quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Há muito, muito, mas mesmo muito tempo atrás, tanto que as pessoas ainda eram educadas umas com as outras e ainda acreditavam que se poderia fazer alguma coisa deste país, li um livro invulgar!
Invulgar porque, em primeiro lugar, li-o com catorze anos e, como qualquer livro invulgar numa idade destas, abriu-me horizontes nunca antes pensados.
Invulgar também quer pela história que está no livro, quer pela história da escrita do livro.
Quem o escreveu foi um senhor americano, ultra-conservador, chamado Robert Heinlein!
Ora, este senhor ultra-conservador, vá-se lá saber como, escreveu o livro que se viria a tornar na bíblia do movimento Hippie e acabou por ter de pôr uma vedação electrificada à volta da casa para não ser importunado pelos “vagabundos” que lhe vinham prestar homenagem!
Não vou entrar aqui na história do livro, nem coisa que se pareça, mas há um momento do livro em que o personagem principal, numa tentativa de perceber as religiões, lê todos os livros e textos sagrados que consegue encontrar, medita profundamente (“groca”) o significado de todos eles e chega por fim a uma conclusão:
-Tu és Deus!
Dito assim, parece uma coisa fácil de assimilar, mas na verdade não é!
Nessas passagens do livro ele dá o exemplo de que a Deus não passa desapercebido o facto de um pardal cair de uma árvore. E não pode passar porque o pardal é Deus, bem como o gato que o caça. Se a matriz do universo é divina, então todos nós somos divinos por inerência. Não temos de fazer nada para o ser… Simplesmente somos!
O problema é que, de alguma maneira, perdemos contacto com a nossa divindade, perdemos a empatia com o divino quando demos uma entidade externa a Deus!
Os busquímanos  do Kalahari, quando estão prestes a matar um animal para se alimentarem, falam com ele e explicam-lhe porque têm de o matar. Pedem desculpa por ter de o fazer. Criam uma empatia com o animal. Respeitam-no, porque lhe devem respeito!
Nós perdemos o respeito pelo que nos rodeia. Perdemos o respeito por nós próprios e não nos reconhecemos!
Isto tudo vem a propósito do excerto da entrevista que por aqui coloquei ontem, de uma médica que pôs o dedo na ferida ao afirmar que a medicina tradicional é, nem mais nem menos, que uma máfia refém dos grandes grupos económicos, que não existe para curar as pessoas, mas sim para amenizar os sintomas e, se possível, manter as pessoas agarradas às drogas legais por uma vida inteira!
Não tenho o menor problema em acreditar nisto! A industria farmacêutica não trabalha sem fins lucrativos! Sendo frio em absoluto, não é difícil perceber que é mais lucrativo ter uma pessoa uma vida inteira a consumir medicamentos do que curá-la!
Mas ela diz outra coisa muito importante: O instrumento que é usado para nos controlar é o medo. Queremos instintivamente segurança e quando aparece alguém que nos promete essa segurança, tendemos a seguir esse alguém. Mas, na verdade, a segurança não existe, portanto uma promessa de segurança é apenas uma falácia! O medo e o desejo de segurança são usados para nos manter ordeiramente quietos e calados, usados para aceitarmos atrocidades que de outra maneira seriam inconcebíveis…
…e nós continuamos por aqui, alheios à nossa capacidade de escolha, alheios à nossa divindade, o que nos faz estar permanentemente incompletos e numa procura incessante de algo que não sabemos o que é, na esperança que a próxima casa, o próximo carro, o próximo iphone nos tragam algo que não existe, a atafulhar as nossas vidas com coisas que não precisamos e de olhos tapados para o que realmente importa!
Nós somos divinos! A escolha de Deus é a que nós fazemos a cada dia, a cada hora!
Não existe bem nem mal! Apenas diferenças de perspectiva…

Se calhar é hora de respeitarmos a divindade, respeitando-nos.
Se calhar é hora de amarmos a Deus, amando-nos.


Não precisamos de quem nos ame se nos amarmos a nós próprios. E se o fizermos, teremos amor de sobra para distribuir à nossa volta…

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