terça-feira, 19 de abril de 2016

A cidade de Polo

Conta-se que a cidade mais distante e longínqua que se conhecia no mundo era um sítio tão a norte, mas tão a norte, mas mesmo tão, tão a norte que quem lá entrava só podia sair para sul! Aliás estava tão perfeitamente a norte que, quando se estava na praça central ia-se sempre para sul.

Era uma cidade aborrecida, por estar sempre gelada. O único sítio que costumava ter alguma animação era o templo dos três sábios, igual a todos os outros templos das outras cidades do mundo, uma replica mais ou menos parecida com o local original onde se dizia que os três tinham tido a epífania, sendo apenas diferente porque tiveram de os fazer maiores, para caber lá mais gente, e mesmo assim só aos sábados à tarde, durante o dia, que eram seis meses, e ainda mais animado durante a noite, os outros seis meses em que nada havia para fazer senão beber o produto da fermentação da cevada a partir de recipientes de sílica derretida a que alguém dera o nome de caneca, vá-se lá saber porquê, acompanhados por tremoços enquanto não se pensava!

Talvez por isso, porque os habitantes passavam grande parte do ano sem pensar, fosse uma cidade absolutamente radical na sua génese. Por ali não só não se pensava como não se raciocinava, meditava, reflectia ou cogitava.

Apesar disso, resolveram adoptar uma democracia como forma de governo. No entanto cedo se aperceberam que o governo da cidade não era famoso. Sobretudo porque nada se decidia. Absolutamente nada! Logo, nada era feito. A cidade esteve muito perto de acabar.
Mas, sendo um local importante, porque era o lugar mais a norte, sendo que se partia sempre de lá para sul, a cidade recebia comissões pelo uso do ponto cardeal. Cada vez que alguém procurava a estrela polar no céu, aparecia um tipo da Sociedade Nmista do Norte e cobrava uma taxa! Cada vez que alguém fazia uma rosa-dos-ventos num mapa, lá aparecia o tipo da SNN…
…e à conta disto a cidade vivia prosperamente embora nada fosse feito lá, nem nada fosse decidido!

Ainda assim o caos reinante, a mais perfeita Anarquia Democrática, tornava cada vez mais chata a já de si chata vida destes habitantes desta cidade tão a norte que tudo lhe ficava a sul!

Esta cidade, que tinha o original nome de Polo, acabou por ter uma ajuda dos aliados dos Radicais, os Absolutistas, que foram apenas para resolver alguns problemas, mas acabaram por ser eleitos, acabando por formar numa elite governante que lá pôs ordem no caos, permitindo assim aos radicais não pensar à vontade! Apesar disto, os radicais odiavam os Absolutistas, uma vez não eram verdadeiros seguidores do mandamento único.
Mas mesmo dentro desta elite, visões diferentes de como o governo devia ser dirigido, o que levou a que aparecessem várias facções que competiam nas eleições umas com as outras e formavam o parlamento. A mais votada das facções elegia um presidente do parlamento que por sua vez se fazia auxiliar de secretários que tratavam de assuntos específicos na cidade. Por exemplo, havia o secretário da importação de produto de fermentação de cevada, o secretário das tremoceiras, o secretário das limpezas de neve…

Foi neste clima que Matatturru, filho de Matturro o grande rei da Lupulónia e responsável pelo nome das baterias de Bagdad chegou a Polo, levando consigo um carregamento de baterias que, por esta altura se haviam tornado imensamente populares por causa da impressão que faziam na língua quando se bebia um sumo de laranja, ou de limão, com o objectivo de espalhar ainda mais a grande obra de Uruk, o pequeno, para além de tentar ganhar algumas moedas com isso, uma vez que por aquelas bandas o preço do produto da fermentação da cevada era exorbitante, e aos tremoços nem se lhes conseguia chegar…

(continua)

4 comentários:

  1. Um mundo utópico ou talvez não.... gostei Gil

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  2. É uma utopia muito embadaralhada...

    ...coisas de outros tempos...

    :)

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  3. Mesmo "embadaralhada" esta utopia parece-me familiar...

    ...ou será consequência de danos psíquicos?

    LOL

    (nem imaginas o que já me escangalhei a rir à pala deste Nmismo)

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    Respostas
    1. Pois,

      Tem algumas semelhanças com situações parecidas, não é?
      É como que vê o "Dias de Tempestade" a seguir ao "Top Gun"...
      ...um gajo fica a pensar "Mas esta história não me é estranha!

      :)

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