Um casamento moderno - VII

 

No dia seguinte, assim que Clara entrou em casa dirigiu-se ao escritório do marido e anunciou simplesmente:

-Hoje vou sair outra vez!

Ele olhou para ela e simplesmente respondeu!

-OK. Eu também, mas aquilo que combinamos das mensagens vale na mesma, para os dois.

Ela não estava à espera daquilo! Sentiu o seu coração falhar uma batida e afundar-se um pouco no seu peito. Mas agarrou os seus sentimentos a tempo.

-Tudo bem. Estamos combinados! – Respondeu com um sorriso forçado!

Ele ia sair? Mas já teria alguém? Mas também, tinham um acordo. Ela não ia perguntar! Mas ficou com a curiosidade e a dúvida a corroê-la, enquanto escolhia as roupas para a saída dessa noite. Entretanto tomou o seu banho, vestiu-se, sentiu-se incrivelmente sexy e o foco dos seus pensamentos mudou para o seu amante. Arrumou as suas dúvidas e uma ponta de ciúmes num canto da sua mente, que neste momento só se queria focar no prazer que iria sentir daí a algumas horas.

Depois de estar pronta, resolveu ver a reacção do marido à sua indumentária. Entrou no escritório.

-Já vou indo!

Ele olhou-a. Caramba! Estava irresistível! Como nunca a vira em vinte anos de casamento. Mas fez os possíveis por não deixar aquilo que sentia traí-lo.

-Não te esqueças das mensagens.

Ela esperava mais alguma reacção dele. O facto de não a ter voltou a tirar da caixa a dúvida que lhe aparecera há pouco. Mas relevou esses pensamentos.

-Não esqueço. Até logo!

-Até logo.

Ela foi até ele, para lhe dar um beijo de despedida, coisa que se apercebia que já não fazia desde que tiveram a conversa, abraçou-o, ele recebeu-a nos braços sem hesitação, mas virou-lhe a cara, deixando o beijo dela estalar na sua bochecha. Ela ficou sentida e os diabinhos dentro de si elevaram a voz.

Mas, resoluta, largou-o e saiu.

Ele foi jantar e estava quase a acabar quando chegou a mensagem dela, “Está tudo bem”!

Respondeu o “OK” do costume, agarrou na guitarra e carregou-a no carro, bem como o amplificador, e saiu.

Parou numa bomba de gasolina onde comprou cinco garrafas de litro de cerveja, de modo a cumprir a sua obrigação de Rookie, meteu a morada no GPS e daí a pouco chegava ao destino, uma rua de garagens nos arredores da cidade, quase num descampado. Enviou a mensagem a dizer que estava tudo bem e recebeu a resposta quase em seguida. Depois entrou na garagem com a guitarra numa mão e o saco com as cervejas na outra e o Lucas fez-lhe de imediato uma festa!

-Pessoal, este é o novo guitarrista! Está um bocado perro, mas isto numas semanas vai lá!

O restante pessoal foi apresentado. Era tudo malta da sua faixa etária e isto era claramente um passatempo sem pretensões.

Tocou, bebeu, fumou e divertiu-se como há muito não acontecia. Perto da meia-noite, quando acabou o ensaio, verificou o telemóvel. Ainda não havia nenhuma mensagem dela. Enviou a dele anunciando que estava a voltar para casa e não teve resposta, a não ser quando já estava quase a chegar a casa.

Entretanto, já depois de tomar um banho, recebeu a mensagem dela. Daí a pouco estaria em casa.

Ainda estava a pé, quando ela chegou e podia ver o sorriso de satisfação que ela tinha no rosto. Deitou-se enquanto ela tomava banho e secava o cabelo, deitando-se ela como sempre aninhada a si.

-Correu tudo bem? – Perguntou, só por perguntar.

-Sim! - Respondeu ela. Queria fazer a mesma pergunta, mas a verdade é que uma parte de si queria recusar-se a saber. De alguma forma a resposta metia-lhe medo. – Boa noite! – Acabou por dizer simplesmente.

-Boa noite. - Respondeu ele.