um pouco nova para ti?

– Se eu te respondesse talvez ficasses surpreendida. Além disso, não és tu que gostas deles mais novos? Aliás, até estou surpreendido com o Ricardo. Que idade tem ele? Trinta e cinco? Quarenta? Não está já velho demais para ti? Ou já te sentes assim tão velha?

– Ora, o Ricardo é apenas um amigo…

– E ele sabe disso? Ou continuas com os velhos hábitos de ir dando umas quecas por fora?

– Porquê a pergunta? Chateia-te o que eu faço ou deixo de fazer?

– Não, de maneira nenhuma. Só queria perceber se mudaste. Mas as pessoas não mudam, não é? Só se adaptam.

Ela riu-se com uma gargalhada sonora.

– Pois não. Basta olhar para ti. Continuas tão profundo…

Era verdade. Ela não mudara e eu também não. Ela adaptara-se, depois do nosso divórcio, para tentar manter um nível de vida a que se habituara, e eu adaptei-me à minha solidão e reclusão. Tinha deixado de gostar de pessoas, tornara-me desconfiado e selectivo, usando sempre a Diana como medida para alguém que eu conhecesse. E apercebia-me agora que tinha errado. Cada pessoa era por si só, era um conjunto único de defeitos e virtudes, irrepetível, mesmo quando essa pessoa quer ser igual a alguém. Ao estabelecer pontes de comparação neguei inevitavelmente a hipótese a qualquer dessas pessoas de chegarem até mim. Só havia uma Diana, e essa estava à minha frente neste momento.

A percepção de tudo isto fez-me rir. Dei uma gargalhada com vontade. Acredito que ela pensasse que me ria em resposta a ela, mas não, ria porque me apercebi que passei dez anos da minha vida numa solidão auto-imposta sem qualquer motivo.

– Acho que não tanto como tu julgas… – acabei por responder. – Mas diz-me, quem é este Ricardo?

– Estás assim tão curioso?

– Um bocadinho. Sempre me apercebo o porquê de ele ser tão… «velho» para ti.

– É filho do dono de uma rede de agências imobiliárias, é formado em economia, tem dinheiro e como viste não é nada mal jeitoso…

– Tem cuidado, não vá aparecer por aí uma caçadora de homens qualquer que te roube o homem…

– Sabes que ainda tenho os meus talentos.

– Acredito que sim, mas não estás mesmo a ficar mais nova, e ao virar da esquina há sempre outra versão de ti, mais nova, com a pele mais suave e que tem mais talentos que tu. E não te esqueças que aquilo que queres há mais quem queira…

– Meu querido – disse ela com a voz carregada de ironia –, desde que ele me dê o que eu quero, o que é que me importa se ele tem mais uma ou duas ou uma dúzia de amantes por fora?

– Se fosse a ti importava-me. Há uma altura em que temos demais e começamos a descartar o que achamos supérfluo…

– E eu pareço-te supérflua?

– De onde eu estou, cada vez mais…

Ela acusou o toque. Viu que qualquer efeito que tivesse tido em mim no passado se tinha desvanecido e eu cheguei com agrado à mesma conclusão.

– E se fôssemos à procura dos nossos pares? – Disse ela desviando a conversa. Pousei o copo vazio e concordei.

– Vamos.

Fomos percorrendo a galeria, dando atenção a um ou outro quadro, sem nos determos por muito tempo à frente de nenhum. Fui encontrando caras conhecidas aqui e ali, que me iam cumprimentando e fazendo as exclamações e perguntas da praxe, «Há quanto tempo…», «O que é feito…», levando-me sempre às mesmas respostas vagas que procurava evitar. Ao fim de um bocado localizámos o par que procurávamos.

Estavam em frente a uma pintura e falavam acerca de algo. Lilith estava de braço dado com ele e atraía, como sempre, todas as atenções em volta, mas em especial as de Ricardo. Este olhava para ela directamente, numa tentativa clara de sedução, e fosse o que fosse que ela lhe dizia, bebia todas as palavras dela. Ela olhava-o directamente com aquele olhar magnético e falava-lhe com um sorriso. Era óbvio que ele estava completamente enfeitiçado por ela.

Via a expressão de Diana, a mulher segura que ela costumava ser, que brincava e seduzia quem queria a seu belo prazer, e que de repente se dava conta da sua própria fragilidade e via à sua frente a confirmação das minhas palavras. Eram notórios a ira e o ciúme nos seus olhos. Ela podia não dar grande importância ao Ricardo, mas dava-se a si própria. Sentia-se despeitada, traída. Era transparente nela, tanto como o era a maneira como tentava manter a compostura.

Pela primeira vez apercebi-me da fragilidade dela. Ela, que sempre tinha sido tão grande, era afinal tão oca que uma pequena coisa podia fazê-la ruir por dentro e dei comigo a pensar como foi possível dar-lhe tanta importância por tanto tempo.

Lilith murmurou qualquer coisa ao ouvido de Ricardo, como se houvesse entre os dois uma cumplicidade de há muito. Diana não se conteve e chegou-se a eles.

– Então… – disse com um tom irónico na voz –, divertidos?

– Sim – afirmou Lilith –, o Ricardo é uma excelente companhia e um verdadeiro cavalheiro.

– Eu sei – disse Diana. – É por isso que gosto tanto dele.

– É melhor que o trate bem – e dizendo isto, olhou bem nos olhos de Ricardo, avisando: – Pode sempre aparecer alguém que o queira roubar…

Ricardo mordeu o lábio. Eu ri-me por dentro. Os olhos de Diana inflamaram de ódio.

– Não se preocupe – continuou Lilith –, não seria eu a fazê-lo de certeza. – Foi visível a desilusão nos olhos de Ricardo. Ela largou-o e dirigiu-se a Diana – Sabe, se eu quisesse alguém sem ser o Miguel – pôs-lhe a mão na cintura, acima da anca –, preferia, sem dúvida – puxou-a suavemente para si, e Diana deixou-se ir, completamente incapaz de parar, ou resistir – … uma mulher… – os corpos delas colaram-se, Ricardo estava de boca aberta, toda a galeria ficou em suspenso como tinha ficado a discoteca, todos os olhos postos nelas, Diana suspendeu a respiração – como tu.

Os lábios das duas tocaram-se tão ao de leve que quase não deu para ninguém se aperceber do beijo. Rolaram algumas lágrimas dos olhos de Diana, fazendo linhas na sua maquilhagem carregada. Lilith largou-a.

– Como tu não – disse. – Talvez uma mulher com mais vida. Com mais mundo. Talvez alguém que valesse a pena e não fosse tão absolutamente oco e movido por interesses pessoais. Talvez uma mulher que tivesse um fundo bom.

As lágrimas corriam pela cara de Diana enquanto ouvia isto. Lilith voltou-se para mim.

– Querido, já conversaste tudo com ela?

– Sim, linda. Acho que já dissemos tudo um ao outro.

– Então, deixemo-los.

Abraçou-se a mim e afastámo-nos deles. Seguimos como se nada se tivesse passado. Ricardo ficou onde estava, atónito com o que presenciara, espantado talvez pela maneira como tinha sido ignorado. Diana, ao fim de alguns instantes de imobilidade, saiu apressadamente da sala, fazendo questão de não olhar para ninguém. Aos poucos o ambiente voltou ao normal e as atenções sobre nós esbateram-se.

– Foste cruel – disse eu a Lilith.

– Fui mulher.

Ri-me. Era óbvio o que dizia. Sim, tinha sido sobretudo mulher.

– Por momentos pensei que levavas o Ricardo contigo e lho roubavas.

– Sabes – disse ela –, isso não teria grande significado. Não lhe roubaria algo que já não é dela de qualquer maneira.

– Como assim?

– Para o Ricardo ela era apenas uma boa queca, uma conquista fácil, mas que, quando ele estivesse cansado seria facilmente substituível. Estaria com ela enquanto ele quisesse o que ela tinha para dar e não aparecesse outra qualquer mais apelativa. Para ela o Ricardo era apenas um meio para um fim, não significava nada.

– Concordo contigo, aliás, disse-lho antes de irmos ter convosco.

– Pois. Mas sabes, dizes que eu fui cruel, mas se calhar nem tanto. De certa forma posso até ter sido piedosa.

– Porquê?

– Porque agora ela tem tudo na mão. Acho que se apercebeu de muita coisa hoje, mas sobretudo apercebeu-se que tem de mudar. E se ela o fizer, então fui piedosa. Se ela teimar em seguir o caminho que tem seguido até aqui, então fui cruel para ela. Mas não para o resto do mundo.

A verdade das palavras dela era clara. Inegável, mesmo.

– Sabias que a Diana estaria aqui hoje?

– Ora, Miguel, achas que sim?

– Não há acasos, pois não? Quer dizer, contigo não há acasos.

Ela sorriu.

– Quem sabe, Miguel. Mas uma coisa eu sei.

– O quê?

– Estás diferente. Por dentro estás diferente. Estás mais parecido com quem foste.

– E que sabes tu de quem eu fui?

– Eu sei muita coisa, Miguel.

Não duvidei e achei melhor não perguntar mais. Podia não estar ainda preparado para as respostas.



1 comentário:

O QUÊ?!?!? ESCREVE MAIS ALTO QUEU NÂO T'OUVI BEM!