quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

A propósito de uma resposta a um comentário da Afrodite...

A propósito de uma resposta a um comentário da Afrodite no post anterior ao post anterior, lembrei-me de uma pequena história que me aconteceu há uns anos…

…há dias em que um gajo, quando acorda, jamais terá a noção do quanto vão ficar maus, mesmo maus, ainda que nada o fizesse prever!
Este foi um daqueles que começou insuspeitamente e acabou extraordinariamente mal!

Estava para as bandas de Leiria, em casa de um amigo meu que por lá viveu uns anos e que, naquela altura, tinha arranjado uma namorada por quem estava mesmo pelo beicinho. Tendo ele um romantismo parecido com o meu, ou seja, sendo ele tão romântico como um calhau, mas estando ele iludido o suficiente para pensar o contrário, logo pela manhã fui arrastado por umas quantas pastelarias, acabando num hipermercado da zona, para comprar pasteis de Tentúgal, porque aparentemente a namorada gostava e ela ia nesse dia para Viseu, de onde era originária pra passar o Fim de Semana (só estudava em Leiria).
Conheci-a ao almoço, quando me foi apresentada a mim e à minha melhor metade, demos uma voltinha e, à hora de a levar ao terminal para ela apanhar a camionete, demos conta de que não íamos para o terminal. O rapaz, já com saudades dela, resolveu fazer-se à estrada e levá-la a Viseu!
E lá fomos, aproveitamos e fomos parando pelo caminho e tirando fotos a alguns sítios deslumbrantes e estava a ser um passeio porreiro.
Chegamos a Viseu ao final da tarde, a rapariga lá se despediu dele e arrancamos de volta.
Uma vez que já não era cedo, o gajo sugeriu que poderíamos jantar noma terreola qualquer ali por perto, onde havia um bom restaurante que tinha um bar anexo onde havia um café concerto que era gratuito para quem tivesse jantado, havendo consumo mínimo para quem entrasse pelo lado do bar.
Parecia uma boa ideia…
…a comida era excelente, o vinho também…
…era mesmo uma boa ideia!
E acabamos de jantar, sendo-nos dito que poderíamos beber o café no bar, se assim o entendêssemos, para onde fomos logo em seguida, estando o espectáculo para começar e a sala já muito composta. Conseguimos lugar ao balcão e pedi de imediato a minha dose de cafeina…
…e foi aqui que a coisa começou a descambar!
-Desculpe mas neste momento já não servimos café.
-Perdão?
-O espectáculo está para começar e o barulho da máquina interfere, pelo que não servimos café enquanto o espectáculo decorre…
-Isso não derrota um bocado o propósito de isto se chamar um café concerto?
-Pois, olhe, são as regras da casa…
-Interessante! Bem, vou beber um café aí a outro lado e já volto.
-Pois, mas se sair não vai poder voltar.
-Ora, pago a entrada…
-Não é isso. As portas estão fechadas para não haver perturbações ao espectáculo.
-Deixe-me ver se eu percebi: Estou num café concerto onde não posso beber café e se sair não posso voltar a entrar! Têm a sua lógica, sim senhor! – e com isto voltei-me para o gajo e para a minha melhor metade – Vamos embora que não quero estar aqui.
-Eh páh, lá estás tu com as tuas merdices. Deixa-te disso, qual é a tua, men… - começou o meu amigo, sendo corroborado pela minha cara metade.
-Pá, então dá-me as chaves do carro que eu espero lá por vocês (nota mental: nunca mais fazer viagens destas à pendura)
-Mas se vais ela não se vai sentir bem aqui sozinha e quer ver o espectáculo…
E estávamos nisto quando as luzes se apagaram, e entra um tipo em cima do palco, agradecendo a presença do público e fazendo um pequeno dicurso acerca da necessidade de levar a cultura portuguesa mesmo até ao interior do país e mais não sei o quê…
…e depois, agarra numa viola clássica e começa a tocar bossa nova!
Estar contrariado num sítio, sem café e a levar com bossa nova…
…foi das mais indizíveis e injustificadas torturas a que já fui submetido, tendo passado o tempo todo a contar mentalmente para conseguir controlar o facto de sentir em mim uma fúria devastadora. A minha face estava quente, o meu pulso acelerado.
Ao longo de hora e meia as pequenas rábulas de teatro de cinco a dez minutos cada uma eram intervaladas com momentos músicas. De todos esses momentos apenas num foi tocada uma música Portuguesa, de Fernando Tordo. O resto, adivinhem o que foi?
Pois claro, foi Bossa Nova! A cultura Portuguesa por ali estava mesmo em altas…
…sobretudo a cultura músical!
Quando o espectáculo acabou o empregado, solicito depois de me ver retorcer-me e praguejar mentalmente durante hora e meia, isto para além do ar furioso que eu devia ter, veio de imediato ter comigo e disse:
-Se quiser já posso tirar um café…
Ao que eu respondi calmamente:
-Agora pode enfiá-lo onde o sol não brilha, que graças aos céus acabou e posso finalmente sair daqui!
No caminho de volta fiquei mudo e calado e, apesar do constante palrar do outro gajo acerca do quanto a minha vincada personalidade não se dá bem com coisas que não combinam com ela, não ouvi nada do que ele disse. Fiz questão de não ouvir e continuar a contar mentalmente, senão ainda explodia de vez.
Acho que as minhas únicas palavras foram, ao aproximar-mo-nos de uma área de serviço:
-Importas-te de parar aqui?
E finalmente consegui o meu café e o meu espírito começou, a custo, a serenar!

…mas o trauma da experiência ficou, marcado indelevelmente na minha memória! Lição a tirar: Não ir a cafés concerto em terras perto de Viseu!

(estava a escrever isto e até me estava a arrepiar enquanto relembrava a experiência…)

5 comentários:


  1. Tens mesmo mau feitio! True story!
    (^^)

    Mas quanto à bossa nova, gosto bastante... e olha que as influências de Vinícius de Morais e Tom Jobim na música brasileira e não só, são indiscutíveis. Não é à toa que existem n versões da famosa «Garota de Ipanema», quer cantadas na língua de Camões quer noutras línguas.

    Nota: já reparaste como é irónico que o único momento da noite que salvou, musicalmente, a cultura portugues, foi o tal tema do Fernando Tordo... e precisamente ele se tenha mudado para a terra do Bossa Nova!?
    Dá que pensar!

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  2. Considero a bossa nova um estilo musical riquíssimo, complexo, muito bem feito na maior parte das vezes, com grandes canções e grandes letras...
    ...mas apesar de lhe reconhecer as virtudes e qualidades, não gosto.

    Quanto à ironia, é uma coisa que raramente me escapa...
    ...aliás, uma das coisas que mais me diverte são as pequenas ironias do dia-a-dia...

    (mas já deves ter reparado nisso LOL)

    :)

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  3. Ah!, e quanto ao mau feitio...

    ...yá! Pau que nasce torto...

    LOL

    :)

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  4. Tinhas saltado para o palco e tocavas tu!

    Beijos. :)

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  5. Maria Eu,

    Impossível.
    Não me deram café.

    (no cofee, no clown!)

    :)

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O QUÊ?!?!? ESCREVE MAIS ALTO QUEU NÂO T'OUVI BEM!