quinta-feira, 19 de maio de 2016

Problem solving!

A meio da manhã o telefone toca.
Atendo.
-Sim?
-Bom dia. – reconheci de imediato a voz – Eu tenho um problema…
-Só um?
-Sim. Porquê?
-Porque eu tenho vários.
-Ah! Mas pode-me ajudar ou não?
-Não faço ideia!
-Porquê?
-Porque ainda não me disse qual é o problema!
-Pois… Bem, é que cada vez que abro o programa X aparece-me uma caixa a dizer “Blá blá blá”. Eu passo à frente mas, quando abro o programa novamente a caixa volta a aparecer…
-E no canto inferior esquerdo da caixa não está uma caixinha?
-Está!
-E o que diz lá?
-“Não mostrar este aviso novamente”!
-Clique na caixa.
-Já está!
-Agora feche e abra novamente.
-Fantástico. Já não dá o aviso! Ok, obrigado!
-De nada!
E desligamos.

Há minutos atrás cruzo-me com a pessoa!
-Pá, obrigado. Aquela caixa era mesmo irritante! Ainda por cima mais nenhum dos meus colegas tinham aquele problema…
-Se calhar eles clicaram na caixa quando o aviso apareceu da primeira vez…
Ele ficou a olhar para mim, muito sério e finalmente disse:
-Pois, se calhar…
-É, cá p'ra mim é o mais provável…
E ficámos assim…


Alguns casos interessantes da História Nmista

O reino de Ofídeum estava a braços com um grave problema.
Por todo o lado apareciam serpentes que atacavam indiscriminadamente tudo o que se mexesse.
O problema era tão grave que começou a ganhar contornos de uma epidemia.
Como tal, Viburus, o Bifurcado, rei de Ofídeum, achou boa ideia oferecer recompensas pelas cobras que fossem mortas e entregues.
Ora, a recompensa que era oferecida era muito superior ao custo de criar uma serpente. Os aldeões, através de um raciocínio lógico, aperceberam-se que se criassem serpentes poderiam ter um bom lucro. A consequência foi que um número espantoso de serpentes começou a ser entregue.
Quando Viburus, o Bifurcado, percebeu o que se passava deixou de imediato de oferecer as recompensas.
Os aldeões, por seu turno, ficaram com montanhas de serpentes para as quais não tinham qualquer uso. Como tal, soltaram-nas.
O resultado foi uma epidemia ainda maior de serpentes!



O presidente dos Méricos, Propélius, o Touro, faleceu quando se dirigia à varanda do seu gabinete presidencial para presidir sobre os festejos do dia do peru. Tropeçou no seu vice-presidente e ex-colega de equipa de “Arremesso do Anão”, Nanius, o Entanguido, e caiu da varanda!


Aquando do começo da guerra civil no império Atlénico, um lago entre Faboideae e Messe, numa zona remota, era patrulhado apenas por dois barcos, um de cada nação!
Os comandantes dos barcos eram amigos de longa data e juntavam-se frequentemente para beber produto da fermentação da cevada.
Quando estalou a guerra civil, o capitão do barco de Messe foi informado primeiro que o imperio caía e que as reinos estavam em guerra. Zarpou de imediato, atravessando o lago e abordou o barco do amigo, capturando toda a tripulação. Quando o capitão do barco de Faboideae apareceu, ainda em ceroulas, a perguntar-lhe se ele por acaso se tinha rendido aos costumes dos Selvagens para estar a fazer semelhante coisa, foi informado que estava agora prisioneiro de guerra.
Em seguida ambos os capitães foram beber produto da fermentação da cevada!


Cirurgix, o Cortador, era um médico de guerra que conseguia fazer amputações em tempo record.
Um dia, numa demonstração da sua técnica, ao amputar a perna de um soldado ferido em batalha em pouco mais de 5 segundos, cortou também os dedos do seu assistente.
Aparentemente a operação foi tão chocante que uma das pessoas da assistência teve um ataque e morreu, bem como o paciente e o assistente, vitimas de infecções.
Até hoje é o único médico que conseguiu ter uma taxa de mortalidade de trezentos por cento numa operação!

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Esclarecimento

Algumas pessoas que leram o post anterior a este ficaram estupefactas com a minha imaginação, perguntando-me onde raio fui buscar a ideia de atirar anões para um colchão ou atirá-los para ficarem colados a paredes de velcro. Uma ou outra até me disse que eu não devia bater bem (o que é verdade, mas não é para andar a espalhar por aí sem mais nem menos) e outros acusaram-me de ser um filho-da-mãe insensível e preconceituoso!

Embora haja a possibilidade de eu o ser, não fui eu que tive esta brilhantíssima ideia, como qualquer pessoa que tenha visto "O Leão de Wall Street" poderá confirmar!





Mas o pior é que também não foi o escritor ou guionista que teve a ideia. Alguém a teve, mas não se sabe quem. E há campeonatos disto pelo mundo afora...
...e na Austrália até há movimentos que querem proibir este desporto tão elevado...
...quer dizer, mais ou menos elevado, dependendo da força do arremesso!




Só para ficarmos esclarecidos, não tenho nada contra ninguém, muito menos contra anões, até porque não conheço nenhum!

Tá dito!




O Nmismo e as secas de Sábado à tarde (continuação)

Se é verdade que a modalidade empilha-recipientes-de-sílica-fundida (que mais tarde, para grande alívio dos adeptos recebeu o nome de empilha-canecas para regozijo dos praticantes) era a modalidade mais praticada, levando a que houvesse competições locais, mais tarde regionais e tivesse chegado ao ponto de haver ligas nacionais e mais tarde globais, tendo sido Apinhos de Encastilus talvez o mais famoso praticante, campeão mundial consagrado por sete vezes consecutivas, uma outra modalidade apareceu na cidade de Arrogia que ganhou uma devoção ímpar. De tal forma que, apesar de ser uma modalidade que nasceu nos Templos dos Três Sábios, foram construídas mais tarde arenas inteiras, dedicadas aos Três Sábios, onde não só se podia praticar os rituais mais também assistir a este desporto.

A modalidade tinha o sui generis nome de Arremesso do Anão, que no fundo é auto-explicativo.

Era um desporto de equipa, em que as equipas eram formadas por dois elementos, normalmente um anão e um daqueles tipos que mais pareciam um boi do que um homem. Os anões eram pesados sempre antes de cada prova, porque havia regulamentos em relação ao peso de cada anão para ninguém sair beneficiado.
O outro membro da equipa pegava no anão e tinha de o lançar o mais longe possível para cima de um colchão. Um juiz verificava o local onde o anão tinha batido no colchão e, obviamente, ganhava a equipa em que o anão fosse lançado mais longe.

Se hoje em dia um desporto destes pode ser visto como algo que diminuiria as pessoas que sofrem de nanismo, como preconceituoso ou ofensivo, a verdade é que não faltavam anões a oferecerem-se para este jogo que se tornou tão popular que os praticantes gozavam de um prestígio que transcendia o de alguns Reis. Que o diga Propélius, o Touro, assim chamado porque além do seu tamanho e força descomunais ainda usava em elmo enfeitado com chifres, que, devido à sua enorme popularidade, chegou a presidente dos Méricos, tendo o seu colega de equipa como vice-presidente, Nanius, o Entanguido.

O jogo ganhou ainda um outro impulso pouco tempo depois de Velcrus, o Pega-Monstro, assim chamado porque era um chato do caraças que aparecia em todo o lado sem ser convidado e se fazia de convidado quer o quisessem lá ou não, ter inventado dois tecidos que se agarravam um ao outro com uma firmeza impressionante.
Era feito um enorme alvo com um dos tecidos e um fato para os anões noutro e estes, quando arremessados ficavam colados ao alvo, sendo a pontuação medida pela pontaria ao centro do alvo.
Já tinham feito o mesmo com flechas, mas não tinha a mesma piada…

Grandes campeonatos se espalhavam pelo mundo Nmista e mais além, tendo os Selvagens e os Bárbaros adoptado também este desporto, e foi assim que os Sábados à tarde deixaram de ser uma interminável seca, excepto para os Nmistas Radicais, o que permitiu ao Nmismo Racionalista expandir-se e afirmar-se.

Claro que hoje em dia este tipo de desportos seria impensável…

terça-feira, 17 de maio de 2016

O Nmismo e as secas de Sábado à tarde

Como já foi referido bem lá para trás, uma das coisas que levou a que os Radicais ganhassem um fervor quase religioso em relação ao Necrofagismo Macrobiotico Existencialismo foi o facto de as tardes de Sábado serem incrivelmente chatas! Bebiam, comiam tremoços e ficava-se por aquilo. Alguns ainda tentaram fazer outras coisas, como falar, mas descobriram que aquilo era uma armadilha…
…Afinal, começavam a falar de trivialidades e quando davam por isso estavam a pensar, o que implicava em pesadas penitências! Aliás, as penitências eram de tal forma cruéis e desumanas que acabaram por nunca ser mencionadas nos escritos.

Mas se os radicais se radicalizaram, o resto do mundo não estava disposto a isso.
Foi Vigurax, o Robusto, ilustre filósofo Nmista, quem começou a dar um sentido a esta preocupação crescente, percebendo que a mesma era um perigo para o Nmismo. Se tudo continuasse como estava, muitos dos reinos Nmistas deixariam de o ser, arranjando algo mais interessante para fazer nos Sábados à tarde.
Mas, apesar de se dedicar a filosofar, meditar, discorrer, conjecturar, cogitar, considerar, supor, presumir e calcular uma série de aspectos importantes nesta questão, não foram os seus esforços que resolveram o problema, embora tenham sido fundamentais para se perceber que havia um problema!
Como todos os grandes saltos à frente, tudo aconteceu por acaso, no Templo dos Três Sábios da cidade de Agregos no distante reino de Encastilus, cujo rei, àquela altura, era Empilhus, o Amontoador.

Conta-se que foi aí que um grupo de homens, já bastante aborrecidos numa tarde de sábado qualquer, começaram a fazer apostas acerca de quem conseguiria empilhar mais recipientes de sílica fundida (na altura o nome “caneca” ainda estava longe de vir a ser utilizado) num formato piramidal.
Quando a notícia chegou aos ouvidos de Vigurax, o Robusto, já há muito tempo que ele se debruçava sobre o problema do aborrecimento e percebeu de imediato que a resposta ia por aquele caminho.
Daquele momento em diante passaram a ser encorajadas estas e outras actividades que causassem algum entusiasmo sem que fosse necessário pensar.

O empilhamento de recipientes de sílica fundida passou a ser uma das actividades mais praticadas no mundo Nmista e não teve qualquer competição durante algum tempo até que, sem se saber muito bem como, apareceu em cena aquele que seria o desporto Nmista preferido…

Os Méricos (continuação)


A guerra civil Mérica lá acabou com uma vitória da facção do norte, liderada por Abraão, o Barbudo! Aquilo até podia ter trazido paz à terra, mas não trouxe porque os Méricos eram casmurros como só eles. Mas, numa nota positiva, deixaram de andar à porrada uns aos outros abertamente!

Os Méricos, além de casmurros, não eram brilhantes! Isso só por si, levando em conta quem continuamente povoava a Mérica, não era surpreendente! No entanto eram espertos o suficiente para perceber que não eram brilhantes. Como tal, importavam pessoas brilhantes de outros países e, assim que os apanhavam lá, tornavam-nos Méricos.

Isto levou a que a Mérica se transformasse numa sociedade com alguns distúrbios bipolares! Por um lado havia o grosso da população que não era propriamente brilhante. Eram razoavelmente honestos, pelo menos a maioria, eram trabalhadores esforçados, pelo menos alguns, eram homens e mulheres de fibra, porque não tinham outro remédio, mas não deviam muito à inteligência.
Por outro lado, havia toda uma classe dirigente importada, com algumas pessoas de intelecto superior e que, praticamente sozinhas, fizeram a Mérica avançar e prosperar!

Se as outras nações já despejavam gente na Mérica que era um disparate, quando a Mérica se tornou prospera todos para lá queriam ir. Espalhou-se pelo mundo a ilusão de que a Mérica era uma espécie de terra prometida, que qualquer um que fosse para a Mérica poderia ser bem-sucedido, que a Mérica era a terra dos sonhos e das oportunidades.
Os jovens dos reinos radicais, por exemplo, tentavam de todas as formas cumprir o sonho e ir para a Mérica como sonho supremo de rebeldia.

Mesmo na fronteira sul de Mérica havia um território enorme chamado Agávius, terras dos povos mais selvagens entre todos os povos selvagens. Eram tão selvagens, mas tão selvagens que a bebida que eles faziam, produto da destilação da fermentação do sumo de um cacto chegava a ser tão forte que após um trago era possível ver elefantes voadores cor-de-rosinha a saltar levemente de nenúfar em nenúfar através dos lagos. Era tão potente que, depois de a beber havia quem afirmasse ter visto Deus, embora ninguém se lembrasse nunca de como ele era, excepto pelo facto de ser mesmo, mas mesmo muito grande! Era tão potente que havia quem afirmasse que em bebê-la se poderia chegar à unicidade com o Universo…
…Haver, havia, mas que se saiba nunca ninguém lá chegou mas todos tinham valentes ressacas depois de tentarem. Era tão potente que todos os que a bebiam juravam no dia seguinte que nunca mais beberiam uma gota, marcados pelo arrependimento atroz e que durava, normalmente, até ao fim da tarde, altura em que já se tinham esquecido das promessas da manhã.
O sucesso de Mérica levava a que enormes quantidades de Agavianos tentassem de todas as maneiras possíveis emigrar para lá. Mas com o seu enorme sucesso, com tanta procura, algo que não deixava de ser irónico, visto que foi uma nação fundada por quem não queria para lá ir, Os Méricos começaram a não deixar que lá entrasse toda a gente, mas apenas quem lhes convinha. Mas isso não impedia os Agavianos de tentarem de todas as maneiras possíveis.

Isto começou a ser um problema, sobretudo quando os próprios Méricos começaram a acusar os Agavianos de lhes roubar os trabalhos que eles não se dispunham a fazer de qualquer maneira.
Queria isto dizer que, apesar da evolução de Mérica enquanto nação, os Méricos continuavam a não ser brilhantes! Isto reflectia-se, sobretudo, na sua escolha por governantes. Se durante bastante tempo escolhiam pessoas proeminentes, heróis da nação, generais com provas dadas nos campos de batalha, chegou a uma altura em que escolhiam os governantes mais pela sua figura e popularidade do que por capacidades comprovadas.
E foi assim que um dia chegou à presidência Trumphas, o Descabelado!

Trumphas, o Descabelado, era um estalajadeiro que conseguiu fortuna criando uma rede de estalagens. Depois foi investindo e diversificando, conseguindo sólidas posições na produção se cevada e tremoço o que aumentou o seu pecúlio para níveis quase obscenos. A única coisa que lhe faltava era poder político, e usou de todas as armas que tinha à disposição para ser eleito, sobretudo o medo que os Méricos sentiam de serem invadidos por populações Bárbaras ou Selvagens. Apresentou-se como uma alternativa aos que faziam da política uma carreira e foi eleito porque afirmava que queria uma Mérica diferente! Uma Mérica mais em contacto com o seu povo. Uma Mérica mais voltada para si. Uma Mérica que valorizasse os Méricos!
Uma vez eleito, mandou Fazer um enorme muro a toda a volta de Mérica para impedir que lá entrasse fosse quem fosse! A Mérica era dos Méricos!

O problema que teve foi que, graças à Nascença Nmista, o mundo estava cada vez mais pequeno. As diferenças entre Nmistas e Bárbaros esbatiam-se e, mesmo com os Selvagens, à excepção de uns quantos conflitos que tinham origem sobretudo no negócio do contrabando de tremoços, havia uma paz relativa e uma cada vez maior abertura!
Mas a Mérica fechou-se!
Mais, expulsou todos os que não eram Méricos.

Foi então que a Mérica colapsou. Uma vez que eram maioritariamente os Agavianos que faziam os trabalhos que os Méricos não queriam fazer, uma vez expulsos levaram o seu conhecimento de volta para Agávius enquanto a Mérica se tornou no local mais sujo e nauseabundo do mundo Nmista. Isto levou a que, progressivamente, As terras fossem sendo abandonadas.
Já bem perto do grande cataclismo, os únicos que ainda viviam em Mérica eram os descendentes dos que já lá estavam antes de Mérica ter sido fundada…
…e esses refutavam acerrimamente quando os chamavam de Méricos!

E quanto a Trumphas, o Descabelado? Bem, esse ficou para a história como um exemplo do que a falta de noção pode fazer a uma grande nação!
A história de Mérica foi contada por gerações como o pior exemplo daquilo que uma democracia pode fazer a um grande país, sobretudo se os seus governantes não forem, no mínimo, brilhantes…
…Coisa que, como sabemos, os Méricos não eram!

quinta-feira, 12 de maio de 2016

Os Méricos

Os Méricos eram um povo estranho.

Aliás, não eram bem um povo…
Haviam uma enorme extensão de terras, para lá do mar de Atlen, que eram territórios inexplorados. Como havia povos que tinham algumas pessoas muito chatas, começaram a enfia-las dentro de navios e a mandá-las para lá. Lá chegados reclamaram todo aquele vasto território como sendo seu, o que teria alguma lógica se não houvesse lá ninguém…
…mas o facto é que havia lá gente! Não era muita, é certo, mas já lá estavam e não acharam grande piada à ideia!

A princípio as coisas até correram razoavelmente bem! Mas depois, com os indesejáveis de quase todas as outras nações a serem lá despejados, a coisa começou a não correr tão bem!

Entretanto, resolveram chamar de Mérica aquele vasto território. E após uma longa guerra contra os que já lá estavam, acabaram por enfiá-los em pequenos territórios e chamá-los também de Méricos.
Os Méricos aperceberam-se que ter um território tão grande poderia dar problemas. Assim, dividiram o território noutros mais pequenos, cada um com o seu governo, e estabeleceram um congresso e uma presidência única. Mas o presidente, ao contrário de um imperador, não tinha poderes ilimitados, tinha de fazer as suas ideias serem aprovadas pêlo congresso.

A coisa parecia funcionar.

No sul do país havia enormes plantações de cevada, enquanto o Norte se dedicava mais à plantação de tremoço e aos recipientes de sílica fundida, ou canecas, como eram chamadas em quase todo o lado. Uma vez que os terrenos eram de uma extensão a perder de vista e não havia lá assim tanta gente, sendo que os que já lá estavam não tinham qualquer vontade de fazer algo com os recém-chegados, punha-se o problema da mão-de-obra. Era, pois, urgente recrutar mão-de-obra barata, e foram aos reinos tribais do sul, do outro lado do mar, fazer o recrutamento.
Quando verificaram que os povos tribais do sul não se predispunham, levaram-nos à força e pagavam o trabalho com alojamento, comida e chicotadas! Não é difícil perceber que os povos tribais, que entretanto, como estavam na Mérica se tornaram, automaticamente, Méricos, não andassem muito felizes!

Estávamos nisto quando se deu a Nascença (a Renascença só aconteceria muito mais tarde, e a rádio só mesmo uns milénios depois…) impulsionada por Matatturru, o Iluminado.
O norte de Mérica aderiu de imediato aos ventos progressistas que vinham da Lupolândia e se espalhavam por toda a civilização, excepto nos reinos radicais, mas no sul as ideias não caíram bem. Afinal, prejudicavam as margens de lucro do lucrativo negócio da cevada!

Foi então que o presidente de Mérica à altura, Abraão, o Barbudo, decretou que ninguém era obrigado a trabalhar naquelas condições. A coisa não caiu bem aos proprietários do sul e estalou uma guerra civil.

Ainda assim, continuavam a ser despejados lá indesejados de todo o lado…

terça-feira, 10 de maio de 2016

A Nascença Nmista

Matatturru voltou finalmente à Lupolândia para cumprir o seu destino. O seu pai, de idade já bem avançada, abdicou a favor do filho e retirou-se para uma propriedade afastada onde tencionava viver o resto dos seus dias longe da constante azafama da governação de uma das nações mais ricas do mundo Nmista.

Uma das primeiras decisões tomadas pelo agora rei Matatturru, que recebeu o cognome de “o Iluminado” foi apetrechar todo o palácio de lâmpadas alimentadas por baterias de Bagdad. Deparou-se então com o problema da sazonalidade dos Limões e percebeu que deveria haver outras alternativas.

Não querendo declarar o reino como Cientologista, uma vez que sabia que isso atrairia o antagonismo das outras nações Nmistas que consideravam a corrente Cientologista extinta há décadas, resolveu fazer o impensável e chamou para o seu reino os mais brilhantes pensadores e mestres artífices das nações Bárbaras e Selvagens e estabeleceu a primeira Universidade do mundo.

Foi precisamente nesta Universidade que se investigou mais a fundo os problemas das baterias de Bagdad e se descobriram outros líquidos capazes de substituir o sumo de limão, acabando com o problema da sazonalidade.

Foi assim que, quer o Palácio Real, quer a Universidade, se tornaram os mais luminosos edifícios do mundo, que espantavam todos quantos o viam à distância na noite.

Mas as coisas não ficaram por aqui. Fruto de muito trabalho, muita investigação das mais brilhantes mentes do mundo conhecido, muitas canecas de cerveja, muitas toneladas de tremoços, foram compreendendo as propriedades daquela força a que decidiram chamar electricidade.

Entretanto, Matatturru, o Iluminado, acabou por estabelecer uma aliança com a cidade de Correntia. Pouco depois a Lupolândia e Correntia acabaram por se unir quando Cintilátia, a Resplendorosa, aceitou ser desposada por Matatturru, o Iluminado.
Isto iniciou uma época sem precedentes na história Nmista, com as artes e as ciências a avançar de uma maneira como nunca se tinha visto.

Foi na universidade que um sábio Selvagem, Voltários, descobriu a indução, o que permitiu criar o primeiro gerador não dependente de líquidos, como as baterias. Isto revolucionou tudo.
Em pouco tempo, Fulgoris, capital da Lupolândia e Correntia eram conhecidas como as cidades de luz.

De todo o mundo conhecido, com a excepção dos reinos radicais, Nmistas, Barbaros e Selvagens chegavam à universidade e partiam após alguns anos de volta para os seus reinos o que levou a uma expansão global desta nova tecnologia.

O mundo saia, literalmente, das trevas para a luz…

segunda-feira, 9 de maio de 2016

As baterias de Bagdad (continuação)

-Que estranho fenomeno trazes até mim, Matatturru, filho de Matturru? Como é possível fazer tal coisa?
-Mestre, vós não o sabeis, estais aqui neste modesto exílio há muito tempo, e pouco sabeis do mundo.
-Falas a verdade meu discípulo.
-Deixai-me então contar-vos esta história. Nas minhas deambulações pelo mundo foram muitas as vezes que passei na cidade de Correntia, porque esta se encontra numa encruzilhada de caminhos, como sabeis. No entanto a Correntia de hoje nada tem a ver com a cidade dos tempos antes do vosso exílio.
É uma cidade que se expande, vibrante, pela força do comércio. A Rainha Cintilátia, a Resplendorosa, encoraja o crescimento, é uma grande patrona das artes e tem encorajado novas ideias e a renovação na cidade é espantosa! As praças têm fontes de onde a água jorra de estátuas tão perfeitas que parecem vivas, as ruas são pavimentadas e limpas e largas o suficiente para que quatro carroças possam andar lado a lado. Os mercados estão cheios de iguarias locais e exóticas vindas de todas partes do mundo.

Tive o privilégio de assistir a este crescimento ao longo dos últimos anos, por lá ter passado tantas vezes. Cintilátia, a resplendorosa, é amada pelo seu povo e respeitada por todos os outros reinos.
Na primeira vez que lá estive as baterias fizeram sucesso, sobretudo entre os mais jovens. Quase todos gostam da impressão na língua…
-É natural… - disse o mestre, não sem uma nota de orgulho na voz.
-Já na segunda vez que por lá passei vi algo que me desconcertou. Os jovens tinham descoberto que poderiam aumentar a sensação usando múltiplas baterias, de que que fossem interligadas. Quando vi tal coisa nem podia acreditar.
-Mas não poderiam tê-lo feito apenas maior?
-Pois que já há muito os Radicais de Colossium o haviam tentado, mas na realidade o efeito não foi diferente… Mas quando em Correntia juntaram várias, isso aconteceu. Intrigado com aquilo, comecei a fazer experiências. Descobri que alguns materiais não servem. A madeira, por exemplo, não funciona. Mas os metais funcionam, daí as ligações por cobre, visto que é fácil ser moldado. Durante anos, à noite, quer estivesse numa estalagem algures no mundo, ou numa tenda, fui conduzindo experiências e comecei a reparar que a partir de um certo número de baterias, não só o formigueiro se tornava intenso como quando aproximava os fios de cobre produzia-se um pequeno clarão entre os dois. Quantas mais baterias, mais intenso o clarão.

-Achei isso curioso há pouco, quando haveis largado o pedaço de ferro…
-Exacto. O que vos fez lembrar?
-Um raio num dia de trovoada!
-E foi quando meditei sobre o que via que cheguei à conclusão que talvez fosse mesmo. Reparai no vosso criado… - o pobre coitado acordara e levantava-se com todo o cabelo eriçado – …onde haveis algum dia observado algo que fizesse isto ao cabelo de alguém?
-Quando se está demasiado próximo de um raio que cai numa trovoada! Pelos Três Sábios. Falais a verdade! Mas, e essa coisa do ferro incandescente?
-Bem, quando há um número suficiente de baterias ligadas, reparei que o ferro aquecia quando em contacto com os dois lados. Mas se fosse muito fino derretia com um pequeno clarão e se fosse muito grosso só ficava quente, mas quando tem a proporção ideal fica assim, incandescente!
-E que utilidade prática descobristes para isso?
-Torna fácil acender fogueiras!
Uruk, o Pequeno, matutou.
-Mas não é muito prático, pois não?
-Não, mas funciona…

Ficaram, ambos os dois, em conjunto um com o outro, em dualidade, mergulhados numa longa meditação. Para ajudar, Uruk, o Pequeno, pediu a um criado – um diferente do que tinha desmaiado, porque o pobre Bárbaro tinha receio de voltar a entrar na sala - para trazer produto da fermentação da cevada em recipientes de sílica fundida a que Matatturru, filho de Matturru chamava agora de canecas, bem como dois pires de tremoços. Uruk, o Pequeno, ficou surpreendido com o nome que Matatturru dava aos recipientes.
-Canecas?
-Sim, é como são chamadas na maior parte dos lugares. Foi um costume que se disseminou da cidade de Polo.
-Da cidade de Polo? Mas como, se eles não pensam, pelos três Sábios…
-Não foi ideia deles. Foi um forasteiro que passou por lá e deu esse nome, e eles acharam que era mais simples que dizer “recipiente de sílica fundida”!
-Pois… Agora que falais nisso, sabeis que nome os Bárbaros destas terras dão ao produto da fermentação da cevada?
-Nome? – Perguntou Matatturru, filho de Matturru. Nunca lhe ocorrera que a bebido pudesse ter outro nome!
-Cerveja!
Matatturru, filho de Matturru acenou com a cabeça e sinal afirmativo.
-Soa bem! Que dizer que isto que está na minha mão é uma caneca de cerveja!
-Nem mais!
-Parece-me bem. Doravante chamar-lhe-ei assim!
E mergulharam novamente numa meditação silenciosa.

Ao fim de muito tempo, vários pires de tremoços e muitas canecas de cerveja depois, Uruk o Pequeno pediu:
-Podíeis mostrar-me o que acontece com um ferro mais fino?
Matatturru, filho de Matturru assentiu em silêncio e assim o fez. O ferro aqueceu rapidamente, ficou em brasa até ficar quase branco, irradiando bastante luz até que, simplesmente, derreteu.
-Como podeis ver, queimou-se!
Uruk, o Pequeno, assentiu. Mas depois perguntou:
-E o que aconteceria se não se pudesse queimar?
-Como assim?
Uruk pegou numa caneca, virou-a ao contrário e colocou-a por cima de uma vela que os iluminava. A chama da vela tremeluziu e depois apagou-se!
-Se não houver ar, o ferro não se pode queimar!

Animados com a ideia começaram a fazer algumas experiências. Arranjaram um círculo de cortiça para vedar a caneca, atravessaram-no com dois fios de cobre onde puseram uma barra de ferro fina e encostaram os fios aos que vinham das baterias. As primeiras experiências resultaram em fracasso, mas, à medida que foram ajustando a grossura do ferro, foram tendo resultados bastante diferentes.
Dois dias depois, após inúmeras tentativas, quando parecia que iam fracassar novamente, o ferro que estava quase a derreter não o fez completamente, a chama extinguiu-se, o ferro ficou brilhantemente incandescente, com uma luz amarelada mais forte que vinte velas.

E foi assim que foi descoberta a primeira lâmpada eléctrica.

sexta-feira, 6 de maio de 2016

As baterias de Bagdad

Naqueles dias, após anos de viagens pelos quatro cantos do mundo Nmista, da cidade de Polo à cidade de Stix, do deserto de Shamar até aos longínquos reinos para lá do mar de Atlen, Matatturru, filho de Maturro o grande rei da Lupolândia e um dos dois últimos Nmistas Racionalistas Cientologistas, chegou finalmente ao reino bárbaro de Pingates, de que era rei Temulentius, o Ébrio, onde se tinha refugiado o seu velho mestre, o outro Nmista Racionalista Cientologista, Uruk, o pequeno!

O mestre, modesto como sempre fora, vivia num pequenino palácio de três pisos construído em mármore rosa, com as paredes interiores e exteriores finamente trabalhadas em baixo relevo com padrões e motivos Nmistas, todo mobilado com modestos moveis esculpidos em madeiras exóticas trazidas das mais longínquas florestas tropicais. O palácio tinha ainda um modesto jardim de seis hectares com fauna e flora de diferentes regiões e um enorme labirinto de sebes que representava para os Necrofagistas Macrobiótico Existencialistas Racionalistas Cientologistas a procura pelo conhecimento supremo, a busca pelo eletrocardiógrafo e o eletroencefalógrafo que encerravam em si a promessa do cumprimento pleno dos preceitos Nmistas! Além dos jardins, as terras da propriedade espalhavam-se até onde a vista alcançava, com luxuriantes searas de cevada e campos de tremoceiros. Era como um reduto Nmista em plenas terras Bárbaras.

Uruk, o Pequeno, recebeu Matatturru, filho de Maturru, com o peito cheio de orgulho, os olhos carregados de emoção e os braços amplamente abertos num enorme abraço.
-Matatturru, filho de Maturru, os meus olhos exultam ao comtemplar-te após todos estes anos. Trazes marcado na tua fronte o conhecimento de anos de viagens e nos teus olhos a sabedoria de um Nmista que sabe o seu lugar no mundo. Além disso ainda estás com bom ar e um bocadito mais gordito, o que te assenta bem, porque ereis um pau-de-virar-tripas!
Matatturru prostrou-se à sua frente em sinal de respeito e respondeu:
-Velho mestre, eis-me aqui depois de ter percorrido o mundo desde os desertos de Shamar e das torres de Ashtram até à cidade de Polo, espalhando a vossa sabedoria, feliz por vos ver mais uma vez antes de assumir o meu lugar como rei da Lupulândia e com grandes novidades.

Entraram na casa e Uruk, o Pequeno, fez de imediato sinal aos seus criados para que trouxessem algo frugal para comerem, tendo os mesmos trazido de imediato picanha de gado bovino criado junto às intrigantes florestas virgens de Amaz pelos bárbaros vermelhos que se auto-denominavam de Andinos, feijão preto e farinha de mandioca trazidos dos distantes reinos selvagens de Arabutã e tubérculos, de Solanum, fatiados e fritos em óleo, todos eles reinos para lá do grandioso mar de Atlen e todas as iguarias comprovadamente mortas.

Repastaram-se em silêncio, cumprindo os preceitos Nmistas e, finda a refeição, Uruk o Pequeno perguntou finalmente:
-Então que novidades trazeis, amado discípulo, Matatturru, filho de Matturru.
-Melhor do que relatar, mostrar-vos-ei! – E pediu a um dos criados que lhe trouxesse uma caixa que tinha ainda guardada na carroça em que viajava.
Quando o criado voltou, abriu rapidamente a caixa e mostrou o conteúdo ao seu mestre.
Uruk, o Pequeno, não ficou impressionado. A caixa apenas continha cerca de sessenta pequenas baterias de Bagdad encaixadas numa larga tabua num padrão geométrico alternado que fazia lembrar um favo de uma colmeia. A única coisa pouco normal era o facto de entre elas haver pequenos pedaços de cobre de uma forma pouco usual, estando sempre o tubo de cobre ligado ao cilindro de ferro da bateria seguinte, saído da última um longo fio do metal que ia acabar a milímetros do primeiro fio. No fundo aquilo apenas parecia uma salgalhada.

Reparando que o mestre não estava impressionado, Matatturru sorriu e pediu ao criado sumo de limão suficiente para encher todas as baterias. Depois de uma quantidade absurda de limões e duas horas depois e criado voltou e Matatturro encheu cuidadosamente as baterias. Uruk mantinha-se num silêncio expectante, não fazendo ideia de onde aquilo ia chegar.

Depois Matatturru pediu ao criado que tocasse nas duas pontas de cobre que percorriam as baterias. O criado olhou algo receoso para Uruk, o Pequeno, e, tendo este feito um subtil sinal, avançou e tocou em ambas as duas pontas ao mesmo tempo. De imediato uma convulsão percorreu todo o seu corpo e caiu no chão desacordado.

Uruk, o Pequeno, viu aquilo e ficou espantado, tentando racionalizar o que tinha visto sem encontrar qualquer explicação. Mas o que viu a seguir foi ainda mais assombroso.
Matatturru deixou cair, ao de leve, um pequeno pedaço de ferro por cima dos dois pedaços de cobre e, de imediato, após umas quantas e fascinantes faíscas parecidas com pequenos raios da trovoada, o ferro ganhou a coloração avermelhada que tem quando aquecido, irradiando luz e calor.
Uruk, o Pequeno, deixou a boca cair aberta, estupefacto com o que presenciava.

Matatturru sorria.

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Com um caneco!!!!!!

Tou a comer o melhor bolo de chocolate do mundo, quiçá do sistema Solar, quase de certeza o melhor da galáxia e talvez mesmo do Universo!
Estranhamente, foi feito em Campo-de-Ourique...

Agora vou ali espancar brutalmente o tipo que o trouxe, porque quer guardar segredo de onde comprou esta maravilha culinária e já venho...

O primeiro (e único) império Nmista (continuação)

…pelo menos por algum tempo.
Um Império precisava de uma coisa fundamental: um Imperador!
Entre as muitas discussões ao mais alto nível, houve um acordo entre as nações de manter os congressos nacionais e as fronteiras, devido a algumas animosidades regionais que existiam desde os tempos em que aqueles povos eram Bárbaros e Selvagens, e que persistiam ainda. Mas achou-se conveniente criar um congresso único, que era eleito.

No entanto, como a figura do imperador retiraria todo o poder simbólico aos Reis, estes conseguiram convencer os respectivos congressos de que deveriam ser eles, por acordo, a eleger o Imperador.
E foi daqui que advieram os problemas. Se os Reis eram figuras simbólicas, os Imperadores tomaram as rédeas do poder executivo, trazendo para o seu lado responsáveis pelas diversas áreas dentro do império. E tudo corria bem, até que se deu a crise do tremoço.

Após a vitoria de Exudax sobre a Vinlândia, os Selvagens trataram de substituir a cultura de cevada pela de tremoço o que provocou uma baixa de preços sem precedentes e lançou Faboideae numa crise nunca antes vista. Esta queda económica arrastou também os outros reinos que tiveram de sustentar Faboideae durante a crise. O Imperador naquela altura, Vigarus, O Escroque, junto com a sua equipa executiva, teve de tomar medidas impopulares que, de alguma maneira, não afectavam a realeza, que continuava a levar a vida de sempre como se não se passasse nada.

O povo começou a falar e a perguntar qual a legitimidade que Vigarus, o Escroque, tinha para tomar tais medidas, uma vez que não tinha sido eleito. Pior, porque é que as famílias Reais não eram afectadas, havendo alguns que afirmavam que isso se devia ao facto de o Imperador ser escolhido pelos Reis.
Mas pior que isso foi Vigarus, o Escroque, chamar a si o poder de vetar todas as leis que tivessem impacto económico que fossem aprovadas nos congressos regionais, retirando assim todo o poder de decisão a estes últimos, instaurando assim a primeira ditadura não assumida da história.
Muitas vozes se levantaram contra esta situação que, ao fim de alguns anos, já era Imperador Atados, o Coitado, levou a uma revolta popular e a uma guerra que acabou com o Império e fez com que os diversos povos vivessem em permanente ódio durante séculos.

Foi por isto que nunca mais ninguém se lembrou de criar um Império Nmista.
Outros o tentaram mais tarde, alguns mesmo pela força, mas foram situações que, tal como esta, nunca se sustentaram no tempo.

Felizmente, hoje em dia isto não passaria, obviamente, pela cabeça a ninguém…

O primeiro (e único) império Nmista

Já vos falei nestas pequenas crónicas do reino de Faboideae. Este reino, famosíssimo por lá se produzirem os melhores tremoços do mundo, era apenas um dos reinos que se encontrava para lá do grande mar de Atlen, tendo todos eles, em comum o facto de, apesar de terem a figura do rei como chefe de estado, o rei não tinha poderes políticos, sendo que todas as decisões eram tomadas por um congresso de representantes eleitos pelo povo. Ou seja, eram os percursores daquilo que se denomina hoje de monarquia parlamentarista.
Outro dos reinos era Arearis, também famoso pela magnífica qualidade dos recipientes de sílica fundida, sendo os seus artesão famosos no mundo inteiro.
Havia ainda o reino de Messe, no qual se cultivavam antigas estirpes de cevada que tinham um gosto incomum e do qual se obtinha o produto da fermentação da cevada mais famoso e disputado de sempre.
Embora estes três reinos exportassem boa parte da sua produção para todo o mundo conhecido, onde estes produtos eram pagos a peso de ouro, a verdade é que a maior parte do comércio que faziam era entre si, por uma mera questão de proximidade, visto que tudo o que mandavam vir do outro lado do grande mar era dispendioso. Assim sendo, só alguns produtos essenciais, como o Lúpulo da Luplândia, ou alguns produtos de luxo, como as baterias de Bagdad, eram importados.
No entanto, à medida que os séculos foram passando, as distâncias foram ficando mais curtas, fruto da evolução dos meios de transporte. Além disso, reinos Bárbaros como a Vinlândia, ou Selvagens, como Exudax, produziam produtos de qualidade inferior, mas a preços que arrasavam as suas exportações.
Foi neste clima que Arturus, o Marreco, Rei de Faboideae, Vulpes, a Raposa, Rainha de Arearis e Céliaco, o Gasoso, Rei de Messe se reuniram, mandatados pelos respectivos congressos, para tentar encontrar uma solução para aquilo que se adivinhava ser uma catástrofe económica a médio-longo prazo.
Apesar do encontro inicial ter dado sinais positivos, houve anos de complexas negociações. Começaram por estabelecer uma área de comercio livre entre todos para tentar combater a concorrência de produtos que se fabricavam localmente mas que chegavam do outro lado do mar muito mais baratos.
A coisa aparentemente deu algum resultado pelo que resolveram evoluir ainda mais a coisa. E tanta foi a evolução que culminaram num Império, o primeiro Império Nmista que se auto-intitulou de Império Atlenico!
O povo rejubilou e tudo parecia ir bem…

quarta-feira, 4 de maio de 2016

Os Mosaícos e o Nmismo (continuação)

Se é verdade que o mundo Nmista regozijou com a chegada dos Mosaícos à Vinlândia, também o é que houve uma carrada de pessoas que não acharam grande piada: os Vinlandeses!

Se estes já não viam com muito bons olhos terem de ser subservientes a Shamash, verem os seus territórios ocupados por um bando de pastores Nmistas convertidos foi uma afronta terrível. No entanto, estando a Vinlândia sem exército desde que o mesmo tinha sido derrota-do pelos exércitos Nmistas de Shimiu, o Parvo, lá encolheram os ombros.

Mas foi então que os Mosaícos se começaram a apoderar de terras que pertenciam a clãs antigos para fazer pastos para as ovelhas, escorraçando os proprietários. Isto criou uma revolta cada vez maior nos Vinlandeses que acabaram por se voltar para os poucos combatentes que ainda existiam, refugiados nas montanhas, tentando ajudá-los como podiam! Esses guerreiros começaram assim a lutar em campanhas curtas contra pequenas povoações Mosaícas, arrasando-as e dispersando o gado.

Claro que os Mosaícos começaram a acusar estes guerreiros de fazer uma guerra suja.
Ainda assim, tudo aquilo não passava de pequenas escaramuças quase sem importância. E tudo ficou assim durante algum tempo…
…até que os Mosaícos começaram a querer reclamar também terras de Exudax que, tal como as da Vinlândia, diziam ser de onde ti-nham vindo os seus antepassados.

Ora, os Selvagens de Exudax, fruto do contrabando de tremoços para Shamash, tinham bastante poderio económico e bélico. Quando os primeiros ataques Mosaícos as terras de Exudax começaram, os Selvagens fizeram pactos com os Bárbaros rebeldes e estalou uma guerra aberta.

Os Mosaícos, vendo-se entalados entre o deserto de Shamar e as terras selvagens de Exudax, em desvantagem numérica e em relação aos exércitos de Exudax comandados por Osiah, o Bárbaro rebelde Vinlandês, profundo conhecedor da sua nação, pedem ajuda às nações Nmistas, implorando-lhes que pensassem bem no que significava ter mais aquela parte do mundo como terras Nmistas.
Foi aqui que tudo acabou por dar para o torto.
Em primeiro lugar, o Nmismo, desde as suas origens, nunca se tinha imposto pela força.



Em segundo lugar os Mosaícos foram dados como proscritos do Nmismo. Como sabemos, pensar era a única coisa que não era permitida.

Ainda assim, os Mosaícos resistiram durante anos às investidas dos exércitos de Exudax cada vez mais engrossados por rebeldes Vinlandeses. Mas por fim acabaram por ser derrotados, sendo dispersados e expulsos daquelas terras, mas juraram que haviam de voltar e que as terras dos seus antepassados haviam de ser suas.

Infelizmente, não se sabe, até hoje, o destino que levaram os Mosaícos, pelo que não seria de espantar que eles, ao fim destes milénios, ainda por aí andem à espera de uma oportunidade...

Os Mosaícos e o Nmismo

Como já perceberam por esta altura (a não ser que seja este o primeiro pedaço de texto que estão a ler sobre o Nmismo e, nesse caso, não perceberam nada nem vão perceber, a não ser que andem para trás – se bem que tenho uma suspeita-quase-certeza que ainda assim não vão perceber grande coisa, mas olhem, é o que se arranja…), a não ser entre os Nmistas Radicais, o Nmismo nunca foi encarado como uma religião, apenas como um modo de vida! Mais, era uma corrente existencialista que apenas poderia entrar em rota de colisão com religiões que convidassem a pensar, mas isso, como todos sabemos, é uma contradição com a própria religião. Não há religiões que convidem a pensar, antes pelo contrário, quando alguém pensa demais é como um vírus infeccioso que põe em causa os dogmas de fé, simplesmente porque se usa do bom senso! Afinal de contas, nem é preciso olharmos para textos sagrados para perceber que qualquer pessoa que pense tem alguns problemas lógicos graves em relação a qualquer religião.
Vejamos alguns exemplos:

-Os deuses clássicos, da Grécia e de Roma (que são os mesmo rebaptizados – aparentemente os Romanos não tinham grande imaginação) eram uns bêbados putanheiros sanguinários e as Deusas eram umas intriguistas, cabras umas para as outras e umas putas serigaitas que fariam corar uma prostituta de hoje em dia, e aquilo era encarado de forma natural, uma vez que os homens da altura eram uns bêbados putanheiros sanguinários e as mulheres eram intriguistas, cabras e putas, justificando a sua maneira de ser com um “se os Deuses e as Deusas fazem assim…”

-Já outros causam problemas bem mais subtis mas igualmente válidos, como por exemplo, e como muito bem apontou Cavanna em “As Sagradas Escrituras”, Deus não pode ser ao mesmo tempo eterno e omnipotente, uma vez que para ser omnipotente tem que deixar de ser eterno, uma vez que pode por fim a si próprio, mas se for eterno deixa de poder por um fim a si próprio deixando de ser omnipotente! Mas ainda bem que existe a contradição e a fé que faz tanta gente relevar estes pequenos problemas idiotas. Graças a Deus!

Mas, como podemos observar, o Nmismo não entrava em confronto com qualquer das religiões que havia na altura, algumas delas bem esquisitas, como por exemplo na cidade de Perempto onde adoravam um ramo de árvore petrificada de onde os habitantes acreditavam tinha nascido o universo, ou a estranha crença do reino de Doblez em que todos acreditavam que o Universo é uma mera ilusão e não existia na realidade, sendo toda a existência o produto de um sonho de uma baleia azul, de cujo ventre teria nascido o Universo, se bem que também havia um povo bem lá para sul, cujo nome se perdeu na história, que acreditava que os ornitorrincos eram avatares!

Já nos reinos e cidades Radicais não havia cultos – os poucos locais de culto eram construídos e mantidos por estrangeiros – visto que eles não pensavam…

Havia um povo, bárbaros convertidos, que se auto-intitulavam de Mosaíco. Os Mosaícos acreditavam que eram filhos de Pubo, o grande fermentador, que tinha criado o Universo a partir da fermentação. Este povo era composto por tribos nómadas que se dedicavam sobretudo à pastorícia e eram conhecidos pelo queijo picante e com um cheiro nauseabundo que produziam, cujo sabor era algo de fenomenal. Embora fossem originalmente Bárbaros fermentadores de mosto, converteram-se ao Nmismo e quiseram ter direito a criar uma nação. Aquilo pareceu algo lógico ao mundo Nmista, mas havia a questão de onde os encaixar.
Balbaaq, o Asqueroso, que se dizia ser descendente destes Bárbaros convertidos, viu nisto uma oportunidade e convenceu Shimiu, o Parvo, a dar-lhes as terras da Vinlândia, coisa que não caiu bem aos Vinlandeses Bárbaros que já lá estavam, com o argumento de que eles iriam Nmizar a Vinlândia e que, além disso, no fundo até eram o mesmo povo visto que várias das tribos Mosaícas tinham vindo originalmente daquela região, coisa  era impossível de confirmar ou desmentir, visto que os registos históricos dos Bárbaros e dos Selvagens eram inexistentes. Apenas havia uma tradição oral que se perdia na noite dos tempos que o afirmava.
E foi desta maneira que a Vinlândia se tornou um reino Nmista, mas foi então que as coisas começaram a dar para o torto…

terça-feira, 3 de maio de 2016

As dualidades das Bolas de Berlim - uma perspectiva Nmista

Há muitos, muitos, muitos, mas mesmo muitos, mas tantos que nem se sabe quantos, só se sabe que foram mesmo muitos anos atrás aquele que foi por muitos considerado como o mais genial cozinheiro de sempre, Pomax, o Orbe, inventou algo que maravilhou o mundo inteiro: a Bola!
A Bola era um bolo profundamente Nmista! Era nem mais nem menos que uma bola de massa frita em azeite ou óleo polvilhada com açúcar. A sua simplicidade tão grande e a sua versatilidade tão vasta, podendo ser comida em quase qualquer ocasião, fez com que se tornasse um bolo imensamente popular.
Qualquer Nmista, em qualquer parte do mundo, poderia pedir uma Bola, e sabia exactamente o que lhe seria servido. Embora os sabores variassem ligeiramente de região para região, devido às características da própria farinha, as variações eram diminutas, sendo o bolo o único verdadeiramente uniforme no mundo inteiro.
Pomax, o Orbe, tornou-se um nome de trazer por casa, em boa parte graças à Bola, e os seus pergaminhos de receitas eram vendidos nas feiras e mercados por todo o lado. É dito que Pomax inventou muitas outras coisas, como os Peixinhos-da-horta, os panados e até o gelado frito, tão famoso ainda hoje em dia nos restaurantes de comida chinesa!
A receita da bola colocou no mapa a cidade de Óbesia, junto ao rio Bagos, que até ai era apenas comentada por ter a menor esperança de vida de todo o mundo Nmista, embora nunca ninguém à altura tenha percebido o porquê!
A Bola ganhou tal fama que a receita acabou por passar para os povos bárbaros e selvagens, o que foi uma sorte, pois sobreviveu ao longo de milhares de anos, vindo a reaparecer há alguns seculos atrás na cidade de Berlim. No entanto foi precisamente aqui que começou a dualidade das Bolas de Berlim.
Sendo um bolo Nmista, qualquer adepto poderia entrar numa pastelaria e pedir uma Bola. Toda a gente sabia o que era e a questão estava arrumada. No entanto, os Alemães, descendentes de povos selvagens, receberam a receita já com algumas alterações, como o hábito de rechear as bolas com geleias de frutos vermelhos. Isto só por si não seria significativo, não houvesse um povo, o Luso, que quando teve as Bolas na mão, tratou de alterar ainda mais a receita original. Ora isto, aos radicais causava problemas. Vejamos o exemplo abaixo:

Um Nmista entra numa pastelaria e afirma:
-Eu quero uma Bola.
-Uma bola?
-De Berlim!
-Com creme ou sem creme?

E pronto, para um Nmista Radical levantava-se logo a impossibilidade de responder, visto que para isso teria de pensar! O resultado, normalmente, era saírem das pastelarias com graves conflitos interiores e com fome, o que levou a muitos suicídios inexplicados…
No entanto, este problema não seria intransponível para um Absolutista, que poderia raciocinar um pouco, ou até meditar e responder:

-Com creme.
-De creme de ovo? Creme de pasteleiro? Creme de chocolate? Creme de avelãs? Doce de leite? Doce de maracujá?

E poderia continuar aqui a dar exemplos de recheios, uma lista quase tão extensa quanto a variedade imensa da doçaria Portuguesa. Isto levaria inexoravelmente a uma meditação profunda, para chegar a uma decisão, o que, embora estivesse dentro dos cânones Nmistas, era chato!
Ainda assim, mesmo que o Nmista se sentisse inclinado para tal meditação e respondesse:
-Com creme de ovo. (por exemplo; não afirmo aqui que este recheio seja melhor que todos os outros, embora de facto o seja)
Levaria de imediato com a pergunta:
-Redonda ou comprida?
O que implicaria mais uma decisão e mais alguns momentos de meditação profunda!

Esta dualidade é exemplificativa dos problemas que assaltam o Nmismo nos dias de hoje, razão pela qual há apenas dois Nmistas no mundo, sendo que o Nmista Radical não come bolas de Berlim! Aliás, a própria menção às mesmas fá-lo contorcer-se e fechar-se numa posição fetal enquanto récita repetitiva e continuamente o mandamento único, “Não Pensarás!”.
Já o único Nmista Absolutista ainda vivo, depois de muito meditar nesta problemática, resolveu a questão de uma maneira simples: pede sempre uma Bola de Berlim redonda com creme de ovo…

segunda-feira, 2 de maio de 2016

Ainda não sei...

...se é hoje que vos dou a conhecer as dualidades das bolas de Berlim...

É que é um tema complicado, bem demonstrativo das dificuldades que um Nmista teve, tem e terá no mundo!
Talvez seja mesmo o texto que vos poderá (ou não) converter em potenciais Nmistas!
Se bem que ninguém se torna Nmista! Ou se nasce Nmista ou não! Quanto muito, pode-se obter a consciência de que se é Nmista mais tarde na vida, mas ninguém pode sê-lo se já não o for!
É se calhar por isto, porque o Nmismo se interliga de forma profunda com a condição humana, que apesar dos milénios passados, o Nmismo continua a existir.
Atrever-me-ia quase a dizer que nunca o Nmismo esteve tão presente na vida da humanidade, embora de forma tão oculta!

Se calhar, todos vós sois Nmistas sem se darem sequer conta disso...