sexta-feira, 6 de maio de 2016

As baterias de Bagdad

Naqueles dias, após anos de viagens pelos quatro cantos do mundo Nmista, da cidade de Polo à cidade de Stix, do deserto de Shamar até aos longínquos reinos para lá do mar de Atlen, Matatturru, filho de Maturro o grande rei da Lupolândia e um dos dois últimos Nmistas Racionalistas Cientologistas, chegou finalmente ao reino bárbaro de Pingates, de que era rei Temulentius, o Ébrio, onde se tinha refugiado o seu velho mestre, o outro Nmista Racionalista Cientologista, Uruk, o pequeno!

O mestre, modesto como sempre fora, vivia num pequenino palácio de três pisos construído em mármore rosa, com as paredes interiores e exteriores finamente trabalhadas em baixo relevo com padrões e motivos Nmistas, todo mobilado com modestos moveis esculpidos em madeiras exóticas trazidas das mais longínquas florestas tropicais. O palácio tinha ainda um modesto jardim de seis hectares com fauna e flora de diferentes regiões e um enorme labirinto de sebes que representava para os Necrofagistas Macrobiótico Existencialistas Racionalistas Cientologistas a procura pelo conhecimento supremo, a busca pelo eletrocardiógrafo e o eletroencefalógrafo que encerravam em si a promessa do cumprimento pleno dos preceitos Nmistas! Além dos jardins, as terras da propriedade espalhavam-se até onde a vista alcançava, com luxuriantes searas de cevada e campos de tremoceiros. Era como um reduto Nmista em plenas terras Bárbaras.

Uruk, o Pequeno, recebeu Matatturru, filho de Maturru, com o peito cheio de orgulho, os olhos carregados de emoção e os braços amplamente abertos num enorme abraço.
-Matatturru, filho de Maturru, os meus olhos exultam ao comtemplar-te após todos estes anos. Trazes marcado na tua fronte o conhecimento de anos de viagens e nos teus olhos a sabedoria de um Nmista que sabe o seu lugar no mundo. Além disso ainda estás com bom ar e um bocadito mais gordito, o que te assenta bem, porque ereis um pau-de-virar-tripas!
Matatturru prostrou-se à sua frente em sinal de respeito e respondeu:
-Velho mestre, eis-me aqui depois de ter percorrido o mundo desde os desertos de Shamar e das torres de Ashtram até à cidade de Polo, espalhando a vossa sabedoria, feliz por vos ver mais uma vez antes de assumir o meu lugar como rei da Lupulândia e com grandes novidades.

Entraram na casa e Uruk, o Pequeno, fez de imediato sinal aos seus criados para que trouxessem algo frugal para comerem, tendo os mesmos trazido de imediato picanha de gado bovino criado junto às intrigantes florestas virgens de Amaz pelos bárbaros vermelhos que se auto-denominavam de Andinos, feijão preto e farinha de mandioca trazidos dos distantes reinos selvagens de Arabutã e tubérculos, de Solanum, fatiados e fritos em óleo, todos eles reinos para lá do grandioso mar de Atlen e todas as iguarias comprovadamente mortas.

Repastaram-se em silêncio, cumprindo os preceitos Nmistas e, finda a refeição, Uruk o Pequeno perguntou finalmente:
-Então que novidades trazeis, amado discípulo, Matatturru, filho de Matturru.
-Melhor do que relatar, mostrar-vos-ei! – E pediu a um dos criados que lhe trouxesse uma caixa que tinha ainda guardada na carroça em que viajava.
Quando o criado voltou, abriu rapidamente a caixa e mostrou o conteúdo ao seu mestre.
Uruk, o Pequeno, não ficou impressionado. A caixa apenas continha cerca de sessenta pequenas baterias de Bagdad encaixadas numa larga tabua num padrão geométrico alternado que fazia lembrar um favo de uma colmeia. A única coisa pouco normal era o facto de entre elas haver pequenos pedaços de cobre de uma forma pouco usual, estando sempre o tubo de cobre ligado ao cilindro de ferro da bateria seguinte, saído da última um longo fio do metal que ia acabar a milímetros do primeiro fio. No fundo aquilo apenas parecia uma salgalhada.

Reparando que o mestre não estava impressionado, Matatturru sorriu e pediu ao criado sumo de limão suficiente para encher todas as baterias. Depois de uma quantidade absurda de limões e duas horas depois e criado voltou e Matatturro encheu cuidadosamente as baterias. Uruk mantinha-se num silêncio expectante, não fazendo ideia de onde aquilo ia chegar.

Depois Matatturru pediu ao criado que tocasse nas duas pontas de cobre que percorriam as baterias. O criado olhou algo receoso para Uruk, o Pequeno, e, tendo este feito um subtil sinal, avançou e tocou em ambas as duas pontas ao mesmo tempo. De imediato uma convulsão percorreu todo o seu corpo e caiu no chão desacordado.

Uruk, o Pequeno, viu aquilo e ficou espantado, tentando racionalizar o que tinha visto sem encontrar qualquer explicação. Mas o que viu a seguir foi ainda mais assombroso.
Matatturru deixou cair, ao de leve, um pequeno pedaço de ferro por cima dos dois pedaços de cobre e, de imediato, após umas quantas e fascinantes faíscas parecidas com pequenos raios da trovoada, o ferro ganhou a coloração avermelhada que tem quando aquecido, irradiando luz e calor.
Uruk, o Pequeno, deixou a boca cair aberta, estupefacto com o que presenciava.

Matatturru sorria.

6 comentários:

  1. Vejo o nome de Bagdad e fico em transe, só naquela de pensar que os camaradas e amigos dos iraquianos inventaram que havia por lá armamento sei lá o quê.
    Vem a história e pergunto eu: por que motivo "Matatturru sorria"?
    :)

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    Respostas
    1. Isso vais descobrir na segunda parte da história...

      É verdade! As armas de destruição massiva que afinal não estavam lá...

      Por acaso não me lembro de ver o GWB Jr a responder por crimes de guerra apesar de ter invadido uma nação soberana sob falsos pretextos...
      ...mas a minha memória já não é o que era, e se calhar estou confundido...

      :)

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    2. As nossas memórias são como o algodão, não enganam.
      GWB, o Júnior, deveria ir a tribunal. E ser severamente punido pelo que fez.

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    3. Achas?
      ...lá agora!

      Isso, mal comparado, era como pôr em tribunal os políticos que passam por cargos executivos e que tomam decisões comprovadamente ruinosas para o país...

      Impensável!

      :)

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O QUÊ?!?!? ESCREVE MAIS ALTO QUEU NÂO T'OUVI BEM!