quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

RIP

Há coisas na vida que nos põem a pensar.
O recente falecimento de uma pessoa que, embora não tivéssemos contacto próximo já há algum tempo, não deixava de ser uma pessoa sempre presente, deu-me muito em que pensar.
Era uma rapariga pouco mais nova que eu e que sofreu bastante, com três reincidências de um cancro que teimosamente não a quis deixar ficar por cá.
Era uma amiga e visita de casa. Era um espírito livre e rebelde, por mais que à primeira vista não o parecesse. Era, sem dúvida, uma das melhores pessoas que já conheci, opinião partilhada por quase todos os que tiveram contacto com ela. Não quis flores no seu funeral. Preferiu que amigos e família trouxessem cartões feitos pelos próprios (nada cá de mariquices compradas) com algo de engraçado. Dizia que não queria ver ninguém triste no seu funeral.
Mas era impossível não o ficar e não pensar um pouco no quanto o mundo é injusto para algumas pessoas. No entanto, apesar do sofrimento por que passou, tinha sempre um sorriso e uma palavra de carinho para os que a rodeavam e isso talvez seja o exemplo maior da sua profunda humanidade.

Há um livro, de Poul Anderson, chamado “O Avatar”. Para quem não sabe muito bem o que é um Avatar fora do contexto dos perfis das redes sociais e antes que vão “googlar”, é uma encarnação humana de um ser divino. Neste livro duas personagens completamente opostas estão em cena. Uma fria e racional, técnica, que presa o conhecimento. A outra uma artista livre e descomprometida com o mundo, uma rebelde saltimbanca que anda se sítio para sítio tocando as pessoas com a sua arte.
Estas duas personagens acabam por se encontrar entre a diminuta tripulação de uma nave que tem de fugir do sistema solar e ir em busca de uma raça desconhecida chamada de “Os Outros”, saltando através de pórticos que foram deixados à humanidade e são a única prova de que esta raça existe ou existiu no universo.
Quando finalmente os encontram, ao fim de muitas peripécias é-lhes anunciado que apenas um deles, o Avatar que está no meio deles, poderá ir ao seu encontro e, enquanto a mulher da técnica e racionalidade se prepara para se encontrar com eles chega o anuncio de que o Avatar é, afinal, a outra que ela tanto desconsidera e despreza!

A minha amiga não era pessoa de ter o mesmo tipo de atitudes da personagem da história (embora algumas conversas que tivemos sugerissem alguns laivos…), mas era, tal como a personagem, profundamente humana, de uma simplicidade absoluta e completamente anti-convencional.

Heliana Vilela, quero que saibas, onde quer que estejas, que um dia, quando eu crescer, quero ser exactamente como tu!
Vais deixar saudades, mas não te preocupes, que a tua memória apenas me faz esboçar um sorriso…
…e enquanto houver memória de ti, estarás viva.

Obrigado por me teres tocado. A minha vida é mais rica por tua causa.

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