sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Ainda acerca…


…do assunto do post anterior, posso contar outra situação interessante.
Durante bastante tempo fiz atendimento ao público no sítio onde trabalho. Entretanto, fui sendo retirado desse tipo de funções para outras igualmente necessárias, mas que não envolviam contacto directo com o público, para desgosto de muitos dos clientes habituais que já se tinham habituado ao facto de eu ser rápido e não fazer favores ou aturar “merdinhas” de ninguém, fosse quem fosse.
Ainda assim, volta e meia, quando aparecia alguma bota difícil de descalçar era habito mandarem o caso para mim e eu atendia.
Naquele dia, igual a todos os outros dias, estava eu entretido a lidar com um fluxograma de procedimentos que ocupava uma parede inteira quando o telefone toca. Era a secretária da directora lá do sítio!
-Olhe, a Srª Directora vai mandar uma pessoa para baixo, para ser atendida, mas quer que seja você a atender.
Estranhei! Não porque quisessem que eu atendesse alguém, mas por ser preciso tal cerimonial para isso, o que levou à pergunta:
-Mas há algum problema?
-Não, nenhum. Só que a Srª Directora acha melhor a pessoa ser atendida por si.
Cheirou-me a esturro!
-Mas aqui só para nós, o que é que se passa?
E foi então que a secretária se desbroncou, confidenciando-me a situação em sussurros ao telefone.
-É porque é um travesti e tá a imaginar o que é que acontece se ela ou ele ou sei lá o quê é aquilo for ai fora falar com os seus colegas?
Claro que estava e até me estava a rir por dentro, mas a verdade é que seria extremamente desagradável para ele/ela/whatever!
-Ok. Não há problema – e lá fiquei a aguardar que a criatura chegasse.
Entretanto, saio um pouco deste relato para dar algum “background” ao que se passou a seguir.
Trabalhava comigo, na altura, um dos outros raríssimos espécimes do género masculino que por aqui andam. O rapaz, mais novo um ano do que eu, o que quer dizer que naquela altura já eramos ambos os dois bem trintões, era solteiro, tal como eu era, vagamente bom rapaz, ou pelo menos bem melhor do que eu, que não era flor que se cheirasse, passava a vida a babar-se cada vez que via uma miúda gira mas…
…era virgem (e tanto quanto eu sei continua a ser… Se alguém se quiser oferecer para acabar com a miséria do rapaz, pode entrar em contacto comigo que eu dou o contacto dele – MAS ATENÇÃO: aquilo já está acumulado há tanto tempo que não ejaculará espermatozóides mas sim espermatossaurios)!
Houve uma altura em que uma colega nossa, uma boa moça, e ponho em evidência a palavra boa, lhe saltou para cima dentro de um cinema e lhe arrefinfou um xoxo, o que fez com que ele, literalmente, fugisse da sala de cinema, deixando-a estupefacta!
Desde esse dia comecei a dizer-lhe que, cá para mim, ele devia era ser gay e não se assumia. E ele costumava brincar com as bocas que eu lhe mandava chegando-se ao pé de mim e armando-se em bichona (que eu saiba não o é, mas… Não punha as minhas mãos no fogo)!
Mas voltemos à história!
Estava eu à espera da criatura quando o segurança me bate à porta da sala e escolta a criatura para a secretária à frente da minha, aproveitando para lhe tirar todas as medidas possíveis, coisa que, diga-se, não tivesse eu sido avisado que a criatura era do género masculino e teria feito exactamente o mesmo.
Aquilo aparentava ser um portento de mulher. Salto alto, meia preta de rede, vestido curto, justo, que lhe realçava a silhueta e o busto com um decote impressionante, pele cuidada de um tom moreno quase luminoso, cabelo comprido, preto-aza-de-corvo pelo fundo das costas, rosto delicado, maquilhado sem excessos, uma pose e maneiras marcadamente femininas, mas sem exageros…
…os dois únicos pormenores visíveis que não batiam certo ali (e era porque eu estava avisado, senão…) era a maçã de adão e as mãos, muito grandes para serem mãos de mulher!
Ora, tendo eu uma filosofia de vida que tem apenas dois pontos,…

-Os outros podem ser, estar ou fazer o que quiserem desde que não me chateiem
-Não me interessa se és preto, branco, azul, amarelo, tatuado, tens piercings, és gay, porque se me tratares bem eu trato-te bem e se me tratares mal eu trato-te mal

…e não tendo a criatura feito algo diferente de ser extremamente educado e cortês, estava tudo a correr muito bem.
Eis pois que entra o virgem lá do sítio, para me vir cumprimentar, e quase lhe saltaram os olhos das orbitas ao ver o magnifico pernão que estava traçado e em exibição na cadeira à minha frente e que estava agarrado a todo um conjunto aparentemente inspirador! Não querendo perder a ocasião de me envergonhar, olha para mim com um ar sacana, arma-se com a pose mais “bicha” que consegue improvisar no momento e sai-se com um:
-Ai meu querido, que saudades, dá-me cá um beijinho… - e vem direito a mim de beiças estendidas, sob o olhar atento e intrigado da criatura, ao que eu retorqui de imediato:
-Puto, hoje não estou para brincadeiras.
Mas ele não se ficaria só por isto e insiste:
-Vá lá, não sejas tímido, dá-me cá um beijinho… - tendo a minha resposta a isto sido nem mais nem menos que uma sápa na nuca que até o fez levantar os pés do chão e posto isto, saiu dali amuado e a resmungar sozinho.
Quando ele finalmente saiu olho para a criatura e esta olhava para mim de sobrolho levantado e sorriso sacana. Só pensei de mim para comigo: -MAAAAAUUUU! Mas tu num queres lá bere?
Pedi desculpa à criatura pela interrupção e acabei de a atender, despachando-a pela porta fora o mais rápido possível, não fosse haver para ali algum equívoco.
Entretanto, uma hora depois vem o amuado de volta:
-Porra pá, ainda me doi o pescoço da sápa que me deste!
-Não ouviste à primeira…
-Pois, tinhas aí a boazona…
-Pá, aquilo era um gajo!
-O QUÊ?!
-Aquilo era um gajo e tu a pores-te com paneleirices da treta!
O rapaz ficou absolutamente lívido! Mas eu aproveitei e acrescentei logo:
-Se quiseres arranjo-te o telefone dele. Ficou na ficha…

…e ele não quis…

4 comentários:


  1. A vida é feita de oportunidades... e só as apanha quem quer... ou quem pode!! ;)

    Beijinhos oportunos
    (e não confundir oportunos com oportunistas)
    (^^)

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    Respostas
    1. ...ou quem quer!
      Eu, no caso, não queria e ele pelos vistos também não...

      (mas aqui para nós, não sei se ele não terá ido vasculhar a ficha depois... LOOOOOOOOOOOOL)

      :)

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