Marie estava deitada na cama completamente esticada a olhar para o teto. Não podia deixar de pensar que toda esta situação era sua culpa. Como é que uma simples decisão podia ter um alcance e consequências tão fortes, mesmo já longe do tempo em que aconteceu.
Não podia culpar Alex, não podia culpar Paola… Quer dizer, a principio foi o que fez, mas conforme foi refletindo, foi chegando à conclusão que tudo derivava daquela noite. E os estilhaços do que se quebrou iram continuar a pejar as vidas deles.
Ouviu Alex a bater suavemente na porta do quarto e a dizer:
“Marie, o jantar está na mesa. Desces?”
Ergueu-se da cama e respondeu:
“Desço já.”
Ainda nem tinha mudado de roupa e aproveitou para o fazer antes de descer.
Quando chegou à cozinha, sentou-se à mesa que já estava posta e onde Alex a esperava. Ficaram os dois em silêncio, começaram a comer, se bem que ela andava mais a brincar com a comida no prato do que a comer efetivamente. Estava sem apetite. Por fim, falou.
“A culpa disto tudo é toda minha.”
“Não foste tu que foi para a cama com a Paola…” respondeu Alex.
“Mas tu também nunca terias ido, se não fosse por uma decisão estupida e egoísta minha. A Paola não estaria gravida, tu não a terias conhecido sequer, não terias sido ferido, não te terias ido embora, não teria ficado dois anos e meio sem ti. É minha culpa.”
Alex não respondeu.
“Alex, eu disse que faria tudo por ti. Esse filho é teu e vamos criá-lo.”
Alex ficou a olhar para ela durante algum tempo.
“Marie, não quero que queiras criar a criança por mim…”
“Alex,… tudo isto são as consequências da decisão que tomei e das minhas ações naquela noite. E eu tenho feito tudo para aceitar as consequências e fazer o que é certo, sobretudo perante ti.”
“Não quero que aceites esta criança como um castigo pelo que fizeste. Se é esse o teu estado de espirito,…”
“Não, Alex. Essa criança é um pedaço de ti. Vai ser irmão ou irmã dos nossos filhos. E eu vou criá-lo como se tivesse saído das minhas entranhas. Vai ser o nosso filho mas… tenho uma condição!”
“Diz.”
“Nós já não vamos para novos. Claro que a criança vai ter irmãos e família, mas… gostava que a Paola, mesmo à distância, estivesse envolvida na vida da criança. Se um dia algo nos acontecer, a criança terá uma mãe algures no mundo. Achas que a Paola concorda?”
Alex encolheu os ombros.
“Não sei. Mas há uma maneira de saber.”
Agarrou no telefone e fez uma chamada de vídeo para Paola, que atendeu ao fim de uns poucos toques. A imagem dela apareceu ensonada no ecrã.
“Acordei-te?” perguntou Alex.
“Sim, mas não faz mal. Ia ter de acordar daqui a pouco tempo…”
“Olha, queria dizer-te desde já e antes de mais que a minha decisão se mantem. A criança vai ser criada por mim.”
Paola fez um ar preocupado.
“E a Marie?”
“Está aqui ao meu lado,” e virou o telemóvel para que Paola a pudesse ver “e estivemos a falar. A Marie também quer a criança, por isso, e podes acreditar no que te vou dizer, vai ser a melhor mãe do mundo.”
“A avaliar pela Patrícia e pelo Tiago, só posso acreditar em ti.” disse Paola com um enorme sorriso no rosto e lagrimas a caírem.
“Porque é que estás a chorar?” perguntou Marie.
“Não liguem, eu…” e respirou fundo “eu estou simplesmente feliz. Eu não queria matar esta criança, eu…” parou um pouco e depois respirou fundo e continuou “estou tão confusa…”
“Paola,” continuou Marie “é normal que te sintas assim. O teu corpo está-se a ajustar e vais andar num turbilhão de emoções, mas… O que quer que seja que precisares, eu e o Alex vamos estar aqui para ti. Mas queria pedir-te uma coisa.”
“O quê?” perguntou Paola meio receosa.
“Queria pedir-te que, mesmo à distância, estejas presente na vida da criança. Eu e o Alex já não somos novos e eu ia sentir-me melhor se soubesse que, além dos irmãos, se nos acontecer alguma coisa, a criança vai ter apoio.”
Paola ficou um pouco em silêncio, pensando no pedido.
“Sabem, nem tinha pensado nisso, sequer. Mas percebo e sim, claro que sim.”
Falaram mais um pouco, até Paola ter de se preparar para sair para o trabalho. Quando finalmente desligaram, Alex olhava para Marie com uma expressão que Marie não via desde os seus tempos de juventude. Alex agarrou-a, puxou-a para si, deu-lhe um abraço apertado e um beijo que a derreteu e depois só disse:
“Obrigado!”
A remissão dos pecados e pecadilhos pode surgir das mais diversas formas.
ResponderEliminarO destino quis, ou melhor, o autor quis, e eu concordo, ser esta a melhor forma de tudo encaixar nos seus devidos lugares.
A quatro capítulos do fim da história, algo que me diz que neto e filho- de Alex - vão nascer quase, quase na mesma altura. Fico tão contente...por eles, claro! :)
Um abraço, Gil.