Um casamento moderno - XII

 

Foi uma noite completamente em claro para ele! Ela estava embriagada, mas aquilo que ela fez tinha feito um corte profundo! Não lhe apetecia sequer olhar para ela. Passou a noite a escrever código e agora, de manhã, estava arrasado!

Deu por ela se levantar e preparar-se. Não sabia como encará-la! Não sabia sequer se a queria ver. Levantou-se e, pela primeira vez, trancou a porta do escritório! Definitivamente não queria vê-la.

Ela tentou abrir a porta, para se despedir dele, mas deu com ela trancada, para sua enorme surpresa. Tinha noção de que tinha feito algo muito mau na noite anterior, mas não se conseguia lembrar bem. Parecia apenas ter recortes na sua memória, mas, depois de dar com a porta trancada, fez um esforço enorme para se lembrar. Já estava atrasada quando apanhou um táxi para a levar ao emprego. Enquanto ia no táxi, foi conseguindo colar e relembrar o final da noite de ontem! E depois, embora não se lembrasse de tudo com nitidez, começou a perceber o que tinha feito!

-Oh, meu Deus! – Exclamou! Sentiu-se, de repente, a criatura mais baixa da criação! Assim que chegou ao trabalho trancou-se na casa de banho para retocar a maquilhagem toda manchada e esborratada pelas lagrimas que chorou até lá chegar! O medo que tinha de ter acabado com o casamento sobrepunha-se a tudo! Quase nem ligou ao seu amante, que estranhou a sua atitude.

Quando chegou a casa, ao fim da tarde, encontrou-o a dormir no sofá, em frente à televisão!

Sentou-se ao lado dele e aguardou. Ele finalmente acordou e deu pela sua presença. O ódio que viu nos olhos dele deixou-a em pânico, mesmo antes de dizer fosse o que fosse!

-Quero pedir-te perdão!

Ele nem lhe respondeu.

-Eu sei que aquilo que fiz é imperdoável. Nem sei bem o que fiz, tenho só uma ideia, mas sei que foi mau!

-Foi! Mas ao menos foste completamente aberta!

-Não sei o que me deu…

-Álcool! In vino veritás, não é verdade?

-Marcelo, diz-me que me perdoas! Diz-me o que preciso fazer para apagar isto…

-Não precisas de fazer nada! O que está feito, está feito!

-Eu amo-te!

-Eu sei! - Respondeu ele, mas desta vez com uma amargura inescapável na voz.

Ele levantou-se, foi para a cozinha e depois foi para o escritório e ela não voltou a vê-lo nesse dia. À noite a sua cama estava vazia e aquele abraço onde ela se aconchegava não estava lá.

Nem esteve daí em diante. Ele começou a trabalhar durante as noites e só ia dormir depois de ela sair. A comunicação entre os dois resumia-se a coisas do dia-a-dia. Fora isso, simplesmente não falavam. Se ela entrava numa divisão da casa, ele fazia os possíveis por se ausentar!