quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Só se pode dizer mal daquilo que se conhece!

Aqui há uns meses, não muito tempo atrás, trocava mensagens via “faicebuque” com alguém que faz a programação de música ao vivo de um bar, no intuito de marcarmos um concerto, quando ele me pergunta que estilo de música é que a minha banda toca.
Respondi que tocávamos uma espécie de Blues musculado, já a tender bastante para o Hard Rock, o que o deixou entusiasmado, perguntando-me a seguir que reportório é que costumávamos tocar.
Respondi-lhe que tocávamos originais. Ele ficou desiludido!
Respondeu-me logo em seguida que bandas de originais apenas eram contratadas se fossem fazer a primeira parte das bandas de covers que actuavam lá!
Comentei com ele que não deixava de achar estranho.
Ele, provavelmente pensando que o estava a criticar, desculpou-se, comentando comigo que o pessoal não queria ir ver bandas de originais, não havia mercado para isso…
Eu sosseguei-o logo em seguida, dizendo que compreendia perfeitamente. Uma casa tem de fazer a sua programação de acordo com aquilo que os seus clientes querem. Não é uma instituição não lucrativa. Existe para ter lucro ou fecha as portas e esta é a realidade das coisas!
Claro que compreendo este desejo de sair à noite e ir para um bar ver um bando de gajos a tocar musicas de outros, bater palminhas, bater o pezinho, cantar em coro com as músicas todas…
Durante anos toquei em bandas de covers e são, sem dúvida, a única escola possível em Portugal para músicos que se queiram fazer…
…a grande diferença entre a altura em que eu tocava e hoje em dia é que há 15, 20 anos atrás era comum uma banda receber entre 300 e 350 “aérios” por noite. Hoje em dia é uma sorte quando chega aos duzentos e a coisa tem de ser bem regateada, sendo que a maior parte dos bares oferece entre 100 e 150 a uma banda, independentemente do seu número de elementos. Isto significa, na prática, que algumas das bandas pagam para tocar!
Eu saí deste mercado quando os pagamentos começaram a decair. Deixou de ser rentável, simplesmente porque cada vez que saio de casa para tocar tenho as despesas de deslocação (gasóleo, seguros e manutenção do carro não são coisas baratas), As guitarras (que também não são coisas baratas a não ser que o pessoal pense que pode tocar com aquelas de 60€ que se compram nos hipermercados, as cordas para as guitarras (levo sempre mais que uma), um amplificador que custou 1600€, pedais de efeitos, cabos, colunas de monição de som, microfones, e, sobretudo trinta anos de experiência e aprendizagem contínua! Ora, sair de casa a meio da tarde, montar o palco, fazer ensaio de som, ir jantar, apanhar uma seca brutal até à hora de tocar, tocar duas horas de músicas de que por vezes nem gosto muito(mas que são o que o pessoal quer ouvir e são quase sempre as mesmas), arrumar tudo e chegar a casa quando o sol já nasceu para, tirando as despesas, ter mais 20€ no bolso não me parece bom negócio. Até porque basta haver uma avaria ou um dano em qualquer do material que levo para não chegarem 10 concertos para pagar a reparação!
Claro que me dou a este trabalho pelas minhas músicas, mas estas fui eu que compuz e se eu não as divulgar, ninguém o fará por mim, portanto considero isso um investimento, mas pelas músicas de outros?
Durante 6 ou 7 anos toquei o “it´s my life” dos Bon Jovi cerca de 2 vezes por semana e nem gostava da música! Hoje, cada vez que passa na rádio mudo de estação ou desligo! E isto é só um exemplo!
Por outro lado, não deixa de ser curioso o facto de que em sítios como Londres há imensos sítios que têm musica ao vivo…
…mas quase não há bandas de covers! O circuito de originais é imenso e andam lá bandas a tocar de que nunca ouvimos nem ouviremos falar, mas aquelas de que ouvimos começam ali! São julgadas em directo, pelo público, e se o público gosta, elas crescem, ganham estatuto, contractos, tournées mundiais, vêm cá nos festivais de verão que estão à pinha de pessoal que paga bem caro os bilhetes e cheios de bandas estrangeiras das quais apenas uma minoria ouviu falar e depois têm bandas em Portugal a tocar as musicas deles nos bares! Ora se eles nunca tivessem tocado, ninguém faria covers deles em lado nenhum!
Não deixa de haver uma certa ironia nisto!
Creio que um povo que se despreza a si próprio não pode esperar que os outro o respeitem…
…e olhando para o panorama internacional, temos o respeito que merecemos!

Ou, como dizia a um amigo meu nos transportes há uns dias, entre olhares reprovadores e semi-culpados de quem nos rodeava, enquanto falava desta temática:

-Somos um país espectacular, cheio de pessoas com uma mentalidade parola e da treta!

2 comentários:

  1. Somos um povo de brandos costumes e de hábitos enraizados. E com uma mente fechada também ...
    Gosto de covers mas confesso que gosto muito de ouvir músicas originais e temos músicos muito bons. É pena não se poder viver da música neste país à beira mar.:)

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    Respostas
    1. Sabes, o problema está em que as pessoas não se dão ao trabalho de ir à descoberta. Nem é a questão de ouvir os originais de gente consagrada, é ir ver uma banda que ninguém conhece e nunca se ouviu e tirar conclusões depois de os ver...
      O pessoal vai ver os originais quando já sabe as musicas para cantar junto...
      ...o problema é que, uma vez que este é um jogo tão viciado como qualquer outro em Portugal, só se ouve aquilo que nos deixam ouvir...
      ...tal como só se lê aquilo que nos deixam ler!
      O resultado é que não emerge qualidade da quantidade, como aconteceria num país civilizado! Normalmente, emerge a mediocridade, estando centenas ou milhares de projectos com qualidade sem hipótese de chegar aos ouvidos de ninguém!
      Somos um país de cunhas! Não somos um país de oportunidades!

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O QUÊ?!?!? ESCREVE MAIS ALTO QUEU NÂO T'OUVI BEM!