Não há aqui absolutamente nada que valha a pena. Nem sequer o autor. O Autor desresponsabiliza-se por quaisquer danos psíquicos que a leitura disto possa causar.
terça-feira, 14 de dezembro de 2021
quinta-feira, 9 de dezembro de 2021
sexta-feira, 26 de novembro de 2021
sábado, 13 de novembro de 2021
quinta-feira, 11 de novembro de 2021
domingo, 31 de outubro de 2021
terça-feira, 26 de outubro de 2021
segunda-feira, 18 de outubro de 2021
quinta-feira, 14 de outubro de 2021
Dave Matthews Band - So Much To Say (from The Central Park Concert)
sexta-feira, 24 de setembro de 2021
Rhapsody in Blue
quinta-feira, 9 de setembro de 2021
quinta-feira, 2 de setembro de 2021
domingo, 29 de agosto de 2021
sábado, 28 de agosto de 2021
sexta-feira, 20 de agosto de 2021
quinta-feira, 19 de agosto de 2021
sábado, 14 de agosto de 2021
sexta-feira, 30 de julho de 2021
domingo, 18 de julho de 2021
sexta-feira, 16 de julho de 2021
quinta-feira, 15 de julho de 2021
segunda-feira, 12 de julho de 2021
quinta-feira, 8 de julho de 2021
sábado, 3 de julho de 2021
terça-feira, 29 de junho de 2021
segunda-feira, 28 de junho de 2021
Atão não é...
...que hoje me entraram timidamente na sala e, quando eu perguntei qual era o assunto, a jovem tirou dois romances de dentro da mala que trazia a tira colo e perguntou:
-Importava-se de os autografar?
...o que diga-se me deixou um bocado embaraçado (o que divertiu imenso os meus colegas, diga-se).
Lá escrevi a dedicatória e assinei os livros à moça, que ficou toda contente de os ter autografados.
Já não via aqueles dois romances juntos desde...
...bem, basicamente desde que o segundo foi publicado. Nem fazia ideia de que alguém ainda se lembrava de que eles existiam, fora deste pequeno reino bloguístico onde meia dúzia de pessoas ainda sabem...
domingo, 27 de junho de 2021
domingo, 20 de junho de 2021
domingo, 13 de junho de 2021
quinta-feira, 10 de junho de 2021
sábado, 5 de junho de 2021
domingo, 30 de maio de 2021
sexta-feira, 21 de maio de 2021
Um casamento moderno - XXIII & XXIV (Final)
E com este segundo post de hoje (como costumo fazer às 6ªs Feiras), chegamos ao final desta história.
Na segunda-feira ela, assim que chegou
a casa, anunciou-lhe com tristeza que teria de ir para fora, para uma
conferência, no Fim-de-semana seguinte.
Teria de sair na quinta, dia dos anos dele e só voltaria no domingo à noite.
Ele, claro, ficou
triste, por ela ter de se ausentar precisamente no dia do seu aniversário, mas
ela disse-lhe que viria a casa almoçar com ele e só depois sairia em viagem.
Pelo menos sempre teriam um bocadinho juntos…
No resto da semana ela
parecia andar completamente distraída a trocar mensagens de texto no telemóvel,
ria-se… Ele, compreensivelmente, estava notoriamente desiludido e começou a sentir
um vazio enorme no peito. Não esperava de todo isto!
Na quinta-feira, dia
do seu aniversário ela saiu cedo mas, tal como tinha dito, veio almoçar com
ele. Depois arrumou uma mala com algumas coisas, deu-lhe um abraço forte e
apertado e saiu, dando-lhe um pequeno envelope com um cartão.
-E a minha prenda para
ti! Acho que qualquer outra coisa seria superficial. Abre só depois de eu sair,
OK?
Ele assentiu, ela
chegou-se a ele, abraçou-o, forte, chegou-se a ele e, pela primeira vez em
meses ele não lhe virou a cara quando ela fez questão de o beijar. Os lábios
tocaram-se, colaram-se, as línguas envolveram-se numa dança nitidamente
carregada de desejo. Quando finalmente se separaram estavam ambos sem folego.
Ela via aquele fogo no seu olhar e sentia ela própria um fogo na alma… Esteve
muito perto de mandar o plano à fava, empurra-lo para o sofá tirar a roupa e…
Mas conteve-se a
custo!
Acabou por sair de
casa e dirigir-se ao hotel onde tinha alugado um quarto para passar essa noite.
As suas companheiras de “crime” ainda lhe propuseram que ela passasse a noite
em casa de uma delas, mas não se conheciam bem e ela não queria sobrecarregar
ninguém.
Ligou-lhe à noite,
depois do jantar. Ficaram horas ao telefone, a falar como se fossem dois
adolescentes, até entrarem pela madrugada adentro. Ela não queria que alguma
dúvida ficasse nele de que ela estaria com alguém.
No dia seguinte foi
trabalhar normalmente, e quando voltou ao hotel, ao fim da tarde, trazia já
consigo um lanche ajantarado. Logo que acabou de comer foi tomar um longo banho
e foi-se arranjar para sair. Quando acabou, dirigiu-se à recepção, entregou a
chave do quarto, e arrancou.
Quando chegou ao
destino foi buscar o estojo castanho à mala do carro, pegou no telemóvel e
mandou uma mensagem. Entretanto viu à distância a Marta e o seu grupo de amigas
a entrar no espaço onde ela se dirigia. E, de repente, recebeu uma resposta à
mensagem e avançou.
O porteiro, assim que
a viu com o estojo, franqueou-lhe a entrada.
Ela entrou e
rapidamente viu a mesa onde estava Marcelo, de costas para si. Avançou
sorrateira, sendo claramente notada por toda a gente, menos ele. Numa outra
mesa, um outro homem sozinho olhava-a com antecipação e luxúria no olhar, mas
ela seguiu em frente e nessa altura uma das funcionárias da casa chegava à mesa
com um bolo de aniversário de velas já acesas, para enorme surpresa de Marcelo
enquanto os seus companheiros e as suas mulheres se riam do seu embaraço.
-Mas como é que vocês
souberam?
-Mas achavas que não
íamos descobrir?
A Marta e as amigas a
aproximaram-se da mesa e deram os parabéns, com a Marta a aproveitar para dar
um abraço algo mais apertado e insinuante. Cantaram todos os parabéns, abriram
uma garrafa de espumante e o Lucas disse a Marcelo:
-Acho que há alguém
atrás de ti que também quer um copo… - piscando-lhe o olho.
Marcelo virou-se. Ela
estava ali. Absolutamente deslumbrante num vestido que lhe realçava cada curva
do corpo com sensualidade, carregado de transparências que fazia trabalhar a
imaginação de qualquer homem.
Ela pousou o estojo
no chão e esticou a mão, recebendo a taça de champagne. Levantou o copo, numa
saudação, no que foi seguida por toda a gente, deu um golo e disse-lhe:
-Parabéns!
Depois, jogou-se-lhe
nos braços, apertou-o contra si, e sem esperar qualquer espécie de aprovação
colou os seus lábios aos dele, ofereceu-lhe a sua língua, envolveu-o, sentiu a
sua rigidez, mas não se importou. Ele era dela! De mais ninguém!
Marta observou isto
tudo meio em choque e a pensar “Mas quem é esta mulherzinha?”, irritada, mas
afastou-se rapidamente com o seu grupo.
Ela finalmente
quebrou o beijo, chegou-se ao ouvido dele e disse num sussurro:
-Tenho duas prendas
para ti, uma que precisas e uma que queres mas ainda não sabes! Qual queres
primeiro?
-Antes de te
responder, Não era suposto só voltares no Domingo?
-Bem, se tivesse ido
para fora, para uma conferência, era, mas como só fui passar a noite a um hotel
para te fazer a surpresa, e a cama nem era grande coisa…
-És má!
-Eu sei… Mas diz lá
que não gostas?
Ele olhou-a de lado,
com um sorriso um bocado sacana.
-Mas, então, vais
responder-me? – Perguntou ela.
Ele pensou um pouco.
-A que preciso!
Ela baixou-se,
agarrou no estojo e entregou-lho.
-Espero que gostes!
Ele pousou o estojo,
abriu-o e ficou estupefacto a olhar para a guitarra.
-É para usares hoje.
A tua velhinha já merece um descanso… Mas, anda, quero dar-te a outra prenda.
Ele deixou a tampa do
estojo cair, sem o fechar e pegou na mão que ela esticava para ele, seguindo-a
até uma mesa onde estava um tipo sozinho que, por esta altura, olhava para
Marcelo já sem um pingo de sangue na face e olhava em volta como se procurasse
um sítio para onde fugir. Lá chegada ela dirigiu-se ao tipo:
-Pedro, este é o
Marcelo, Marcelo – disse virando-se para o marido – este é o Pedro.
Os dois cumprimentaram-se,
sem Marcelo saber o que pensar. Ela
continuou:
-Pedro, este é o meu
marido. – Os olhos do homem abriram com uma expressão de medo absoluto. Ela
continuou - Marcelo, este é o paspalho.
Marcelo ficou a olhar
para ela com um misto de surpresa e irritação. Depois de uns instantes para
processar a informação, perguntou-lhe:
-Isto é uma maneira
de quebrares as tuas regras?
Ela sorriu, abraçou-o
e respondeu:
-Não, querido! É uma
maneira de as reforçar…
E piscou-lhe o olho!
Ele percebeu. Olhou
para o outro tipo já com um sorriso sacana no canto dos lábios, encolheu os
ombros e deixou-se arrastar por ela de volta à sua mesa…
XXIV
O concerto foi espectacular e Marcelo
não deixou de reparar na cumplicidade que parecia já existir entre Clara e as companheiras
dos seus colegas de banda. Tocou todo o concerto com a guitarra nova que estava
afinada completamente a seu gosto.
-Espero que esteja
confortável… - disse-lhe Lucas no intervalo de um dos temas!
-Tu já sabias,
sacana!
-Então, ela foi ter
comigo… Que é que achas da menina?
-Está mesmo no ponto.
Obrigado pá!
O concerto acabou e o
bar foi ficando vazio. Algumas das ultimas pessoas a sair foram as raparigas do
grupo de Marta, que ainda fez questão de ir cumprimentar Marcelo, mas que
percebeu que era fuzilada a cada momento pelo olhar de Clara, que observava cada
gesto seu. Depois o palco foi arrumado enquanto Clara e as outras companheiras
continuavam numa animada cavaqueira.
Entretanto Marcelo
foi dispensado pelo resto do grupo de ir pôr o material na garagem e seguiu
directo para casa com Clara.
Ela passou-lhe as
chaves do carro, que ele recebeu com naturalidade. Normalmente era ele quem
conduzia.
Arrancaram e ele
percebia que ela o olhava de uma maneira a que ele não estava habituado. Apenas
se apercebia dela pela sua visão periférica, mas a intensidade era inescapável.
-Desculpa por ontem.
Custou-me imenso não te dizer nada, mas queria que o dia de hoje fosse mesmo
especial para ti, na companhia dos teus amigos.
Ele sorriu.
-E desculpa também
pela cena com o Pedro. – Ele ficou em silêncio e ela continuou – Ele ligou-me
no meio da semana e fui almoçar com ele. – Confessou! Marcelo não disse nada.
-Precisava de fechar
esta questão! – Continuou - Mas a maneira como ele falou comigo… Depois do que
fez… Sabes que nem me sinto tão culpada por mim, mas falar com a mulher dele e
perceber o quanto, sem o saber, a afectei… Ainda me dói na alma! E queria mesmo
que tu soubesses que ele não significa nada para mim!
-Sabes, - disse ele finalmente
em resposta - … por momentos fiquei bastante apreensivo!
-Bastante?
-Sim! Passou-me tudo
pela cabeça… Até a hipótese de me estares a propor um ménage…
-Tonto!
-A sério! Passaram-me
montes de coisas pela cabeça naquele instante, sobretudo as mais estúpidas. Mas
quando disseste que era um reforçar da regra…
Ela sorriu, feliz na
certeza de que não precisava de explicar mais… Ele tinha entendido!
-Se tu soubesses… -
disse ela mudando de assunto - …o quanto é chato, às vezes, não usar roupa
interior…
Ele levantou o
sobrolho.
-Não estás a usar
roupa interior?
-Não! – Respondeu ela
e levantando a saia perguntou-lhe – Vês?
Ele olhou e constatou
que era verdade.
-Ficava feio, por
baixo deste vestido…
-Mas tinha sido mais
prático… – respondeu ele com um ar gozão.
-Tinha! Mas não era a
mesma coisa… - disse ela, com aquela intensidade no olhar que o estava a
mistificar.
-Pois… - disse ele
com um sorriso alargado e um lampejo de fogo nos olhos a que ela não ficou
indiferente - …não era.
Ela tocou o seu sexo,
expondo-se a ele, claramente excitada e disse:
-Na maior parte do
tempo até é mais confortável, mas em alturas assim… - e tocou-se de novo,
soltando um pequeno suspiro - … torna-se complicado!
-Compreendo o teu
problema! E achas que posso fazer alguma coisa para te ajudar em relação a
isso?
-Não sei! – Respondeu
ela – A única coisa que eventualmente me ocorre é que pares o carro num sítio
escondido qualquer para eu te arrastar para o banco de trás e te dar uma foda
que te abane o mundo, que acho que não posso esperar até casa!
Ele olhou para ela,
sorriu…
…e ligou o pisca…
F I M
Um casamento moderno - XII
Estava a meio da manhã de trabalho
quando de repente o visor do telemóvel se iluminou!
“Podemos falar?”
Sentiu uma raiva e um
impulso de responder de imediato com qualquer coisa como “Vai para Inferno!”,
talvez mais diplomático, mas com mesma intenção! Mas parou-se de o fazer!
Pensou bem, e isto
era, sem dúvida, ainda uma ferida em aberto!
O que quereria ele?
Bem, ela sabia o que ele fundamentalmente queria, não sabia era o que ele faria
para tentar lá chegar.
“Almoço, sítio e hora
do costume?” Acabou por responder.
“Até já” foi a
resposta.
Ele já a esperava,
sorridente, genuinamente feliz por vê-la. Ela sentou-se e fez sinal ao
empregado, pediu o prato do dia, ele também pediu.
Assim que o empregado
se afastou ele falou:
-Estava com tantas
saudades tuas… Estás linda!
-Obrigada.
Ele ficou em silêncio
a olhar para ela com um ar absolutamente apaixonado.
-O que é que querias
afinal? – Acabou ela por perguntar.
Ele como que saiu de
um transe.
-Ah,… Queria pedir-te
desculpa pela cena com a minha mulher…
-A “cena” com a tua
mulher? É isso que lhe chamas? – Ele ficou em silêncio – E a “cena” de me teres
enganado?
-Eu nunca te enganei…
-Disseste-me que
tinhas um casamento aberto, que não havia problemas, que estava tudo bem…
Ele ficou em silêncio
e entretanto foram servidas as suas refeições. Deram a primeira garfada e ele
falou.
-Sim, eu sei, eu
menti. Mas tens de perceber… fiz isso porque estou apaixonado por ti!
-O que é que
aconteceu entre ti e a tua mulher?
-Pá, ainda estamos a
viver juntos mas estamos de acordo que nos vamos separar.
-Vais deixar a tua
mulher, grávida de seis meses?
-Ela está a fazer-me
a vida num inferno!
-Porque será?
Comeram mais um
pouco, em silêncio. Foi ele que o quebrou:
-Clara, eu amo-te! Eu
quero-te. Quero deixar tudo para trás e estar contigo.
Ela parou de comer e
ficou algo atónita a olhar para ele.
-E eu sei que me
amas,… - continuou ele.
-Estás cheio de
certezas…
-Não digas isso,
Clara, eu sei… os momentos que passamos…
Ela continuou em silêncio
a comer.
-Dava tudo… -
continuou ele - …por mais uma noite contigo, se queres que te diga…
Ela acabou de comer,
olhou para o relógio e apercebeu-se que era tarde.
-Tenho de ir. –
Anunciou-lhe ela.
-E vais deixar-me
assim, sem uma resposta?
Ela ainda deu um
passo a afastar-se mas parou e subconscientemente mordeu o lábio e uma chama
passou-lhe pelo olhar. Voltou atrás, tirou um bloco de post-its e uma caneta da sua bolsa escreveu um nome e uma hora,
descolou o papel e deu-lho. Depois virou-se e saiu.
quinta-feira, 20 de maio de 2021
Um casamento moderno - XXI
Ela viu-o a sair para ir para o
concerto e percebeu que ele hesitou um pouco antes de sair. Percebeu que ele
esteve muito próximo de lhe dizer para aparecer, ou coisa do género, mas deixou
a ideia de lado e foi!
E ela queria
aparecer, mas se o fizesse…
Assim que ele saiu,
pegou no telemóvel e fez uma chamada.
-Sim? – Atendeu uma
voz feminina do outro lado.
-São? – Perguntou.
-Sim, quem fala?
-Não nos conhecemos.
Foi o Lucas que me deu o seu número. O meu nome é Clara, sou a mulher do
Marcelo.
Ouviu uma gargalhada
do outro lado.
-O Lucas já me tinha
dito que ia ligar, mas eu nem esperava, a sério. Sabe, nós já especulámos tanto
sobre si…
-A sério? Você e o
Lucas?
-Querida, trate-me
por tu. Não, nós o grupinho das mulheres! Quando o Lucas me disse que, de
facto, existia, e eu contei às outras foi um sururu. Sabe, o Marcelo é um querido
e todas o adoramos, mas ele é bastante reservado…
-Eu sei como ele é… -
respondeu, com uma nota de sorriso na voz.
-Mas o Lucas disse-me
que lhe queria fazer uma surpresa…
-Sim, queria combinar
convosco. Ele faz anos na próxima quinta, e como vai tocar na sexta eu vou
fingir que me vou esquecer dos anos dele…
-Isso é mau! É
maldade mesmo! – Respondeu São com uma gargalhada – Coitado do rapaz, isso não
se faz…
-Mas eu compenso-o
depois… – disse ela com uma risadinha.
-E como é que queria
fazer a coisa?
Falaram mais de meia
hora, ela disse a sua ideia, ouviu sugestões. Dai a pouco estava numa videochamada
com as outras quatro mulheres, a tagarelarem animadamente. No entanto todas
acharam que seria muito mau ela prosseguir com a sua ideia original. E ela
própria quando pensou bem na situação em que estavam começou a ver que talvez
não fosse boa ideia… Já chegavam os ressentimentos que havia entre os dois…
Mas lá chegaram a um
plano, conversando entre todas.
Elas convidaram-na a
aparecer nessa noite, mas ela recusou porque isso estragaria um pouco a
surpresa e ela não queria que ele estivesse à espera de nada!
-Vai ser uma chatice
ficarmos caladas hoje… Ouviste, Rita?
-Eu nem vou pensar
nisso hoje e amanhã, para não me descair…
E falaram de mais
coisas, ao ponto de Clara começar a pensar que talvez tivesse ali um excelente
grupo de amigas!
quarta-feira, 19 de maio de 2021
Um casamento moderno - XX
Nessa quinta-feira, quando ela chegou a
casa, ele estava descontraído na sala a ver um filme na televisão.
Ele viu-a a entrar,
vinda da garagem, ainda com as roupas de trabalho, mas que ela sabia fazer
sensuais e viu o sorriso dela quando o viu ali.
-A relaxar? –
Perguntou ela.
-Não! Acabei!
-Mesmo?
-Sim. Há pouco, a
meio da tarde. Já entreguei o projecto.
-Então já podes
descansar…
-Por acaso pensei que
podíamos jantar fora. Esqueci-me de tirar comida…
Ela ficou
surpreendida!
-Queres comemorar a
entrega do projecto?
-Quero sair de casa,
que já não vejo a rua há quase uma semana e não me apetece ir sozinho… Mas se
não estás com disposição, tudo bem!
-Quer dizer, não
estava a contar com isso… Só me apetecia vestir um robe e calçar umas pantufas…
-OK,… - disse ele sem
o mínimo indício de desapontamento – Eu vou na mesma, então…
-Espera! Deixa-me ir
trocar de roupa e eu vou! Também não me apetece estar sozinha!
-E precisas trocar de
roupa? Estás muito bem assim…
-Eu sei… - disse ela
piscando-lhe o olho.
-E estás muito
convencida também, diga-se de passagem!
-Achas? Acho que
estou mais realista… De qualquer forma passei o dia com estas roupas, estão
transpiradas e se vamos sair quero sentir-me bem! Podes esperar?
-É justo! Sim,
aproveito e acabo de ver o filme.
-Está no fim?
-Não acabou de
começar.
-Então não vai dar
para ver…
-Veremos… - disse ele
num tom trocista!
E na verdade não deu,
mas não foi por muito pouco.
Ela apareceu-lhe à
frente com uma maquilhagem sem falhas, um vestido preto curto, sem o ser
escandalosamente, decotado, mas deixando mais à imaginação do que o que
mostrava, simples absolutamente colado ao corpo, de tal forma que ele duvidou
que ela estivesse a usar roupa interior, umas sandálias de salto de base preta
com tiras transparentes por cima.
-Eu disse-te que não
ias acabar de ver o filme!
-Não faz mal! Não era
assim tão interessante!
-Vamos?
-Sim.
Já no restaurante
pediram os respectivos pratos e ficaram à espera. Ela aproveitou a deixa.
-Pensei bastante
nestes últimos dias e queria falar contigo, mas estavas mesmo ocupado e não te
quis desconcentrar. Mas, se quiseres agora, gostava de te dizer umas palavras…
Mas se não estiveres para me ouvir agora, não há problema, não vou levar a mal.
Sei que quiseste sair para descontrair e acho que precisas.
-Não, podes falar.
Mais cedo ou mais tarde tem que acontecer… porque não num restaurante com um
copo de vinho na mão e fora da realidade quotidiana? Até pode dar outra
perspectiva às coisas…
E foi aí que ela
percebeu que o convite para jantar não fora de todo inocente. Claro que ele
sabia que ela viria.
-Olha, como te disse
pensei bastante! Sei que não queres que eu te peça desculpa, mas eu tenho de as
pedir em relação a algumas coisas, o facto de ter diminuído a importância do
que sentias, o facto de ter assumido que tu terias também uma relação, e acho
que este apenas o fiz porque para mim era inconcebível estar a fazê-lo e tu
não…
-Percebo! Reforçavas
a tua certeza justificando-te com o facto de que eu estava a fazer o mesmo!
-Exacto. Por isso se
calhar nem me passou pela cabeça perguntar! Também por aquela questão daquela
noite…
-Isso já foi falado e
está lá atrás!
-Quanto ao resto,
acho que não tenho de pedir desculpas a ti, mas a mim, e não sei quando me vou
conseguir desculpar!
Ele olhou-a atento,
percebendo que esta frase trazia algo atrás.
-Sabes, eu sou neste
momento como sou! Estou aqui à tua frente e sinto-me bem na minha pele. Gosto
de me sentir atraente, não para ser desejada, mas por mim… é como se me desse
confiança!
Ele assentiu.
-Mas infelizmente só
estou aqui como estou porque fiz más escolhas. Olho para trás e sei que as fiz,
mas se não as tivesse feito eu não estava aqui, assim! Essas más escolhas
acabaram por me libertar e eu, pela primeira vez na minha vida sinto-me solta!
Ele sorriu.
-E eu gosto de ver
isso em ti!
-E é isso que me dá
raiva! Sabes quando dizes que achas que eu nunca estive apaixonada por ti?
Estive. Muito antes de me teres beijado pela primeira vez. Quando saias com
outras raparigas eu sentia ciúmes! Por vezes era eu que sugeria que alguém do
grupo de jovens te ligasse, porque sabia que tu vinhas e eu ia ver-te, e
sentia… Eu nem sei o que sentia! Mas depois tu já tinhas tido umas quantas
namoradas e eu… Eu sempre fui muito guiada para um certo estilo de vida pêlos
meus pais, como sabes, e tive de pensar porque é que me escolhias a mim. Eu não
era a miúda mais gira do bairro, antes pelo contrário até fazia por passar
despercebida…
-Deixa-me corrigir-te,
tu eras a miúda mais gira do bairro, mas tinhas era a mania que não eras!
-Mas parece que só tu
é que viste isso! E eu, de alguma maneira devo ter assumido que aquilo que
desejavas mesmo era aquela pessoa que eu era, mas que sonhava tantas vezes sair
de casa dos pais e ir à aventura… Eu percebi que te amava, mesmo, que queria
passar o resto da minha vida ao teu lado e acabei por me conformar àquilo que
achava que tu querias. Acho que tinha medo de que se eu abrisse as asas tu não
reconhecesses ou gostasses de quem eu era e partisses…
Ele voltou a
assentir!
-E acho que só me
soltei com ele por um motivo mais que simples: Não me importava minimamente com
o julgamento que ele poderia fazer de mim!
Ele voltou a assentir
e ela percebia pelo olhar dele que percebia perfeitamente o que lhe ia na alma.
E apercebeu-se, de repente, que ele se calhar já o saberia antes de ela o
dizer.
-Ele é que não
importava realmente! Porque como tu disseste bem, ele era só um paspalho
qualquer. Provavelmente se não fosse ele, seria outro… ele apenas fendeu a
barragem, a inundação veio por causa da água que estava atrás.
-Se a barragem
estivesse vazia não havia inundação, mesmo com a barragem fendida…
-Certo! E percebi que
aquilo que me deu verdadeiramente prazer nos momentos com ele, não foi ele, mas
sim a transgressão!
Ele sorriu e deu uma
pequena gargalhada.
-O que foi?
-Ocorreu-me que já
estás um bocadinho cota para te armares em teenager!
Ela fingiu uma cara
zangada!
-Estupido! –
Recompuseram-se os dois – Mas percebes o que quero dizer?
Ele assentiu enquanto
bebia um gole de vinho.
Entretanto chegou o
empregado com os pedidos e a conversa foi cortada, mas já tinha sido dito o que
era para ser dito.
terça-feira, 18 de maio de 2021
Um casameno moderno - XIX
O fim de semana passou e com o fim
voltaram as rotinas.
A dele, com bastante
trabalho em atraso em relação aos prazos que tinha, fazia com que se levantasse
antes dela e mergulhasse directamente no trabalho, deitando-se frequentemente
já bem depois dela completamente exausto.
Ela, como sempre,
saia de manhã, voltava ao fim da tarde e, embora estivessem os dois debaixo do
mesmo tecto, à excepção do jantar, quase que não se viam, e mesmo assim ela
notava perfeitamente que a cabeça dele não parava, ainda que estivesse longe do
computador.
Claro que todos os
eventos das suas vidas não ajudavam a que a concentração dele estivesse tão
focada como de costume, mas ele queria mesmo tratar do trabalho o mais rápido
possível, uma vez que no fim-de semana ainda teria mais dois concertos e o dia
a seguir era sempre complicado para conseguir fazer alguma coisa do seu
trabalho. Normalmente estava exausto! Já não tinha 20 anos e as noites perdidas
já pesavam.
Ela sabia de tudo
isto e tentava não o incomodar. Dava-lhe o espaço que ele precisava e, do mesmo
modo acabava por ficar com espaço para si.
Mas, numa manhã,
quando ela estava no trabalho, estava a olhar para um calendário, por causa de
marcações de reuniões, quando se apercebeu de repente que andara tão envolvida
com tudo que se tinha esquecido do aniversário dele, daí a duas semanas.
Nessa noite começou a
pensar no que poderia fazer! O primeiro pensamento que lhe ocorreu foi
proporcionar-lhe uma noite inesquecível, mas depressa pôs a ideia de lado! Há
um ano atrás teria sido a melhor das ideias, pelo que sabia agora. Daqui a um
ano, talvez fosse a melhor das ideias. Nesta altura o mais provável era a ideia
acabar em tragédia. Não era um bom caminho.
Depois de muito
pensar lembrou-se de que o Lucas fazia parte da banda. Não que ela o conhecesse
bem, tinha estado na loja dele duas ou três vezes a acompanhar o marido há
muitos anos atrás. Será que a loja ainda existia?
Abriu o Google maps. Como é que a loja se
chamava? Era incapaz de se lembrar, se é que alguma vez soube! Mas sabia onde
era, foi ampliando o mapa até à vista de rua e, sim, lá estava ainda.
No dia seguinte,
quando saiu do trabalho foi directamente lá. Encontrou uma jovem atrás do
balcão que a interpelou de imediato:
-Boa tarde. Diga por
favor!
-O Sr. Lucas está?
-Sim, está a dar uma
aula, neste momento. Queria falar com ele?
-Sim. Ele estará
muito demorado?
A rapariga olhou para
o relógio.
-Cerca de uns 20
minutos!
-Tudo bem, eu espero!
-Eu entretanto vou lá
dentro dizer-lhe que está aqui. Quem é que devo anunciar?
-Clara. O meu nome é
Clara, mas ele não deve saber quem é. Diga-lhe que é a mulher do Marcelo.
A rapariga olhou para
ela espantada.
-A senhora é que é a
mulher do Marcelo?
-Sim!
-Muito prazer em
conhecê-la. Eu sou a Patrícia, sou filha do Lucas.
-O prazer é meu,
Patrícia. - Respondeu ela com um sorriso.
-Eu vou avisar o meu
pai, pode ser que ele se despache… - disse a rapariga, sorrindo e piscando-lhe
o olho!
-Obrigada!
Aguardou um pouco.
Até que a rapariga voltou.
-O meu pai vem já.
E realmente não
demorou. Lucas saiu do corredor da sala de aulas e olhou para ela com um ar
meio espantado.
-Clara?
-Sim, sou eu. Já não
se deve lembrar de mim…
-Tenho uma vaga
recordação, sim! Desculpe estar espantado, mas o Marcelo é muito reservado e
nestes meses pouco ou nada ouvi falar de si…
Isto doeu-lhe um
pouco, mas era compreensível.
-Não tem importância.
– Respondeu ela com um sorriso.
-Mas o que a traz
aqui?
-Queria a sua ajuda,
se fosse possível. O Marcelo faz anos para a semana, na quinta-feira. Sei que
ele vai tocar convosco na sexta e queria fazer-lhe uma surpresa.
-Não é para fazer
nenhuma festa surpresa ou assim, pois não? Não sei se ele ia ficar muito
contente com isso…
-Não, não… É mais
porque queria comprar-lhe uma prenda, mas algo que lhe fosse mesmo útil, e como
ele anda a tocar consigo…
-Pode tratar-me por
tu.
-Nesse caso, digo-lhe
o mesmo!
-E qual é o orçamento
que tens em mente?
-Não tenho! O que é
que achas que lhe faria mesmo falta?
Lucas pensou um
pouco.
-Bem, uma coisa seria
realmente outra guitarra. Ele só tem aquela e caso haja algum azar, como já
aconteceu, temos de parar o concerto, porque ele não tem outra. Se calhar seria
a coisa mais útil…
-Então e que guitarra
poderia ser?
-Bem, nós temos aqui
uma grande variedade, mas se conheço bem o Marcelo, seria uma igual à que ele
tem, uma Les Paul! Mas isso não é
barato…
-E tem alguma?
Lucas sorriu!
-Bem tenho aqui uma
há meses. Normalmente não temos material tão caro na loja, só mesmo por
encomenda, mas esta guitarra veio para um cliente que depois não a quis e eu,
já nem sei porquê, não a devolvi ao fornecedor! Eu vou busca-la.
Quando voltou trazia
um estojo castanho, igual ao da guitarra de Marcelo. Abriu o estojo e tirou a
guitarra de lá de dentro. A guitarra tinha a parte de trás e as laterais
completamente pretas, mas um preto translucido que deixava ver os veios da
madeira por baixo. Já a frente era orlada no mesmo preto, mas esbatia-se até
dar lugar a um púrpura escuro e profundo que realçava os veios da madeira por
baixo e dava uma dimensão quase holográfica ao mesmo. Os veios pareciam dançar
conforme o angulo de luz que lhes batia. Todos os metais da guitarra eram
dourados. Aparte de tudo, era um objecto lindíssimo.
-Esta guitarra é
linda! – Disse ela espantada!
-E infelizmente cara!
Mas, sendo para o Marcelo faço um desconto bom nela… - Disse o Lucas,
piscando-lhe o olho.
-Nem precisas de me
dizer mais nada. Fico com ela.
-Óptimo! É bom saber
que ela vai para uma boa casa. Dá-me uns minutos para eu a pôr como ele gosta,
mudar as cordas e afiná-la.
Entretanto Lucas deu
instruções à filha para poder ir avançando com o pagamento.
Saiu da loja meia
hora depois com a guitarra na mão e com uma surpresa preparada para o marido.
segunda-feira, 17 de maio de 2021
Um casamento moderno - XVIII
Acordou de um estado que ela não sabia
se de sono ou simples ausência com um aviso do telemóvel “Está tudo bem. Estou
a caminho”. Respondeu com um “OK”. Dentro de si, uma resolução! Dizem que o
sono é o melhor travesseiro!
Levantou-se, foi à
casa de banho! Olhou-se ao espelho! Parecia uma bruxa! Tomou um duche rápido,
penteou-se o melhor que pode, maquilhou-se, foi ao quarto, escolheu peças para
vestir que fossem sexy, sem ser
provocadoras e esperou-o.
Ele entrou na sala
pela cozinha, vindo da garagem. Notava-se que vinha cansado mas feliz, calculou
ela que mais pelo concerto que por outro motivo qualquer, e depois ele viu-a e
o seu ar ficou sério.
-Ainda estás
acordada?
-Sim.
-Porquê?
-Porque o sofá é
desconfortável e eu queria ter a certeza de que descansavas bem hoje.
-É tarde, não me
apetece ir agora tomar um duche…
-Perdes 10 minutos em
troca de uma noite mais descansada! Não tens a desculpa de me incomodar! Qual é
o teu problema?
Ele bocejou e
espreguiçou-se e deixou-se literalmente cair em cima do esqueleto, como uma
rendição!
-Ok, ganhaste! – E
descalçou as botas mesmo ali e começou a andar, a despir a t-shirt que mandou
para o chão sem cerimónia e tinha já desapertado o cinto, começado a despir as
calças, quando entrou na casa de banho.
Ela viu aquilo e
mordeu o lábio inconscientemente! Levantou-se, foi à porta da casa de banho e
perguntou:
-Queres comer ou
beber alguma coisa? Tens fome?
-Estás muito amável,
hoje!
-A sério, já estou a
pé e não me custa nada.
-Deixa estar, eu já
comi e bebi que chegue por hoje, obrigado!
-Tá bom! – Disse ela,
apagando a luz da sala e indo para o quarto.
Ela deu por ele sair
do banho. Mas não veio para o quarto. Ficou curiosa. Levantou-se e foi ver
dele. Viu-o no quintal atrás da casa a fumar! A fumar? Depois sentiu o aroma e
percebeu! Mais a descontrair… Avançou até ao pé dele. Ele assustou-se quando deu
por ela mas não parou de fumar.
-Isso é o que eu
penso que é? – Perguntou ela.
Ele assentiu enquanto
exalava uma baforada.
-Posso experimentar?
Ele encarou-a e ficou
a olhar para ela de sobrolho levantado. Ela apenas lhe devolvia o sorriso.
Ele passou o cigarro
na direcção dela. Ela apanhou-o desajeitadamente. Levou-o aos lábios.
-Puxa só um
bocadinho, respira o fumo, prende a respiração, conta até 5 e depois deixa sair
o ar. Pouco, para ver se não te engasgas.
Ela tentou fazer como
ele disse mas engasgou-se, tossiu bastante e demorou um bocadinho a
recompor-se!
-Eu avisei-te… -
disse ele enquanto dava outra passa longa.
Ela, já recomposta,
pediu-lhe o cigarro outra vez. Ele deu-lho. Ela puxou menos, desta vez e
conseguiu dar uma passa. O efeito foi imediato e ela, de repente sentiu o tempo
a esticar ligeiramente. Como se tivesse mais tempo para fazer o que fosse.
Percebeu os efeitos e não quis mais, não porque não fosse agradável, mas porque
percebia que a sua tolerância era baixa. Aquilo que jurou a si própria em
relação ao álcool também se aplicava aqui!
Ele fumou o resto!
-Porque é que vieste
fumar?
-Porque aproveitei
para deixar o cabelo secar, sem ligar o secador. Não me queria deitar com o
cabelo húmido! Porque é que ficaste acordada?
-Para te dizer que
quero mesmo muito que o casamento fique fechado. Mesmo muito!
E por um momento
aquele sorriso de que ela se lembrava voltou…