terça-feira, 3 de maio de 2016

As dualidades das Bolas de Berlim - uma perspectiva Nmista

Há muitos, muitos, muitos, mas mesmo muitos, mas tantos que nem se sabe quantos, só se sabe que foram mesmo muitos anos atrás aquele que foi por muitos considerado como o mais genial cozinheiro de sempre, Pomax, o Orbe, inventou algo que maravilhou o mundo inteiro: a Bola!
A Bola era um bolo profundamente Nmista! Era nem mais nem menos que uma bola de massa frita em azeite ou óleo polvilhada com açúcar. A sua simplicidade tão grande e a sua versatilidade tão vasta, podendo ser comida em quase qualquer ocasião, fez com que se tornasse um bolo imensamente popular.
Qualquer Nmista, em qualquer parte do mundo, poderia pedir uma Bola, e sabia exactamente o que lhe seria servido. Embora os sabores variassem ligeiramente de região para região, devido às características da própria farinha, as variações eram diminutas, sendo o bolo o único verdadeiramente uniforme no mundo inteiro.
Pomax, o Orbe, tornou-se um nome de trazer por casa, em boa parte graças à Bola, e os seus pergaminhos de receitas eram vendidos nas feiras e mercados por todo o lado. É dito que Pomax inventou muitas outras coisas, como os Peixinhos-da-horta, os panados e até o gelado frito, tão famoso ainda hoje em dia nos restaurantes de comida chinesa!
A receita da bola colocou no mapa a cidade de Óbesia, junto ao rio Bagos, que até ai era apenas comentada por ter a menor esperança de vida de todo o mundo Nmista, embora nunca ninguém à altura tenha percebido o porquê!
A Bola ganhou tal fama que a receita acabou por passar para os povos bárbaros e selvagens, o que foi uma sorte, pois sobreviveu ao longo de milhares de anos, vindo a reaparecer há alguns seculos atrás na cidade de Berlim. No entanto foi precisamente aqui que começou a dualidade das Bolas de Berlim.
Sendo um bolo Nmista, qualquer adepto poderia entrar numa pastelaria e pedir uma Bola. Toda a gente sabia o que era e a questão estava arrumada. No entanto, os Alemães, descendentes de povos selvagens, receberam a receita já com algumas alterações, como o hábito de rechear as bolas com geleias de frutos vermelhos. Isto só por si não seria significativo, não houvesse um povo, o Luso, que quando teve as Bolas na mão, tratou de alterar ainda mais a receita original. Ora isto, aos radicais causava problemas. Vejamos o exemplo abaixo:

Um Nmista entra numa pastelaria e afirma:
-Eu quero uma Bola.
-Uma bola?
-De Berlim!
-Com creme ou sem creme?

E pronto, para um Nmista Radical levantava-se logo a impossibilidade de responder, visto que para isso teria de pensar! O resultado, normalmente, era saírem das pastelarias com graves conflitos interiores e com fome, o que levou a muitos suicídios inexplicados…
No entanto, este problema não seria intransponível para um Absolutista, que poderia raciocinar um pouco, ou até meditar e responder:

-Com creme.
-De creme de ovo? Creme de pasteleiro? Creme de chocolate? Creme de avelãs? Doce de leite? Doce de maracujá?

E poderia continuar aqui a dar exemplos de recheios, uma lista quase tão extensa quanto a variedade imensa da doçaria Portuguesa. Isto levaria inexoravelmente a uma meditação profunda, para chegar a uma decisão, o que, embora estivesse dentro dos cânones Nmistas, era chato!
Ainda assim, mesmo que o Nmista se sentisse inclinado para tal meditação e respondesse:
-Com creme de ovo. (por exemplo; não afirmo aqui que este recheio seja melhor que todos os outros, embora de facto o seja)
Levaria de imediato com a pergunta:
-Redonda ou comprida?
O que implicaria mais uma decisão e mais alguns momentos de meditação profunda!

Esta dualidade é exemplificativa dos problemas que assaltam o Nmismo nos dias de hoje, razão pela qual há apenas dois Nmistas no mundo, sendo que o Nmista Radical não come bolas de Berlim! Aliás, a própria menção às mesmas fá-lo contorcer-se e fechar-se numa posição fetal enquanto récita repetitiva e continuamente o mandamento único, “Não Pensarás!”.
Já o único Nmista Absolutista ainda vivo, depois de muito meditar nesta problemática, resolveu a questão de uma maneira simples: pede sempre uma Bola de Berlim redonda com creme de ovo…

2 comentários:

  1. Está explicada, e bem, a célebre e tão aguardada revelação da Dualidade das Bolas!

    Meu caro historiador C.N. Gil, deixa-me dizer-te que eu, esta simples, para não dizer simplória criatura, pelo relato aqui exposto, devo ser aquela Nmista que, dos dois exemplares hoje existentes em todo o Planeta, não consome a Bola de Berlim ou de outro país qualquer. Pelo que o problema do recheio ou da bola ser redonda ou quadrada, não chega a ser problema algum.
    Ainda eu, ingrata, digo que não fui bafejada pela sorte!!

    Já dos 'Peixinhos-da-horta' sou grande consumidora.

    Parabéns!!! Demorou, mas valeu a pena!

    :)

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  2. Janita,

    Em primeiro lugar, quando eu digo que só existem dois Nmistas no mundo inteiro, não falo em dois tipos de nmistas, mas falo sim de um conjunto de duas pessoas, espécies unicos sobreviventes das duas correntes Nmistas. Infelizmente um deles é radical, pelo que não pensa, raciocina, medita ou elucubra há anos...
    Em segundo lugar, a Bola de Berlim é usada aqui como mero exemplo apenas e só porque é um bolo de origem Nmista, que os selvagens trataram de adulterar, mudando assim radicalmente a essência simples da coisa.

    Em terceiro, os pexinhos-da-horta, outra receita Nmista de simplicidade quase absurda, são absolutamente espectaculares, desde que consumidos devidamente mortos!

    Em quarto, Obrigado!

    :)

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