Terminavam já a refeição com Lisa e Fernando em sua casa quando Marie se voltou para Fernando com um sorriso e anunciou:
“Fernando, este jantar não foi inocente. Eu não queria fazer isto no trabalho, de maneira mais impessoal.” E entregou-lhe um envelope.
Fernando abriu de imediato e viu que era uma carta de demissão, dando o prazo legal de pré-aviso.
“Mas porquê?” Perguntou Fernando admirado, estando Lisa também intrigada e curiosa. Marie respondeu com um sorriso:
“Sabes, a minha filha está prestes a ter o bebé e eu quero ajudá-la por algum tempo, mesmo no final e ajudá-la a recuperar.”
“Mas não precisas de te demitir.” Respondeu Fernando com pena de perder uma colaboradora que se tinha tornado valiosa “Eu dou-te o tempo de licença que achares necessário. Daqui a uns meses ficas outra vez sem fazer nada.”
Entretanto repararam no ar e no sorriso de Alex ao mesmo tempo que Marie disse:
“Pois, mas depois vou ser mãe e avó ao mesmo tempo e isso complica as coisas.”
Lisa olhou para ela muito séria.
“Marie, estás grávida? Não é arriscado na tua idade?”
“Não.”
Ficaram ainda mais intrigados. Foi Alex quem falou.
“A Paola está gravida e é meu, mas ela não queria a criança, mas aceitou levar a gravidez até ao fim.” E foi Marie quem continuou.
“Quando a Patrícia já estiver bem e orientada vamos ao Dubai ajudar a Paola nos últimos tempos da gravidez e na recuperação e depois vamos trazer a criança.”
Os convidados deram-lhes os parabéns, continuaram a falar, e o tópico de conversa entre Alex e Fernando acabou por mudar para o Mustang de Alex, que foram ambos ver à garagem, com Alex voltando quase logo em seguida para agarrar nas chaves do carro e dizer às mulheres:
“Vamos dar uma voltinha no carro. Vou deixar o Fernando conduzir.”
E logo em seguida o carro saiu da garagem e arrancou, com Fernando ao volante.
Lisa aproveitou a oportunidade.
“Estás bem com isto tudo?”
“Sim, muito bem.”
“Tens a certeza?”
Marie pensou um pouco no que dizer à amiga.
“Sabes, quando o Alex foi ferido eu não sabia com quem desabafar naquele momento, estava desesperada e acabei por escrever uma carta fictícia ao Alex, a qual abri com uma frase: não mereço perdão. Na primeira conversa que tive com ele… Sabes, foi surreal. Ele entrou em casa como se tivesse saído ontem, trazia jantar, comemos, quase não falamos, e depois fomos para a sala e ele devolveu-me as primeiras frases dessa carta. Disse-me para não lhe pedir perdão porque o que eu tinha feito era imperdoável. Só no fim da conversa é que descobri que ele tinha a carta. Eu escrevi-a, mandei as folhas para o lixo, a Patrícia viu, guardou-a por uns meses e usou-a para convencer o pai a vir ao casamento e, provavelmente, sem querer, a dar-me outra oportunidade. Mas na primeira semana em que esteve em casa foi sempre terno comigo, mas nem me deixava tocar-lhe. Ao fim de uma semana aconteceu e foi tudo o que eu imaginava e mais, mas ele sempre me pareceu guardado. E depois aconteceu isto.”
Lisa ouvia isto tudo curiosa, Marie continuou.
“Ele falou-me da Paola, da amizade que tinha com ela feita ao longo de meses de contacto diário na altura em que se sentiu mais vulnerável. A Maneira como ela retribuiu essa amizade, a certeza que ele tinha de eu já ter pedido o divórcio e, segundo ele, coloriram essa amizade das cores todas do arco-íris. Mas só estiveram juntos umas quantas vezes num ou outro fim-de-semana em que o Alex ia ao Dubai. Esta gravidez foi, claramente um acidente. O Alex disse-me que ela lhe deu a novidade antes de perguntar alguma coisa. E disse-lhe que se fosse de outro, teria tratado do assunto, mas sendo de Alex, não faria isso sem perguntar mas que não queria a criança e Alex disse-lhe de imediato que se levasse a gravidez até ao fim, ele criava a criança. E depois veio falar comigo.”
“E o que é que ele disse?”
“Explicou a situação toda. Já estava a imaginá-lo a deixar-me outra vez, mas não. Ele só perguntou se eu queria ser mãe outra vez.”
“E disse-te o que aconteceria se tu recusasses?”
“Não. E eu não perguntei. Eu conheço o Alex. Na cabeça dele esta era a maneira como ele via o problema resolvido da melhor maneira possível, por isso, antes de pensar em alternativas, perguntou-me. E disse-me que não queria que eu aceitasse por alguma noção de obrigação.”
“E tu?”
“Eu, pensei um pouco… Curiosamente a única coisa que Paola me disse, no casamento, foi que se eu magoasse o Alex de novo viria do Dubai e me arrancava o coração do peito. Tu falaste com ela… como é que ela é?”
“Bem, ela é Italiana. É expansiva, tem os pensamentos na cara, fala com as mãos, mas é divertida, tem carisma… Tenho de admitir que o Alex sabe escolher as mulheres dele.” Respondeu Lisa, piscando-lhe o olho “É alguém com quem eu acho que facilmente faria amizade. E acho que tu também. Quando a conheceres, vais perceber melhor.”
“Mas, depois de pensar, e de saber que o Alex nunca permitiria que esta criança desaparecesse, e pensar no que seria criar um irmão ou irmã para o Tiago e a Patrícia, disse-lhe que sim, sem reservas. E sabes que mais? Sabes aquela sensação de que ele estava algo guardado? Desapareceu. E eu estou imensamente feliz com a minha decisão. Posso não ser a mãe biológica, mas sou a mãe escolhida por ele.”
Lisa abraçou-a.
“Estou feliz por ti. Mesmo muito.”
E eu, acompanho as duas amigas nessa felicidade! :))
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