quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

Consequências (XXXII de XLIII)



Chegaram à cidade de origem de Alex na sexta-feira antes do casamento ao final da tarde. A longa viagem deixara-os exaustos, mas não o suficiente para não partilharem uma noite preenchida.

No sábado andaram às voltas pela cidade, com Alex a fazer questão de mostrar todos os locais de interesse a Paola. Ao fim da tarde voltaram ao hotel, vestiram-se a rigor, estando Paola deslumbrante naquele mesmo vestido que usara na primeira vez que estiveram juntos e saíram para ir jantar. 

“Esse vestido trás recordações…” observou Alex no caminho.

“Achei que seria bonito. Usei-o na minha primeira noite contigo, e uso-o na última.”

Alex sorriu e deu-lhe um beijo terno e Paola aninhou-se ainda mais nos seus braços naquele banco de trás do táxi que os levava ao destino.

Paola fez questão de ir ao melhor restaurante da cidade e acabaram no mesmo restaurante onde ele tinha estado com Marie naquela fatídica noite.

Foi aqui que Alex descobriu que o francês de Paola era perfeito.

“A minha avó era francesa…” explicou ela com um sorriso.

Estavam já a comer e conversavam animadamente quando a expressão de Paola, que estava de frente para a entrada, mudou.

“Que foi?” Perguntou Alex intrigado.

“Podes não acreditar no que eu te vou dizer, eu nunca tive tendências lésbicas, mas a mulher que está a entrar agora convertia-me.”

Alex, intrigado, tentou olhar discretamente e reparou no casal que entrava no restaurante. Fez um ar algo frustrado.

“Que foi?” Perguntou Paola “Conheces?”

Alex respirou fundo.

“É a Lisa.”

Paola ficou a olhar para aquela mulher perfeita que parecia deslizar no restaurante pelo braço com um homem, com um ar quase intocável.

“Esta é a Lisa?” Tentou confirmar com um ar completamente estupefacto.

Lisa e Fernando seguiam pelo restaurante para a mesa que estava reservada para eles, guiados pelo garçom. Lisa reparou no olhar insistente daquela mulher na sua direcção, quase incomodativo. Parecia extremamente admirada. Olhou de relance para o homem que a acompanhava e que estava de costas, quando passava e parou. Olhou bem para o homem com um ar admiradíssimo, levou as mãos à boca e exclamou:

“Alex!”

Fernando estacou de repente e perguntou a Lisa:

“O Alex?”

Lisa não se conteve.

“O que é que estas aqui a fazer?”

Alex respondeu com um ar meio acabrunhado, meio culpado:

“A jantar…”

Lisa caiu em si, de repente, olhou para a mulher, que ainda olhava para ela embasbacada e apresentou-se:

“Peço desculpa. O meu nome é Lisa e este é o meu marido, Fernando.”

Foi Alex quem falou.

“Esta é Paola, uma amiga.”

Depois das apresentações, Lisa continuou:

“Desculpem, mas foi mesmo uma surpresa ver o Alex aqui. Vieste para o casamento?”

“Claro. Não me ia perdoar se não viesse.”

“Desculpem a intromissão. Nos vamos seguir para a nossa mesa. Foi um gosto ver-te Alex e um gosto conhecê-la, Paola.

E seguiram. Fernando, que tinha ficado em silêncio, murmurou qualquer coisa a Lisa, que lhe respondeu. Pararam e Fernando voltou atrás.

“Alex, peço desculpa mais uma vez, será que podíamos falar?”

Alex sabia que provavelmente este era um dos problemas que tinha deixado para trás e que teria de resolver.

“Claro que sim. Quando quiser.”

“Que tal se nos juntássemos a vocês? A não ser que seja inconveniente…”

Tendo Alex contado todos os pormenores daquela noite a Paola, com detalhes de requinte, apenas olhou para ela, numa pergunta silenciosa e, tendo ela anuído, respondeu finalmente:

“É um gosto.”

Fernando falou com um garçom e uma mesa foi posta de imediato ao lado, sentando-se Lisa ao lado de Alex e Fernando ao lado de Paola. 

O casal recém-chegado fez o pedido e foi Alex que iniciou a conversa.

“Antes de mais, Lisa, tenho de te pedir desculpa por aquela noite. Não estava em mim e tu não merecias que te tivesse tratado como tratei.”

Lisa apenas sorriu e foi Fernando quem falou.

“Sabes porque é que quis falar contigo?”

Alex olhou para ele sem saber o que viria dali, tentando preparar-se para o que achava que merecia ouvir.

“Porque não sabia se ia voltar a ter oportunidade de te agradecer.”

Alex estava à espera de tudo… Mas não disto.

Foi Lisa quem falou.

“Podemos falar abertamente?”

Todos anuíram.

“Alex, sabes que eu só percebi que tu não fazias ideia do onde estavas metido até ser tarde demais.”

“Sim, eu sei.”

“A Marie sabia que ias ficar fulo, mas nunca pensou que tu simplesmente desaparecesses. Durante a tarde a seguir tentei ligar-lhe, mas quando não consegui, e levando em conta o estado em que eu sabia que estavas, comecei a ficar preocupada que tivesse acontecido algo de catastrófico. Quando cheguei a vossa casa dei com Marie quase catatónica. Pedi ajuda ao Fernando, conseguimos acalmá-la o suficiente para ela nos dizer o que se tinha passado.”

Foi Fernando quem continuou.

“Sabes, elas não faziam genuinamente ideia do porquê da tua reacção ser tão violenta. Isto deu azo a uma conversa que surpreendeu as duas. E um dos resultados dessa conversa é aquilo porque temos de te agradecer. Eu sei que foi o fim do mundo para ti, mas para mim e para a Lisa foi um aprofundar da nossa relação que nunca teria sido possível de outra maneira, se calhar. E vamos estar sempre gratos a ambos por isso.”

Alex olhava para eles, espantado. 

“E queríamos dizer-te isto, pessoalmente, já que não sei se algum dia nos veremos novamente com tempo para uma conversa.”

Alex sorriu finalmente.

“Eu vou ficar por cá. Teríamos tempo. Mas obrigado.”

O resto da refeição, depois de o elefante ser retirado de cima da mesa, correu com boa disposição, com o quarteto a acabar por sair para um bar com música ao vivo onde estiveram e dançaram até ao fim da noite. Lisa e Fernando deixaram Alex a Paola no hotel.

Finalmente aninhados um no outro, Paola cativou o olhar de Alex com aqueles olhos faiscantes e um sorriso que tinha uma ponta de tristeza por trás.

“É a nossa última noite.” Disse ela.

Alex anuiu com tristeza no olhar.

“Hoje… Quero que me ames!” Disse ela com um ar absolutamente sério.

E Alex, tomou-a, mergulhou nela, e ela nele e nessa noite entregaram-se totalmente.


4 comentários:

  1. Muito bem...mais palavras para quê, se não sei o que dizer?!

    Um abraço, Gil.

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    1. Espero que isso seja bom... Deixar alguém sem palavras pode ser bom ou mau... ;)

      Abraço, Janita

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