Há muito, muito, mas mesmo muito tempo atrás, tanto que as
pessoas ainda eram educadas umas com as outras e ainda acreditavam que se
poderia fazer alguma coisa deste país, li um livro invulgar!
Invulgar porque, em primeiro lugar, li-o com catorze anos e,
como qualquer livro invulgar numa idade destas, abriu-me horizontes nunca antes
pensados.
Invulgar também quer pela história que está no livro, quer
pela história da escrita do livro.
Quem o escreveu foi um senhor americano, ultra-conservador,
chamado Robert Heinlein!
Ora, este senhor ultra-conservador, vá-se lá saber como,
escreveu o livro que se viria a tornar na bíblia do movimento Hippie e acabou
por ter de pôr uma vedação electrificada à volta da casa para não ser
importunado pelos “vagabundos” que lhe vinham prestar homenagem!
Não vou entrar aqui na história do livro, nem coisa que se
pareça, mas há um momento do livro em que o personagem principal, numa
tentativa de perceber as religiões, lê todos os livros e textos sagrados que
consegue encontrar, medita profundamente (“groca”) o significado de todos eles
e chega por fim a uma conclusão:
-Tu és Deus!
Dito assim, parece uma coisa fácil de assimilar, mas na
verdade não é!
Nessas passagens do livro ele dá o exemplo de que a Deus não
passa desapercebido o facto de um pardal cair de uma árvore. E não pode passar
porque o pardal é Deus, bem como o gato que o caça. Se a matriz do universo é
divina, então todos nós somos divinos por inerência. Não temos de fazer nada
para o ser… Simplesmente somos!
O problema é que, de alguma maneira, perdemos contacto com a
nossa divindade, perdemos a empatia com o divino quando demos uma entidade
externa a Deus!
Os busquímanos do
Kalahari, quando estão prestes a matar um animal para se alimentarem, falam com
ele e explicam-lhe porque têm de o matar. Pedem desculpa por ter de o fazer.
Criam uma empatia com o animal. Respeitam-no, porque lhe devem respeito!
Nós perdemos o respeito pelo que nos rodeia. Perdemos o
respeito por nós próprios e não nos reconhecemos!
Isto tudo vem a propósito do excerto da entrevista que por
aqui coloquei ontem, de uma médica que pôs o dedo na ferida ao afirmar que a
medicina tradicional é, nem mais nem menos, que uma máfia refém dos grandes
grupos económicos, que não existe para curar as pessoas, mas sim para amenizar
os sintomas e, se possível, manter as pessoas agarradas às drogas legais por
uma vida inteira!
Não tenho o menor problema em acreditar nisto! A industria farmacêutica
não trabalha sem fins lucrativos! Sendo frio em absoluto, não é difícil perceber
que é mais lucrativo ter uma pessoa uma vida inteira a consumir medicamentos do
que curá-la!
Mas ela diz outra coisa muito importante: O instrumento que
é usado para nos controlar é o medo. Queremos instintivamente segurança e
quando aparece alguém que nos promete essa segurança, tendemos a seguir esse
alguém. Mas, na verdade, a segurança não existe, portanto uma promessa de
segurança é apenas uma falácia! O medo e o desejo de segurança são usados para
nos manter ordeiramente quietos e calados, usados para aceitarmos atrocidades
que de outra maneira seriam inconcebíveis…
…e nós continuamos por aqui, alheios à nossa capacidade de
escolha, alheios à nossa divindade, o que nos faz estar permanentemente
incompletos e numa procura incessante de algo que não sabemos o que é, na
esperança que a próxima casa, o próximo carro, o próximo iphone nos tragam algo
que não existe, a atafulhar as nossas vidas com coisas que não precisamos e de
olhos tapados para o que realmente importa!
Nós somos divinos! A escolha de Deus é a que nós fazemos a
cada dia, a cada hora!
Não existe bem nem mal! Apenas diferenças de perspectiva…
Se calhar é hora de respeitarmos a divindade,
respeitando-nos.
Se calhar é hora de amarmos a Deus, amando-nos.
Não precisamos de quem nos ame se nos amarmos a nós próprios.
E se o fizermos, teremos amor de sobra para distribuir à nossa volta…
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