terça-feira, 17 de março de 2015

Ler o “Admirável mundo novo”…



…é justificar o porquê de eu gostar de ler ficção cientifica.
A ficção cientifica, para mim, nada tem a ver com viagens interestelares, homenzinhos verdes e outras coisas afins.
Para mim havia quatro livros de referência:
1984 – George Orwell
Um estranho numa terra estranha – Robert Heinlein
A torre de vidro – Robert Silverberg
Nemesis – Isaak Asimov

E agora junto-lhes mais este.

A Ficção Cientifica explora problemas sociais e encaixa-os num cenário onde podem ser devidamente exageradas. Admirável mundo novo põe em choque o animal humano com a descaracterização da sociedade.
Mas, mais admirável é o facto de essa descaracterização que foi postulada por Huxley se estar a dar agora, neste momento. Aquilo que ele descreveu em 1932 (quase há 100 anos atrás) é, basicamente o mundo em que vivemos agora, mesclado de forma quase imperceptível com aquele que foi postulado por Orwell.
Por um lado temos uma sociedade controlada e vigiada, cada vez mais. Sempre em nome de uma falsa segurança que, na verdade, não existe.
Os nossos telemóveis têm GPS, os nossos passes registam por onde andamos, os nossos cartões de débito e credito registam as nossas transacções, os motores de busca da Internet registam aquilo que vemos e as nossas preferências. Somos controlados a cada passo que damos.
Por outro lado, baixam-se cada vez mais os standards da educação, a exigência do ensino, e bombardeia-se a televisão com programas acéfalos de entretenimento.
Até as artes parecem reflectir isto e a literatura, a música, as artes plásticas são cada vez mais “leves” e desprovidas de conteúdo.

Cada vez mais olho à minha volta e me pergunto se não estaremos neste momento numa encruzilhada em que temos de escolher o que realmente queremos para nós enquanto sociedade. Sinto que vivemos numa ditadura de imbecilidade imposta, mais, procurada.
Os políticos são verbos de encher, pessoas que afirmam alto e bom som “olhem para o que eu digo e não para o que eu faço” com discursos carregados de hipocrisia e sem significância, cheios daquilo que os outros querem ouvir e desprovidos de convicções.
A educação torna-se uma anedota quando todos os alunos têm de passar para não se ficar mal nas estatísticas, onde o grau de exigência se torna anedótico porque há meia dúzia numa turma que não sabe nem quer saber e que, muitas vezes, estão na escola somente porque se não estiverem os pais deixam de receber subsídios.
Vivemos na ditadura das minorias, porque são aqueles que o sistema não consegue conformar. A maioria é, afinal, a carneirada que faz o que deve fazer quando deve fazer.

Mas, apesar de todos os sinais, o mundo não vai mudar. Pertence às corporações, pertence ao grande capital, deixou de pertencer às pessoas. As pessoas deixaram de pertencer às pessoas.

Vivemos num mundo escravizado em que nos submetemos à escravidão por vontade própria…
…e o prior é quando nos apercebemos disso!

A ignorância é felicidade…

…e eu dava tudo para ficar na ignorância!

2 comentários:

  1. Desculpa, mas não resisto em "roubar-te" este teu texto e levá-lo para o meu cantinho, devidamente identificado, claro.

    O Livro não conheço, mas vou lê-lo e pronunciarei-me depois sobre ele...

    ...mas este amor à servidão é de facto uma realidade!

    E, tal como tu, também eu daria tudo para ficar na ignorância!

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  2. Triste a conclusão que chegas… poderia aqui afirmar que não senhor, que tudo menos a ignorância mas não vale a pena. Uma vez vacinados não apanhamos a doença… é essa a nossa sina, “ther is no turning back!”.

    Abraço,
    FATifer

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O QUÊ?!?!? ESCREVE MAIS ALTO QUEU NÂO T'OUVI BEM!