terça-feira, 26 de abril de 2016

A cidade de Misândria

Se é verdade que o hábito de beber o fruto da fermentação da cevada por copos de sílica fundida, ou canecas como começavam a ser chamadas segundo o costume que se disseminou da cidade de Polo, também o é que as mulheres não partilhavam do ritual dos sábados à tarde.
Diga-se também que, para a maior parte das mulheres, os rituais de sábado à tarde eram um descanso. Verem-se livres dos homens por umas horas dava-lhes a hipótese de fazerem coisas que normalmente não faziam, como pôr as casas em ordem, porem as conversas em dia e fazerem coisas que só às mulheres diziam respeito e pelas quais os homens tinham pouco ou nenhum interesse.
No entanto, naqueles tempos, alguns grupos de mulheres não viam com bons olhos o facto do ritual Nmista ser um exclusivo masculino. Muitas perguntavam:
-Mas porque é que tem de ser assim? Porque não podemos nós ir também aos templos dos três sábios e passar as tardes a beber produto da fermentação da cevada, sem pensar!
Os homens, por seu turno, nem emitiam uma opinião, sobretudo porque para o fazer teriam de pensar, o que contradiria tudo aquilo em que acreditavam. Para eles, embora não fizessem ideia do porquê, o ritual aplicava-se somente a eles…
Mas o problema agudizou-se na cidade de Misândria. Depois de muitas discussões entre as mulheres, estas resolveram fazer algo que nunca tinha sido feito em toda a história conhecida até então, pelo menos de forma concertada! Uma greve!
Aliás, quando elas disseram que iam fazer uma greve para reivindicar os seus direitos, todos os homens ficaram intrigados, sobretudo porque ninguém tinha ideia do que seria uma greve!
Mas depois lá perceberam que uma greve era alguém deixar de fazer algo que era importante fazer até que lhe fosse reconhecido um direito!
Tendo percebido isto, perceberam que a greve a que as mulheres se propunham poderia trazer alguns problemas! Mas, como sempre, não pensaram muito no assunto!
Já as mulheres, ao anunciarem a greve, afirmaram que não se deitariam com os seus maridos até que lhes fosse reconhecido o direito a juntarem-se a eles no ritual de sábado à tarde!
Ainda assim, como provavelmente podem adivinhar, os homens continuaram a não pensar no assunto por motivos que, por esta altura, já devem ser óbvios.
Mas ao fim de alguns meses a greve começou a causar problemas!
Os dois principais problemas eram os seguintes:

-O nível de agressividade na cidade aumentou. As escaramuças por coisas que noutras alturas não teriam qualquer importância estavam a tomar proporções épicas.

-O número de prostitutas que chegavam de fora até à cidade, vindo atrás de uma procura cada vez maior, produzia uma tensão palpável na cidade, com lutas entre as prostitutas e as esposas dos homens da cidade a ganharem contornos de guerras campais.

Foi o rei Adamash XIV, o Alegre, que quis pôr fim a esta situação, decretando que qualquer mulher que o desejasse se podia juntar aos rituais de sábado à tarde, desde que observasse os mandamentos.

A noticia foi recebida com aclamações por todos, excepto as prostitutas, e começou assim uma nova era…

…que durou apenas algumas semanas.
Foi por esta altura que se descobriu porque é que o ritual era quase um exclusivo masculino:
-É que era impossível a uma mulher não pensar…
…a não ser que estivesse a dormir, e mesmo assim por vezes ainda acontecia!

Apesar de o decreto nunca ter sido revogado, as mulheres foram-se afastando do ritual, uma vez que se viam impossibilitadas de o cumprir. E por fim, tudo voltou a como estava antes, excepto pelo facto de a população masculina de Misândria ter ficado reduzidíssima, visto que muitos homens deixaram a cidade para trás e partiram rumo a outros destinos e do numero de mulheres abandonadas ter subido de acordo com a redução da população masculina!

Algum tempo depois disto os Selvagens destiladores atacaram Misândria e esta, devido ao facto de quase não ter exercito para a proteger, foi a única cidade Nmista que caiu desde os tempos em que a história existia…

6 comentários:

  1. Tás a dizer que a queda, foi culpa das mulheres?
    Hã!? hã!?
    Bota aí uma cerveja e entretanto explica lá isso...

    Bom dia Sô Gil

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    1. LOL

      Eu não atribuo a culpa a ninguém, apenas sou o humilde portador do relato!
      As conclusões são para outros tirarem (ou não, dependendo se são homens ou mulheres - eu por exemplo, sendo homem e provavelmente o único Nmista ainda em existência, não penso no assunto)

      Mas sabes que estas histórias, embora os antigos afirmassem que foi de facto assim, foram tidas mais tarde como simples parábolas, histórias simbólicas. Não sei se a cidade de Misândria existiu realmente, a sua memória perdura, como como a memória de Atlântida!

      Quem sabe esta história não existe apenas para ilustrar o facto de que homens e mulheres são fisiológica e psicologicamente diferentes e que são exactamente essas diferenças que, complementando-se, dão origem a uma maior plenitude em ambos...


      ...ou então é só mais uma parvoíce, coisa que eu pessoalmente advogo!

      :)

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  2. Foi....é assim "Os homens, por seu turno, nem emitiam uma opinião, sobretudo porque para o fazer teriam de pensar, o que contradiria tudo aquilo em que acreditavam "... o que contradiria tudo aquilo em que acreditavam .Gosto de repetir o que gosto. :)

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    1. Eu também...

      ...embora, normalmente não frases...
      ...se bem que olhando para algumas letras que já escrevi...

      ...mmmmm!

      Tenho que meditar nisto...
      (ou quen sabe até raciocinar um pouco...)

      :)

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  3. Os Selvagens atacaram Misândria (aversão, preconceito ou desprezo a pessoas do sexo masculino)?
    Ké ké isso?
    Não pode ser, algo nesta história não bate certo :)))

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    1. Pois, por isso é que os Selvagens são selvagens...
      ...não tem respeito nenhum por nada...

      LOL

      (...e não é que houve alguém que reparou que os nomes das cidades querem dizer alguma coisa...?!?)

      :)

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