sexta-feira, 7 de maio de 2021

Um casamento Moderno - X

 (Hoje ficam mais dois capítulos, para compensar o Fim-de-Semana - este é o primeiro)


Tomás ainda ia ficar dois dias com eles, depois do Natal. Regressaram a casa e Tomás estranhava a nítida excitação da mãe, que parecia aumentar com a proximidade a casa.

Nessa noite ela deu uma desculpa que tinha um jantar com um cliente de trabalho e saiu.

Tomás e o pai ficaram sozinhos, foram falando de tudo e mais alguma coisa e acabaram por se deitar relativamente cedo!

Tomás não conseguia parar de pensar no comportamento da mãe a na atitude do pai! Havia algo de extremamente estranho em tudo aquilo. A sua mãe parecia a ter um caso e o seu pai obviamente sabia!

Estava perdido nestes pensamentos quando deu pelo pai andar pela casa. Levantou-se e seguiu-o até ao quintal das traseiras. Ficou a observá-lo um pouco e percebeu que estava a fumar, coisa que nunca o tinha visto a fazer na vida. E pelo aroma que vinha no fumo, não era só tabaco.

-Eu sei que estás aí. Escusas de estar a espreitar!

Apanhado!

Avançou e foi ter com o pai.

-Posso perguntar-te o que é isso?

-Erva. – Respondeu o pai, passando-lhe o cigarro. Ele ficou sem saber o que dizer ou fazer!

-Agarra lá nisso, pá. E escusas de fazer esse ar, sei bem que não és propriamente virgem no assunto…

Tomás agarrou no cigarro, deu uma passa longa.

-Xiça! – Disse enquanto expirava – esta é da boa…

-É trazida da Holanda!

-Nunca pensei que fumasses…

-Bem em mais de doze anos não fumei! Mas de há uns meses para cá, volta e meia, fumo!

Ficaram os dois em silêncio por algum tempo. Tomás achava toda a dinâmica da sua família extremamente alterada desde a sua ultima visita. Queria e achava ter o direito a saber porquê. Esta era a sua casa, afinal! Mas não sabia o que perguntar! Mas acabou por atirar:

-Passa-se algum problema entre ti e a mãe?

O pai olhou-o, como se avaliasse o que devia fazer.

-Não te preocupes filho. Está tudo bem! São só tempos esquisitos e com muito stress do trabalho, quer meu, quer da tua mãe. Mais nada!

-Deve ser mesmo um stress bastante grande! Para voltares a fumar disto ao fim de tantos anos…

-Acredita! Não tem sido fácil! Mas sabes, todas as tempestades passam, por piores que sejam. Esta também há-de passar.

Tomás percebeu que havia muito que o pai não lhe dizia, e não sabia porquê. Talvez para tentar protege-lo… Ou a si próprio… Mas achava mais que era mesmo para proteger a mãe! Mas percebeu que algo de, pelo menos, muito chato se passava!

Abraçou o pai e não forçou mais conversa. Sabia que se o tentasse o pai o enrolaria e ele ficaria a saber o mesmo. Limitou-se a dar-lhe um abraço apertado, que ele sabia que diria mais ao pai do que quaisquer palavras no mundo.

Continuaram a fumar e a falar de trivialidades. Tomás fez questão de não voltar a tocar no assunto.


4 comentários:

  1. Uma conversa de surdo mudos, às vezes é um bom remédio. :-)

    Bom fim de semana, sô Gil

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  2. As acções costumam dizer mais que as palavras...

    Bom FDS D. Noname

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  3. Continuo a ler com gosto.
    Abraço, saúde e bom fim de semana

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O QUÊ?!?!? ESCREVE MAIS ALTO QUEU NÂO T'OUVI BEM!