…chego como de costume ao atracadouro do Seixal em cima da
hora, impingem-me o Boletim Municipal, ou seja, o jornal em que a Autarquia
local apregoa tudo o que fez de bom – curiosamente nunca lá aparecem as coisas
que correm mal - , entro disparado pelo terminal, tendo noção de que o barco
apenas parece estar só à minha espera, entro no barco e dirijo-me à cafetaria
onde me junto aos suspeitos do costume (somos quase sempre os mesmos, criaturas
viciadas em cafeína ou que saem da cama tarde demais para tomar o pequeno
almoço em casa), apanho um espaço no balcão e começo a ler o dito boletim, uma
vez que já nem preciso de pedir – as empregadas já nos conhecem a todos…
Ao meu lado está um gajo que trabalhou comigo vai para cima
de uns 25 anos, quando eu me dedicava à nobre arte de ser camionista distribuidor
de gás…
…estão a ver aquele antigo anuncio da Galp em que uma
moçoila andava com a bilha às costas (salvo seja)? Não tem nada a ver. A realidade
era bem pior e nem eu nem o gajo que estava ao meu lado tínhamos qualquer
semelhança com a utópica realidade desse anúncio.
Quando a minha dose de cafeína é colocada à minha frente já
ia a meio do jornal que acabo de ler após ter dado um gole no mesmo (sim o
jornal é mesmo assim tão informativo e interessante).
Dobro o jornal que meto no bolso de trás das calças, para
não me ocupar as mãos, dedico-me de alma e coração ao que é importante (o café)
e volto-me para o meu ex-colega:
-…e foi assim!
-Pois foi. Eu por acaso até já era para te ter falado nisso,
mas depois não te vi, e esqueci-me…
-Não, mas como vês acabei por constatar o mesmo que tu.
-É verdade. Mas eu sabia que ias dar por isso. Podia era
ter-te avisado mais cedo.
-Olha, mas ainda bem que não avisaste que assim vi com os
meus olhos, pá. Quem diria…
-É verdade. Quem diria. Se eu não tivesse visto também era difícil
acreditar…
-Yá…! Mas já agora, estamos a falar de quê?
A senhora que estava do meu outro lado, ficou a meio do gole
que estava a dar na sua meia-de-leite.
-Da tatuagem que a outra fez nas costas…
-Olha, mas eu por acaso estava a falar da cena do Passos
coelho…
-Bem visto. Se quiseres até podemos aplicar isto à cena do
BES…
Fez-se-me de repente luz (coisa que é raro, sobretudo tão
pouco tempo depois do corpo se ter levantado da cama, estando o Tico ainda a
dormir e o Teco bastante ensonado).
-Pá, acabei de ter uma ideia para um negocio inovador!
-Atão?!
-Conversas genéricas!
-Olha, boa. Podias fazer um DVD ou assim…
-Melhor, páh! Faço um livro e depois dou conferências e
workshops por aí… Até já tenho o título: Conversas genéricas: Fale acerca de
absolutamente tudo sem perceber de absolutamente nada.
-Éh páh, isso é apelativo…
-E depois punha entre parêntesis por baixo, como subtítulo:
(pareça inteligente mesmo sem o ser)
A senhora ao meu lado engasgou-se ligeiramente e teve de
pousar a chávena porque ria à gargalhada com o resto do pessoal a olhar para
ela, inclusive eu, esperando perceber a origem daquele ataque de riso…
Entretanto acabei o café, voltei-me para o meu ex-colega:
-Adorei este bocadinho. Não por ser curto, mas mesmo pela
extrema qualidade.
-Olha eu também, bom fim-de-semana.
-Depois dou-te 5% dos royalties da cena…
-Cá fico à espera.
E posto isto fui continuar a ler mais um dos livros do JRS no
meu tablet… (não me perguntem qual que eles são todos iguais… mas um gajo tem
de distrair os neurónios senão…)
Ah e tal a tua ideia lembrou-me isto:
ResponderEliminarhttp://youtu.be/8S0FDjFBj8o
boa sorte…
Abraço,
FATifer