quinta-feira, 14 de abril de 2016

Necrofagismo Macrobiotoco Existencialismo (Nmismo para abreviar)

Hoje em dia apenas alguns, muito poucos, o sabem.
O que é normal. Aliás, apenas muito poucos sabem porque no fundo é algo que não interessava a ninguém. Os poucos que ainda sabem são membros de sociedades secretas que se dedicam a especular acerca dos segredos que as antigas sociedades secretas guardavam, apenas porque sim ou porque têm demasiado tempo livre durante a hora do almoço. Não que lhes interessasse especialmente.

Mas conta-se que numa terra distante, para lá das águas, onde o céu é recortado por montanhas, onde as praias têm a areia mais branca e as águas mais cristalinas, onde o alvorecer parece derramar pingos de luz por sobre as gotas de orvalho que se espalham nas folhas verdes, de um verde muito verde, das plantas, ervas, arbustos e árvores, onde há fontes de hidromel, onde o cheiro da terra enche as narinas do mais incauto após uma chuvada, onde os animais são dóceis, à excepção dos gatos, e carinhosos, à excepção dos gatos, onde as cores eram tão cintilantes que o azul era mesmo triste, o encarnado dava uma sensação absolutamente sensual e o amarelo era simplesmente amarelo, três sábios tiveram um dia uma epifania enquanto bebiam o produto da fermentação da cevada a partir de pequenos recipientes de sílica fundida e contemplavam com espanto e admiração não só a profundidade do Universo patente  por cima das suas cabeças sob forma de abobada luminosa de estrelas, mas também a admirável profundidade da condição e da alma humana, tendo a partir dela (da epifania) criado o Necrofagismo Macrobiotico Existencialismo!

O Necrofagismo Macrobiotico Existencialismo era, como o próprio nome indica, uma corrente existencialista que promovia a alimentação saudável a partir de fontes comprovadamente mortas! Um Necrofagistamacrobioticóexistencialista, ou Nmista, para abreviar, não podia consumir nada que não estivesse comprovadamente morto. Não chegava achar que estava mais-ou-menos morto, ou morto assim-assim, tinha de o estar comprovadamente. Foi talvez por isso que a filosofia Necrofagistamacrobioticóexistêncialista não se propagou mais, uma vez que a preparação de uma refeição era um processo laborioso, dispendioso e, no fundo, incrivelmente chato!
Imaginemos por um momento que um Nmista estaria inclinado para comer ervilhas com ovos escalfados.
Não poderia comer os ovos, visto que havia todo um potencial num ovo cru de se vir a tornar uma galinha ou até, quem sabe, um galo.
Depois, se quisesse juntar umas rodelas de chouriço teria de pedir um certificado no talho que comprovava que o porco de onde o chouriço proviera estava realmente morto e não tinha sido apenas amputado.
Por fim, havia que pegar nas ervilhas, uma a uma, e executar três testes:

-O teste do espelho: Um espelho era colocado por cima da ervilha durante algum tempo para se verificar se a ervilha ainda respirava. Caso o espelho não embaciasse, passava-se à fase seguinte

-O Electrocardiograma: Era feito um electrocardiograma à ervilha para comprovar que não havia quaisquer batimentos cardíacos. Caso esta condição se verificasse podia-se avançar para a terceira e ultima fase

-O Electroencefalograma: A fase final que comprovava que a ervilha estaria cerebralmente morta, podendo assim ser consumida

Isto tinha de ser feito ervilha a ervilha. Como podem constatar, além de moroso (ainda hoje em dia é famosa a história de Zeferino de Arronches, um dos principais entusiastas do Nmismo, que, depois de estar desaparecido durante meses após ter convidado alguns amigos para um jantar, coisa que os amigos atribuíram a uma forretice ímpar, veio a ser descoberto morto por inanição com um espelho na mão junto a um electrocardiografo e a um electroencefalografo ainda ligados – aparentemente faleceu durante o processo de teste dos bagos de arroz que ia usar para fazer um arroz de marisco), e dispendioso, por causa da maquinaria que tinha de ser utilizada (quando o Nmismo se tornou popular várias marcas de electrocardiografos e electroencefalografos celebraram efusivamente, isto para além dos fabricantes de pequenos espelhos), era uma seca!


7 comentários:

  1. Eu prefiro comer coisas vivas.... mulheres são meu prato principal.
    Rindo muito aqui!!!

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  2. "Saved by the bell" sabias que antigamente deixavam uma campainha dentro dos caixões para o caso de a pessoa nao estar mesmo morta e se fosse o caso, tocava a campainha e iam desenterra-la? Pois é eheheh às tantas não havia espelhos nem electrocardiogramas.. :))

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  3. PDR,

    Compreendo-te, mas chamo à atenção de o facto de os tais sábios terem tido a epifania enquanto bebiam o produto da fermentação da cevada a partir de recipientes de sílica derretida...

    :)

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  4. Gaja Maria,

    Nem era dentro, era cá fora. Atavam era um cordel ao dedo grande do pé do suposto defunto.
    Isso acontecia porque o pessoal gostava de comer sopa de tomate em pratos de chumbo...
    ...entretanto quando a ASAE foi criada baniu os pratos de chumbo e o pessoal passou a comer a sopa de tomate sem o receio de ficar num estado de morte aparente e as campainhas nos cemitérios foram banidas porque assustavam os casais de namorados que saltavam os muros para se entreterem actividades lúdicas em relativo sossego...
    Os electrocardiografos e electroencefalografos foram inventados propositadamente por causa desta corrente existencialista e passaram séculos até ocorrer a alguém que podiam ser usadas em pessoas para verificar condições de saúde...

    :)

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  5. O que significa a bola preta?
    Quando se fala em coisas secretas fujo a sete pés.
    Sorry

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  6. Observador,

    Absolutamente nada! É só porque sim!

    Quanto a esta coisa secreta, podes estar descansado, porque não é secreta porque alguém tivesse a intenção de ficar escondida, mas simplesmente porque toda a gente se esqueceu dela uma vez que não interessava a ninguém...

    :)

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  7. PDR,

    Adenda: assim de repente fizeste-me lembrar aquela história em que dois canibais estão sentados numa esplanada e passa uma tipa muito bonita mas sem um braço e volta-se um para o outro:
    -Tas a ver aquela gaja? Tenho andado a comê-la...

    :)

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O QUÊ?!?!? ESCREVE MAIS ALTO QUEU NÂO T'OUVI BEM!