quarta-feira, 3 de abril de 2024

Conscientização - XXXII

 Andreia saiu do enorme quarto que César lhe destinara para a sala onde ele a esperava, com um vestido preto, clássico, mas com alguns toques invulgares. O vestido, de Nuno Baltazar, parecia feito de uma única peça de pano que a envolvia dos pés ao pescoço, sendo que tinha a manga direita mas descia depois num corte enviesado deixando o ombro e o braço esquerdo a descoberto, havendo uma tira de pano que o cintava e ajustava à silhueta com uma espécie de fivela comprida trabalhada em metal dourado com pedras de lápis-lazúli num motivo vagamente egípcio e que fazia a parte de baixo do vestido cair como cortinas que se abriam levemente a cada passo. Completava o conjunto um par de luvas compridas de pelica que acabavam ligeiramente acima do cotovelo e uns sapatos pretos, da casa Sergio Rossi, modelo Cachet. A aprovação patente no olhar de César fê-la perceber que tinha feito a escolha perfeita.

- Sente-se. – Ordenou César secamente, convidando-a para se sentar à sua frente e aguardou que ela o fizesse antes de ele próprio se sentar.

- Andreia, reconsiderei. Não creio que seja boa ideia vir e como tal, que seja boa ideia irmos.

Ela olhou-o com uma expressão interrogativa.

- Não tem nada a ver consigo… Lembra-se da primeira vez que fomos ver a Céu? – Ela assentiu – Pois aquilo que viu lá não foi absolutamente nada por comparação com o que poderá ver hoje.

- Ainda assim achou por bem ir…

- Sim. Mas como pode ver, estou a reconsiderar.

- E porquê ir?

- Porque vai lá estar alguém que pode decidir um negócio de alguns milhões e que tem estado completamente parado até agora. Por outro lado, não posso ir sozinho, uma vez que é um evento exclusivamente para casais. Acho que era essa a jogada de Julia.

- Posso perguntar quem ela é? César sorriu.

- Apenas uma antiga parceira de negócios com quem acabei por me envolver, por motivos que me parecem óbvios…

- Ela parecia um anjo!

- Acredite que ela é tudo menos isso. Aliás, se o diabo fosse uma mulher, seria a personificação perfeita, creia! De qualquer forma, voltando a hoje, claro que quero desbloquear o negócio, mas tenho algum receio por si.

- César, de algum tempo para cá tenho percebido muita coisa. Não precisa de me proteger. Vamos e fechamos o negócio, se isso for possível.

César olhou para ela, com um ar preocupado durante uns segundo, tentando decidir o que fazer. Depois, pegou numa máscara veneziana que tinha junto a si e deu-lha.

- Vamos então.

Levantou-se, deu-lhe a mão para a ajudar a levantar e saíram. Já iam no carro quando Andreia perguntou:

- É perto?

- Depende do que considera perto. Para um americano é. Mais ou menos hora e meia. Eu não vou acelerar, por isso relaxe. Ainda bem que escolhi este carro.

- É assim tão importante?

- Para os americanos os carros são tudo. Eles passam horas da vida deles dentro dos carros. Um fora de série nunca passa despercebido.

- Fora de série?

- Sim, só vai haver vinte iguais no mundo inteiro.

- Quanto é que custa uma coisa destas?

- Perto de três milhões de dólares. Andreia engoliu em seco.

- Não é dinheiro a mais para dar por um carro?

- Andreia, a maior parte dos carros, mesmo os Mercedes que compramos em Portugal, perdem valor assim que saem do stand. O SLS pode vir a ser um carro valioso daqui a umas décadas, mas não é certo. Este carro, provavelmente, vai valer o dobro ou o triplo daqui a dez anos. É dos melhores investimentos que se pode fazer. Além disso, ainda se tem o gozo de conduzir uma das máquinas mais perfeitas produzidas até hoje e um dos poucos carros que passam a barreira dos quatrocentos quilómetros por hora. Tem de admitir que é mais divertido do que ter o dinheiro investido.

- E se tiver um acidente com ele?

- E se eu morrer amanhã? Não podemos passar a vida com medo, Andreia. O que tiver de acontecer acontecerá, independentemente da minha vontade, por isso…

Andreia percebeu, calou-se e recostou-se no luxuoso conforto que a rodeava.


 

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