sexta-feira, 29 de abril de 2016

Hoje,...

...estava para vos falar da perspectiva Nmista da estranha dualidade da Bolas de Berlim...

...mas não me apetece e vocês devem ter mais que fazer!

quinta-feira, 28 de abril de 2016

Teorias Nmistas: T.I.A. – Teoria da Imbecilidade Associativa

O Necrofagismomacrobioticoexistencialismo deparou-se desde há longo tempo com problemas cuja resolução levou, de forma algo lenta, é certo (pelo facto de não poderem pensar), mas inexorável, à criação da Teoria da Imbecilidade Associativa, doravante aqui referida por TIA.
Foi Uruk, o pequeno, com todo o tempo livre que tinha no exilio e provavelmente estimulado pelos estalos na língua das Baterias de Bagdad que, através da observação directa e pura chegou à formulação desta teoria.
Afinal não é de todo difícil encontrar imbecis, pelo que através de um simples processo de elucubração se pode chegar a conclusões que, embora absolutamente claras e lógicas, podem até ser chocantes para algumas pessoas.
Qualquer organização que seja, num dado momento da sua existência, infiltrada por um imbecil, passa a tender imediatamente para a imbecilidade.
E porquê?
Deve-se isto ao facto de os imbecis conseguirem de tal forma imbecilizar todos os processos que, embora por vezes contra a vontade da maioria, estes ficam tão distorcidos que não há volta a dar. Por norma tem de se refazer todo o processo de forma a desimbeciliza-lo. Claro que isto, dá trabalho, que é uma coisa que ninguém gosta de ter. Assim sendo, a única maneira segura de desimbecilizar um processo é, por norma, retirar  o imbecil da equação.
Ora isto nem sempre é fácil. Existem apenas duas opções para tal:

Opção 1 – o imbecil é despedido e pronto, repõe-se assim o equilíbrio dentro da organização.

Opção 2 – é impossível despedir o imbecil, pelo que, a maneira mais simples de conter os danos é promover o imbecil a um cargo de chefia de um departamento onde não haja imbecis. Há assim a esperança de os subalternos conterem a imbecilidade do chefe.

Na maior parte das vezes é usada a opção 2, visto que a opção 1 acarreta, por norma, problemas com sindicatos e com outros imbecis também. Ora sendo esta opção tão largamente utilizada, o problema sobe de tom, uma vez que entre as próprias chefias se cria um mau estar geral. Assim como quando os imbecis são subalternos começa a haver algum desconforto por causa dos colegas, uma vez que entram às horas que querem, saem às horas que querem, fazem o que querem e quando querem, ninguém lhes dá trabalhos de responsabilidade pela sua reconhecida imbecilidade e quando tem alguma tarefa menor e falham ninguém lhes chama a atenção pelo simples facto de que já se esperava que falhassem, quando eles são promovidos para os cargos de chefia, continuam exactamente no mesmo registo sendo que os quadros superiores acabam por agir da mesma forma, nunca os responsabilizando por nada e desculpando os erros com a frase “coitado, também não se esperava mais dele…”.
 Mas o problema mais grave advêm do facto de que os próprios subalternos, não sendo de todo imbecis, começarem a aperceber-se das vantagens de ser imbecil, ganhando assim tendências para a auto-imbecilização. Por tudo isto o facto de um único imbecil ser autorizado a existir dentro de uma organização pode levar à imbecilização de toda a estrutura produtiva.
Se a organização não tiver uma estrutura suficientemente forte a nível dos seus altos quadros que lhe permita debelar numa altura precoce o alastramento da imbecilidade, verá sem qualquer sombra de dúvida a produtividade descer a pique, sendo que chegará a uma altura em que a sua mera existência é uma imbecilidade.
Mas mais grave ainda é se tudo isto se passar num serviço público. De facto, nos serviços públicos os imbecis vão subindo nas hierarquias pela própria força dos números e, quando chegam ao ponto de serem directores gerais e administradores, por norma o passo a seguir é passarem para a política activa, tornando-se parte das estruturas executivas ou legislativas de um estado.
Infelizmente, esta teoria de Uruk, o pequeno, aquando da sua divulgação, foi recebida com cepticismo por parte da maior parte dos imbecis que a receberam, pelo que nada mudou…
…desde aquela altura perdida na noite dos tempos até aos dias de hoje!

quarta-feira, 27 de abril de 2016

...e ainda outra!

Já toda a gente sabe as mais diversas respostas à pergunta "Porque é que a galinha atravessou a estrada?", mas aquilo que poucos sabem é o que aconteceu quando a atravessou!
Era de noite.
A galinha começa a atravessar...
Na mesma estrada vai um carro em alta velocidade. Quando o condutor chega perto da galinha, vâ-a e, ainda tenta fazer alguma coisa, mas não tem tempo e para não perder o controlo do carro...
...pimba! Achata a galinha! Posto isto lá continua no seu caminho sem ligar nenhuma ao bicho!


Já um bocado depois a galinha levanta-se, espreguiça-se, faz um granda sorriso e diz:
-Fosga-se! Galos destes é que eu gosto...



Como o que tá aqui em baixo é deprimente...

...deixo-vos uma curta:

-Joãozinho, para de comer pasteis de bacalhau, senão ainda rebentas...
-Então dá-me mais um e afasta-te!

(sim, eu sei, é seca)

terça-feira, 26 de abril de 2016

A cidade de Misândria

Se é verdade que o hábito de beber o fruto da fermentação da cevada por copos de sílica fundida, ou canecas como começavam a ser chamadas segundo o costume que se disseminou da cidade de Polo, também o é que as mulheres não partilhavam do ritual dos sábados à tarde.
Diga-se também que, para a maior parte das mulheres, os rituais de sábado à tarde eram um descanso. Verem-se livres dos homens por umas horas dava-lhes a hipótese de fazerem coisas que normalmente não faziam, como pôr as casas em ordem, porem as conversas em dia e fazerem coisas que só às mulheres diziam respeito e pelas quais os homens tinham pouco ou nenhum interesse.
No entanto, naqueles tempos, alguns grupos de mulheres não viam com bons olhos o facto do ritual Nmista ser um exclusivo masculino. Muitas perguntavam:
-Mas porque é que tem de ser assim? Porque não podemos nós ir também aos templos dos três sábios e passar as tardes a beber produto da fermentação da cevada, sem pensar!
Os homens, por seu turno, nem emitiam uma opinião, sobretudo porque para o fazer teriam de pensar, o que contradiria tudo aquilo em que acreditavam. Para eles, embora não fizessem ideia do porquê, o ritual aplicava-se somente a eles…
Mas o problema agudizou-se na cidade de Misândria. Depois de muitas discussões entre as mulheres, estas resolveram fazer algo que nunca tinha sido feito em toda a história conhecida até então, pelo menos de forma concertada! Uma greve!
Aliás, quando elas disseram que iam fazer uma greve para reivindicar os seus direitos, todos os homens ficaram intrigados, sobretudo porque ninguém tinha ideia do que seria uma greve!
Mas depois lá perceberam que uma greve era alguém deixar de fazer algo que era importante fazer até que lhe fosse reconhecido um direito!
Tendo percebido isto, perceberam que a greve a que as mulheres se propunham poderia trazer alguns problemas! Mas, como sempre, não pensaram muito no assunto!
Já as mulheres, ao anunciarem a greve, afirmaram que não se deitariam com os seus maridos até que lhes fosse reconhecido o direito a juntarem-se a eles no ritual de sábado à tarde!
Ainda assim, como provavelmente podem adivinhar, os homens continuaram a não pensar no assunto por motivos que, por esta altura, já devem ser óbvios.
Mas ao fim de alguns meses a greve começou a causar problemas!
Os dois principais problemas eram os seguintes:

-O nível de agressividade na cidade aumentou. As escaramuças por coisas que noutras alturas não teriam qualquer importância estavam a tomar proporções épicas.

-O número de prostitutas que chegavam de fora até à cidade, vindo atrás de uma procura cada vez maior, produzia uma tensão palpável na cidade, com lutas entre as prostitutas e as esposas dos homens da cidade a ganharem contornos de guerras campais.

Foi o rei Adamash XIV, o Alegre, que quis pôr fim a esta situação, decretando que qualquer mulher que o desejasse se podia juntar aos rituais de sábado à tarde, desde que observasse os mandamentos.

A noticia foi recebida com aclamações por todos, excepto as prostitutas, e começou assim uma nova era…

…que durou apenas algumas semanas.
Foi por esta altura que se descobriu porque é que o ritual era quase um exclusivo masculino:
-É que era impossível a uma mulher não pensar…
…a não ser que estivesse a dormir, e mesmo assim por vezes ainda acontecia!

Apesar de o decreto nunca ter sido revogado, as mulheres foram-se afastando do ritual, uma vez que se viam impossibilitadas de o cumprir. E por fim, tudo voltou a como estava antes, excepto pelo facto de a população masculina de Misândria ter ficado reduzidíssima, visto que muitos homens deixaram a cidade para trás e partiram rumo a outros destinos e do numero de mulheres abandonadas ter subido de acordo com a redução da população masculina!

Algum tempo depois disto os Selvagens destiladores atacaram Misândria e esta, devido ao facto de quase não ter exercito para a proteger, foi a única cidade Nmista que caiu desde os tempos em que a história existia…

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Continuação da história de Balbaaq, o Asqueroso



Os Resguardadores eram uma profissão que tinha surgido entre os Bárbaros!
Quando alguém tinha algo muito valioso ou a que estimava bastante, fosse uma jóia, uma estátua, uma carroça, uma casa ou até mesmo uma mulher, podia dirigir-se a um Resguardador.
Este, inquiria o proprietário acerca do bem e de que o queria resguardado, avaliava o risco e propunha uma quantia que teria de lhe ser paga anualmente para o bem ficar Resguardado.
Por exemplo, o valor de resguardo de um palácio numa zona de conflito era bastante mais elevado do que o de um palácio idêntico numa zona pacífica. Ou o valor de Resguardo contra inundações de uma colheita numa zona de inundações era muito maior do que que o Valor do mesmo tipo de resguardo numa zona onde estas não fossem comuns!
Claro que, caso houvesse algum dano na propriedade enquanto o contrato estava válido e esse dano constasse no contrato, o Resguardador pagaria por inteiro o valor do bem danificado, resolvendo assim o contrato.

Balbaaq, após adquirir as Torres dos Três Sábios por uma quantia fabulosa, dirigiu-se ao mais conhecido dos Resguardadores da Vinlândia, reino bárbaro mais próximo de Shamash com quem havia boas relações comerciais, e Resguardou as torres. No entanto, embora tivesse de despender mais dinheiro, Resguardou-as pelo triplo daquilo que lhe tinham custado.

Entretanto, fez algumas modificações nas torres, alugando terraços para os ricos e poderosos cujo valor aumentava conforme se subia na torre. Fez apenas uma excepção, reservando o penúltimo terraço para si e o superior que foi oferecido a Shimiu, o Obtuso, atitude que agradou imenso ao rei.

Durante algum tempo a situação manteve-se assim enquanto Balbaaq, o Asqueroso, observava com vivo interesse as batalhas entre os Barbaros da Vinlândia e os Selvagens de Exudax. Os Bárbaros ganhavam cada vez mais vantagem, destruindo as culturas de tremoço e substituindo-as por cevada, encarecendo os tremoços contrabandeados a um ponto que deixou de ser rentável, anulando assim as fabulosas margens de lucro que tinham feito de Balbaaq um dos homens mais ricos de Shamash, e quem sabe do mundo.

Foi então que o desastre aconteceu.
Numa única noite, incêndios que deflagraram em ambas as torres destruíram-nas por completo. Para grande desgosto dos habitantes de Ashtram as torres foram reduzidas a ruínas, causando estragos enormes e incontáveis mortes por toda a cidade. Nas ruínas das torres foram descobertas garrafas de produto da fermentação do mosto e rapidamente foi acusado um dos lideres guerreiros radicais dos Bárbaros, Osiah, o Fanático.

Algo assim não devia passar impune e, assim sendo, Shimiu não teve outra alternativa senão declarar guerra aos Bárbaros. Estes, estando a lutar em duas frentes, foram rapidamente subjugados pelos superiores exércitos de Shamash, fazendo com que os Selvagens recuperassem o seu território original. Shamash, ocupou a Vinlândia e, com a desculpa das escaramuças que ainda havia com guerreiros Vinlandeses que se refugiaram nos montes e recusaram a assumir a derrota, mantiveram o território ocupado, colocando no governo do mesmo alguns poderosos locais cuja lealdade pendia conforme a sua disposição para se submeterem à vontade de Shamash. A cevada fluía da Vinlândia para Shamash a preços nunca antes vistos, resolvendo de vez o problema da escassez de produto da fermentação da cevada.

E Balbaaq?
Bem, esse acabou por receber o triplo do que tinha pago pelas torres, reconstruiu-as para alegria da população da Ashtram, embora tenha tornado o acesso a elas mais caro, desculpando-se com os custos da reconstrução, e voltou a ter lucros fabulosos com o contrabando de tremoços de Exudax, multiplicando rapidamente a sua fortuna.

Mas a maior consequência disto foi que nunca mais houve um dia de paz naquela região, à excepção do deserto de Shamar, que continuava a ser tão quente, mas tão quente, que ninguém lá ia!


quarta-feira, 20 de abril de 2016

Balbaaq, o Asqueroso

Sendo o mundo conhecido por aquela altura quase todo Nmista, seguindo mais ou menos à risca, conforme as facções os preceitos do Necrofagismo Macrobiotico Existêncialismo, a verdade é que subsistiam ainda reinos bárbaros onde os mesmos não eram observados.

Havia povos que preferiam o produto da fermentação do mosto, sendo que outros, absolutamente selvagens, que destilavam o produto anterior e o próprio produto da fermentação da cevada em aguardentes e whisky. Para lá dos limites Nmistas, a selvajaria parecia não ter qualquer limite!

No entanto, reinos limítrofes como o de Shamash, cuja principal cidade era Ashtram, à beira do deserto de Shamar, faziam frequentemente trocas comerciais com reinos barbados, cujos produtos podiam ser obtidos com menos custo que a importação de dentro da zona Nmista.

Ashtram prodizia sobretudo limões, fruto cada vez mais na moda devido às baterias de Bagdad cuja popularidade crescia exponencialmente, fazendo com que Uruk, o pequeno, embora no exilio em terras barbaras, continuava a receber percentagens pelas vendas, o que fazia dele rico e respeitado.
Ashtram, no entanto, via-se vítima do seu crescimento, não conseguindo produzir cevada suficiente, pelo que tinha de a importar para suprir a crescente demanda.

Pior que isso, não produzia tremoços, e os importados eram caríssimos, pois vinham de longe, do outro lado do grande mar de Atlen, do grande reino de Faboideae. Por outro lado, os dos selvagens que viviam depois do deserto de Shamar eram mais baratos, mas a importação de lá não era vista com bons olhos, visto que os destiladores eram muito, mas mesmo muito mal vistos pelos Nmistas.
Mas à medida que a cidade crescia, o problema tornava-se mais evidente.

Nos tempos do grande rei Shimiu, o Obtuso, o problema tornou-se tão grave que, para não haver falta de tremoço nem cevada, o reino precisava desesperadamente de dinheiro. Então viraram-se para o único que os poderia ajudar.

Balbaaq, o Asqueroso, não era assim chamado por ser pequeno, raquítico, irritante e parecido com uma verruga enrugada retirada do rabo de alguém, mas sim porque era a mais vil criatura alguma vez vista sobre a terra e debaixo dos céus e isto era quando queríamos falar dele de uma forma simpática. Não era boa pessoa…

No entanto, fruto do contrabando ilegal de tremoço dos selvagem destiladores estava riquíssimo. Mas começava a ter um grave problema, visto que, após uma guerra entre selvagens e bárbaros, os bárbaros conquistavam terreno onde deixavam de produzir tremoço e produziam cevada, o que era bom para a cidade, visto que os preços baixavam, mas mau para ele.

Foi neste clima que Shimiu, o Obtuso, em desespero se lhe dirigiu, pedindo-lhe um empréstimo de uma soma inominável para conseguir pôr as finanças da cidade em ordem. E foi neste clima que ele viu uma oportunidade.

Balbaaq, o Asqueroso, acedeu a conceder o dinheiro, mas nunca como empréstimo. Propunha-se a comprar as torres dos três sábios, famosas no mundo inteiro por serem altas. Muito altas. Mesmo, mesmo muito altas. Tão altas que custava a respirar no topo. Tão altas que os telhados estavam sempre cobertos de neve, apesar do calor abrasador à superfície. Tão altas que raramente se via o topo por causa das nuvens.

Shimiu, o Obtuso, não achou aquilo boa ideia. Afinal havia quem viesse de longe para beber o produto da fermentação da cevada gelado no cimo das torres. Mas a situação era desesperada e ele acabou por aceder.


No dia seguinte Balbaaq, o Asqueroso, dirigiu-se às terras barbaras onde havia alguns Resguardadores...

(continua)

terça-feira, 19 de abril de 2016

Continuação da história da cidade de Polo

-Para sempre sejam elevados os três sábios! Que nunca vos faltem tremoços nem o produto da fermentação da cevada. – disse Matatturru, com a sua voz sonante e límpida quebrando o silêncio quase religioso do templo dos três sábios, estilhaçando-o mesmo, parecendo que repente que o silêncio tinha caído ao chão e se tinha desfeito em mil pedaços, como se o próprio silêncio naquele espaço estivesse tão congelado como congelada estava a noite que durava já há quatro longos meses por aquelas palavras.

Os olhares que o encararam, olhos azuis e frios em rostos pálidos e angulosos, ao mesmo tempo inquiridores e cheios de desprezo por alguém que certamente não era daquelas paragens.
-Que os teus recipientes de sílica derretida sempre se encontrem cheios. – Rosnou-lhe o que estava mais próximo dele, devolvendo a saudação ancestral de uma forma áspera e seca.
Todos os que estavam no Templo se aproximaram de repente, com os olhares duros e frios, rodeando-o, com caras de poucos amigos, deixando-lhe apenas como via de fuga a porta que dava para a cidade gelada atrás de si.

Nunca Matatturru tinha sido recebido assim em lugar algum. Começava a desconfiar que aquela viagem até Polo podia afinal não ter sido tão boa ideia como lhe parecera quando sufocava de calor em Ashtram, na orla do escaldante deserto de Shamar, o sítio que é tão quente, mas tão quente que se pode estrelar um ovo à sombra, um sítio tão quente que quando um homem vai mictar a urina se evapora antes de tocar no chão, um sítio tão quente que para beber água nos raros poços que há tem de se descer ao poço, porque se se lançar um balde para apanhar água ela evapora antes de chegar à superfície, tão quente que para ferver água para um café depois do jantar basta levantar uma pedra e pôr uma chaleira lá debaixo por dez minutos, e tão desolado, mas tão desolado que nem areia tinha, só pedras escaldantes onde nada, mas mesmo nada crescia! Sair dali para ir para um sítio mais fresco parecera-lhe uma excelente ideia, se bem que quando ainda estava longe de Polo estivesse já a pôr em causa a ideia, mas agora, aqui rodeado por estes vigorosos gigantes pouco amistoso, por pouco não lhe passavam pensamentos pela cabeça. Graças aos três sábios que assim não era!

-Sois um dos Absolutistas?
Pareceu a Matatturru que havia ali alguma animosidade em relação aos Absolutistas. Matutou um pouco e respondeu:
-Mas claro que não! A minha verdadeira fé é o mandamento único do qual homem algum se deve desviar: Não pensarás!

As faces fechadas abriram-se de repente num sorriso largo, e a atitude dos presentes mudou repentinamente e trouxeram-lhe produto da fermentação da cevada em canecas, cujo o nome ele estranhou, visto que nunca lhe passara pela cabeça chamar-lhe outra coisa que recipiente de sílica derretida, o que era normal, visto que não pensava, mas explicaram-lhe que um estrangeiro que por ali tinha passado tinha chamado caneca aos recipientes de sílica derretida e eles acharam muito mais prático chamar áquilo caneca, ao invés de recipiente de sílica derretida e ele gostou do nome e foi recebido como um irmão que chega de longe e se junta ao resto da família que o esperava já há muito, e deram-lhe tremoços e guardanapos de papel e convidaram-no e juntar-se a eles e a contar novas histórias de terras longínquas que eles já estavam fartos sempre das mesmas e já tinham ouvido a história do urso de estimação de Olgaf, o Hirsuto e já não o podiam ouvir mais e celebraram como já não se celebrava há muito.

Muito mais tarde, conversava Matatturru com Olgaf, o Hirsuto, depois de ouvir a história do urso de estimação umas duas vezes quando este lhe disse com genuína alegria no olhar:
-Estou mesmo feliz que sejas um verdadeiro crente! Nós odiamos os Absolutistas!
Matatturru sabia que havia animosidades, mas eram aliados. Era raro um sentimento destes.

-Mas porquê, irmão?
-Porque nos governam! E nos roubam a maior parte daquilo que tanto nos custa a ganhar, a taxa de utilização do Polo!
-Pois! Mas eles são assim tantos para vos dominar desta maneira?
-Não, são um punhado deles!
-Então porque não vos revoltais?
-E porque havíamos de fazê-lo? Vivemos, afinal, numa democracia…
-Numa democracia?
-Então mas não me havíeis dito que eles são poucos…
-De facto são…
-Então quem vota neles?
-Nós, quem mais?
-Mas isso quer dizer que os podíeis substituir em qualquer altura…
Olgaf olhou para ele, estupefacto! Depois de alguns segundos a olhá-lo acabou por dizer:
-Não percebi!
-Então, se é uma democracia, se sois vós que votais, porque os elegeis a eles?
-Porque se não os elegermos e votarmos neles ainda acabamos por votar em alguém pior.
-Então porque os odiais, se sois vós quem lhes dá o poder?

Runlaf, o Bisonte, assim conhecido porque era tão grande como um, ouvia a conversa da mesa ao lado, pousou a sua caneca e encarou Matatturru.
-Irmão, aquilo que fazeis… Essas perguntas… - levantou-se e inclinou-se por cima de Mataturru que se encolheu na cadeira tremendo – Acaso sois vós um espião Absolutista? Não estareis vós a raciocinar?
Outros olhos olharam-no inquiridores.
-Pelos três sábios, acusais-me de tal acto que nem a palavra ouso pronunciar? Pondes em causa a minha palavra? Pela maldição do Grande Olho na Muralha de Stix que assim não é!
-Então porquê as perguntas?
-Sou de fora! Quero saber os costumes locais! Não pretendo ofender algum dos meus irmãos inadvertidamente…
A explicação parecia razoável e os ânimos serenaram!

Mais tarde Mataturru ficou a saber que não tinham limões por ali e, não podendo fazer nada com as Baterias de Bagdad, acabou por rumar a paragens mais quentes…

A cidade de Polo

Conta-se que a cidade mais distante e longínqua que se conhecia no mundo era um sítio tão a norte, mas tão a norte, mas mesmo tão, tão a norte que quem lá entrava só podia sair para sul! Aliás estava tão perfeitamente a norte que, quando se estava na praça central ia-se sempre para sul.

Era uma cidade aborrecida, por estar sempre gelada. O único sítio que costumava ter alguma animação era o templo dos três sábios, igual a todos os outros templos das outras cidades do mundo, uma replica mais ou menos parecida com o local original onde se dizia que os três tinham tido a epífania, sendo apenas diferente porque tiveram de os fazer maiores, para caber lá mais gente, e mesmo assim só aos sábados à tarde, durante o dia, que eram seis meses, e ainda mais animado durante a noite, os outros seis meses em que nada havia para fazer senão beber o produto da fermentação da cevada a partir de recipientes de sílica derretida a que alguém dera o nome de caneca, vá-se lá saber porquê, acompanhados por tremoços enquanto não se pensava!

Talvez por isso, porque os habitantes passavam grande parte do ano sem pensar, fosse uma cidade absolutamente radical na sua génese. Por ali não só não se pensava como não se raciocinava, meditava, reflectia ou cogitava.

Apesar disso, resolveram adoptar uma democracia como forma de governo. No entanto cedo se aperceberam que o governo da cidade não era famoso. Sobretudo porque nada se decidia. Absolutamente nada! Logo, nada era feito. A cidade esteve muito perto de acabar.
Mas, sendo um local importante, porque era o lugar mais a norte, sendo que se partia sempre de lá para sul, a cidade recebia comissões pelo uso do ponto cardeal. Cada vez que alguém procurava a estrela polar no céu, aparecia um tipo da Sociedade Nmista do Norte e cobrava uma taxa! Cada vez que alguém fazia uma rosa-dos-ventos num mapa, lá aparecia o tipo da SNN…
…e à conta disto a cidade vivia prosperamente embora nada fosse feito lá, nem nada fosse decidido!

Ainda assim o caos reinante, a mais perfeita Anarquia Democrática, tornava cada vez mais chata a já de si chata vida destes habitantes desta cidade tão a norte que tudo lhe ficava a sul!

Esta cidade, que tinha o original nome de Polo, acabou por ter uma ajuda dos aliados dos Radicais, os Absolutistas, que foram apenas para resolver alguns problemas, mas acabaram por ser eleitos, acabando por formar numa elite governante que lá pôs ordem no caos, permitindo assim aos radicais não pensar à vontade! Apesar disto, os radicais odiavam os Absolutistas, uma vez não eram verdadeiros seguidores do mandamento único.
Mas mesmo dentro desta elite, visões diferentes de como o governo devia ser dirigido, o que levou a que aparecessem várias facções que competiam nas eleições umas com as outras e formavam o parlamento. A mais votada das facções elegia um presidente do parlamento que por sua vez se fazia auxiliar de secretários que tratavam de assuntos específicos na cidade. Por exemplo, havia o secretário da importação de produto de fermentação de cevada, o secretário das tremoceiras, o secretário das limpezas de neve…

Foi neste clima que Matatturru, filho de Matturro o grande rei da Lupulónia e responsável pelo nome das baterias de Bagdad chegou a Polo, levando consigo um carregamento de baterias que, por esta altura se haviam tornado imensamente populares por causa da impressão que faziam na língua quando se bebia um sumo de laranja, ou de limão, com o objectivo de espalhar ainda mais a grande obra de Uruk, o pequeno, para além de tentar ganhar algumas moedas com isso, uma vez que por aquelas bandas o preço do produto da fermentação da cevada era exorbitante, e aos tremoços nem se lhes conseguia chegar…

(continua)

segunda-feira, 18 de abril de 2016

Continuação da Parábola do Grande Olho na Muralha



Entretanto, no cimo da muralha apareceu um outro homem. Assim que ele apareceu, a multidão deixou de dar atenção enquanto o homem gritava, a plenos pulmões:
-Esta diversão é-vos oferecida por Blbaaq, o fermentador de cevada real… - e começou a enumerar virtudes da cevada fermentada pelo mesmo.
A multidão ou ignorava-o por completo ou vaiavam-no e diziam para ele se despachar.
Aproveitando o momento, Uruk, o pequeno, voltou-se para uma outra pessoa que estava por ali e perguntou:
-Irmão, sou de fora e não compreendo. Podíeis esclarecer-me acerca dos eventos que presencio?
-De onde vindes, irmão? – perguntou o outro curioso.
-Dar terras para além das montanhas e vales, planaltos e desertos e para lá dos mares.
-Sois, pois um Nmista?
-Graças aos três sábios assim é.
-Para sempre sejam elevados os três sábios! Que nunca te faltem tremoços nem o produto da fermentação da cevada.
-Que os teus recipientes de sílica derretida sempre se encontrem cheios.
-Sois um dos Radicais?
Uruk ficou nervoso, não sabendo ao certo onde se encontrava. Respondeu simplesmente:
-Não!
-Presumo então que sejais um dos Absolutistas, visto que os cães Cientologistas são proscritos…
-Claro, irmão!
-Pois que haveis chegado à riquíssima cidade de Stix, a cidade do fim-do-mundo!
-Riquíssima?
-Sim!
-Mas os vossos campos só têm pó e ervas daninhas, o vosso gado passa fome, a cidade parece deserta…
-…mas isso apenas porque estamos a meio da segunda temporada de “o Grande olho na muralha”
-O grande olho na muralha?
-Sim! Todos os anos são escolhidos seis homens e seis mulheres que são fechados numa casa dentro das muralhas. Depois, os vigias relatam dia a noite os acontecimentos lá de dentro.
-Mas o que é que isso tem de tão interessante?
-Tudo! Vamos seguindo as interacções a cada instante do dia ou da noite para, ao fim de sete dias, decidirmos por votação qual das pessoas ainda la presentes tem de sair. Isto faz com que durante três meses vão saindo pessoas até que sobre apenas uma.
-E o que acontece às que saem?
-Normalmente recebem grandes presentes e honrarias durante o dia da saída, mas depois mais ninguém se lembra delas.
-E qual é o objectivo afinal?
-Bem, o ultimo que lá ficar ganha um suprimento vitalício de produto da fermentação da cevada e de tremoços! Algo que não se pode desprezar, não é verdade?
-Mas, quando chega ao fim dos três meses o que acontece?
-Faz-se uma festa com a saída do último e escolhem-se outros doze para ir para lá para dentro!
-E a cidade?
-Bem, essa ainda está no mesmo sítio, não está?


Descobriram depois que era impossível arranjar acomodações, visto que todos os estalajadeiros estavam na arena, bem como todos os comerciantes…
…bem, a bem da verdade toda a cidade, excepto o guarda do portão, que era rendido de 12 em doze horas.
Acabaram por sair da cidade e procuraram refúgio numa aldeia já algo distante, onde puderam beber produto da fermentação da cevada e comer tremoços em paz, retemperando as forças para seguirem para outros lugares.
Anos mais tarde ouviram falar de Stix, a cidade fantasma em que todos os habitantes haviam sido descobertos mortos de fome numa arena em volta de muros altos. Dizia-se que a cidade tinha sido amaldiçoada por um grande olho numa muralha…

Parábola do Grande Olho na Muralha

Se hoje em dia há algum conhecimento quer de Uruk, o pequeno, assim chamado pela sua extrema humildade perante os outros e o mundo, e não por causa de ter dois metros e cinco e ter a constituição de um touro, foi por causa da descoberta dos manuscritos do mar morto, que faziam referencias claras a figuras importantes do Nmismo, bem como a figuras de civilizações muito mais recentes, como a Suméria ou a Egípcia.

Um dos textos conta uma história, considerada mais uma alegoria ou uma parábola do que uma realidade concreta, que se passa quando, após os Nmistas Absolutistas, com a ajuda dos Nmistas radicais, terem conseguido tornar proscrita a corrente Cientologista, Uruk se viu forçado a viajar incógnito junto com o seu ajudante, Matatturru, filho do grande rei Matturru.

Depois de muitos, muitos, muitos, muitos, muitos, mas mesmo muitos dias de viagem, em que atravessaram vales e montanhas, planícies, desertos, planaltos, glaciares e até um ou outro mar nunca de antes navegado, chegaram a uma zona em redor de uma cidade que parecia muito, muito antiga. Toda a zona era de uma devastação constrangedora, os campos abandonados, os animais magros e com fome, as ervas daninhas cresciam como ervas daninhas, no ar o pó dos campos ressequidos elevava-se como uma cortina que tornava o ar espesso.
A cidade, que quase parecia em ruínas, estava estranhamente quieta.
Uruk, o pequeno, entrou na cidade junto com o seu aprendiz. À excepção de um guarda nos portões que não parecia muito bem-disposto e que nem lhes ligou importância, estava completamente deserta.
As tavernas estavam abertas, mas não havia ninguém. No ferreiro um aprendiz com cara desconsolada mantinha o fogo vivo, mas não se via o ferreiro em lado nenhuma malhar o ferro. O mercado estava vazio. Parecia uma cidade fantasma.
Mas eis que ouvem um rumor de uma multidão, e dirigiram-se nessa direcção.
Lá chegados encontraram um cenário como nunca tinham visto.
Havia uma enorme arena circular que tinha no seu centro muralhas altas, muito altas, que tornavam impossível ver fosse o que fosse lá para dentro. Aparentemente toda a população da cidade se concentrava na arena em volta dos muros com uma atenção e fervor quase religiosos. No cimo das muralhas havia alguns homens que gritavam para a multidão que, ora recebia as notícias com enorme satisfação ou com um burburinho de desalento, mas ninguém arredava pé.
Intrigado, Uruk aproximou-se de um dos locais.
-Saudações irmão… - disse ele à pessoa mais próxima - …acabo de chegar de uma longa viagem em que atravessei montes e vales, planícies, desertos, glaciares e até mares nunca de antes navegados, procuro mesa e repouso…
-As tavernas e as hospedarias ficam lá atrás… - disse o outro apontando vagamente uma direcção e dando o assunto como encerrado logo ali, virando de imediato a sua atenção para um dos homens no alto da muralha que gritava tão alto como podia:
-Yoannus, o mestre das armas, acabou de se reconciliar com Sasha, a ruiva, e partilham agora o leito. Sahrah, a rival de Sasha, prometeu vingança!
-Ohhhhhhhhhh! - Disse a multidão, em uníssono.
-E bem feito para a Sahrah! – Gritou uma velhota de repente.
-Bem feito? - Gritou uma outra voz de mulher – A Sasha é que é uma autêntica prostituta. Mete-se debaixo de qualquer coisa que tenha olhos…
-Diz lá isso outra vez, se queres ver… - gritou a velha!
-A Sasha é uma prostituta babilónica sifilosa! – Respondeu a outra.
-Eu dou-te a prostituta babilónica sifilosa! – e com isto gerou-se ali uma confusão enorme entre a velhota e a outra, sendo que não só ninguém fez menção de separar as duas mulheres como se juntaram à volta delas até a fazer apostas enquanto ambas lutavam na lama da arena.*


Uruk estava estupefacto com aquilo a que assistia…



* Há quem diga que foi deste episódio que surgiram, eras mais tarde, as lutas de Wrestling feminino na lama




sexta-feira, 15 de abril de 2016

As correntes Nmistas

O começo do Nmismo, ao contrário do que seria de esperar, porque normalmente há alguma resistência a novas ideias por parte dos que não estão preparados para as abraçar ou seja, por todos quantos não as tiveram, foi auspicioso!
Os muito poucos ao longo da História que se debruçaram sobre este fenómeno nunca encontraram uma explicação para este facto. No entanto muito sempre suspeitaram que isso se deveu ao facto de os Nmistas, por norma, passarem as tardes de sábado reunidos a beber o produto da fermentação da cevada a partir de pequenos recipientes de sílica derretida e a comer tremoços, sem pensarem! Esta tradição manteve-se até aos dias de hoje, embora o Nmismo tenha já desaparecido há muito. Ainda hoje, durante os sábados e os domingos à tarde, milhares se reúnem com o propósito de beber o produto da fermentação da cevada e a comer tremoços sem pensar. O problema é que na altura os lugares de reunião não tinham ainda TV´s de grande formato e o futebol ainda não tinha sido inventado pelo que, ao fim de algum tempo as reuniões começaram a ficar aborrecidas.
Foi nesta altura que o Nmismo acabou por se dividir em duas correntes distintas:

-O Nmismo radical, que impunha a obrigatoriedade de beber o produto da fermentação da cevada de recipientes de sílica derretida sem pensar, mas que era tão aborrecido que não demorou muito a ganhar um certo cunho religioso

-O Nmismo racional, que advogava que o mandamento único “Não pensarás” não implicava que não se pudesse raciocinar, meditar, cogitar ou até mesmo reflectir sobre um assunto

O Nmismo racional acabou por ganhar muitos mais adeptos, simplesmente porque não era tão chato, mas o seu sugimento pôs logo em causa o facto de ninguém saber ao certo o que era um electrocardiografo nem um electrencefalografo, problema este que nunca se tinha posto antes nem se punha à corrente radical, simplesmente porque não pensavam nisso!

Os racionais chegaram à conclusão que tais coisas não existiam nem nunca tinham existido o que punha em causa toda a fundação desta filosofia existencialista.

Foi Oratestes de Pua, talvez o mais brilhante Racionalista daquele tempo o primeiro a tentar conciliar esta questão, afirmando que a criação seja do que for está na sua conceptualização e não na sua manufactura, pelo que o electrocardiografo e o electroencefalografo tinham sido criados de facto pelos três sábios cujo nome se tinha perdido já por aquela altura, o que foi pena, pois graças a esta linha de pensamento ainda hoje os seus descendentes teriam direito a "royalties" pela patente!
No entanto, isto veio a criar duas novas correntes no Nmismo Racional:

-O Nmismo Racionalista Absoluto, que afirmava que, uma vez que o conceito estava criado, o electrocardiografo e o electroencefalografo haviam de aparecer quando o mundo estivesse preparado para eles

-O Nmismo Racionalista Cientológico, que afirmava que se ainda não existiam, nem se sabia quando ou se existiriam, o melhor era inventarem eles próprios o electrocardiografo e o elecroencefalografo.

Os Absolutistas afirmavam categoricamente que nunca se poderia ter a certeza de que um electrocardiografo ou um electroencefalografo produzido pelos cientologistas seriam de facto um electrocardiografo ou um electroencefalografo de acordo com o que tinha sido definido pelos antigos. Afirmavam mesmo ser uma blasfémia tentar criar tais coisas. Começaram até a acusar o Cientologistas de pensar, o que não caiu bem!

Já os Cientologistas achavam os Absolutistas uns patetas enquanto gastavam tudo o que podiam reunir em mansões para os seus líderes e também usavam uma pequena parte para financiar o desenvolvimento do electrocardiografo e do electroencefalografo. No entanto viam constantemente os seus esforços frustrados pelo simples facto de ainda não ter sido inventada a electricidade, e começaram a ficar ressentidos pelo ar de gozo com que eram encarados pelos Absolutistas. Este ressentimento, a par com a cada vez maior influência monetária e política dos Cientologistas, levou-os a tentar controlar toda a cevada, limitando assim o acesso quer aos Absolutistas, quer aos Radicais.

Os Absolutistas, por sua vez, tomaram conta de toda a produção de tremoços, criando assim um braço de ferro entre as duas facções que durou algumas gerações.

Mas no fim tudo se precipitou quando os Radicais declararam uma guerra contra todos os falsos Nmistas afirmando que todos deviam ter acesso ao produto da cevada fermentada, bem como aos tremoços, visto que a situação tornava incrivelmente aborrecias as reuniões semanais em que se limitavam a não pensar!

Os Absolutistas, por conveniência, puseram-se do lado dos Radicais, uma vez que eram estes que continuavam a produzir os recipientes de sílica derretida e deu-se assim a primeira guerra Nmista, que culminou com a prisão dos líderes Racionalistas Cientologistas bem como a proibição daquela corrente.
Ainda assim,  foi Uruk, o pequeno, um dos poucos líderes que conseguiu escapar ao cruel destino de todos os outros (ser encerrado dentro das próprias mansões com todas as mordomias mas proibidos de falar a toda a imprensa excepto às revistas Vidas e Caras e à CMTV desde que não tocassem nunca em assuntos Nmistas ou relacionados) que, fugido para as bandas da Babilónia fez uma descoberta notável:

Se pegasse num vaso de barro, o enchesse de sumo de limão e depois pusesse lá dentro um cilindro de cobre e por dentro deste pusesse uma barra de ferro e depois fizesse a língua tocar no cilindro de cobre e na barra de ferro sentiria umas comichões esquisitas na ponta da língua.
Quando mostrou esta sua invenção ao seu aprendiz, Matatturru, o filho de Matturro, o rei do grande reino de Lupulónia, reino abastadíssimo por ser o único sítio no mundo onde se produzia o Lúpulo necessário para manter o produto da fermentação da cevada fresco, após a fermentação, este sorriu e afirmou:

-Eina, man, isto é memo p'ra lá de Bagdad... - e foi assim que a invenção se tornou conhecida como a Bateria de Bagdad!

Mal ele sabia as implicações que esta descoberta teria no futuro…


quinta-feira, 14 de abril de 2016

O mandamento único Nmista

Uma das primeiras coisas que ocorreu aos três sábios logo a seguir à criação do Necrofagismomacrobioticóexistencialismo, após se terem apercebido que se tinham apercebido que o Universo era absurdo porque evoluía sempre da simplicidade para a complexidade o que criava conjuntos inteiros de problemas que simplesmente não existiam antes da evolução, é que precisavam da simplificação mais absoluta por forma a encontrar a unicidade de tudo, pelo que resolveram beber mais algum do produto da fermentação da cevada a partir de pequenos recipientes de sílica fundida enquanto, meditavam, cogitavam e reflectiam, respectivamente cada um deles, acerca de como chegar a essa simplificação.

E ficaram muito tempo nisto! Não porque tivessem pressa em chegar a uma conclusão, porque na verdade não tinham e se o Universo já esperara tanto, bem que podia esperar mais um bocadinho, mas porque lhes estava a saber bem beber o produto da fermentação da cevada a partir dos pequenos recipientes de sílica fundida!

Foi quando viram que o produto da fermentação da cevada estava a acabar que resolveram deixar registados os principais mandamentos do Nmismo (para abreviar) e um deles tirou uma fina pena de ganso de dentro dos bolsos da toga e passou a outro, o único que ainda tinha o guardanapo de papel quase inteiramente por usar finamente dobrado debaixo do pires onde tinha empilhado as cascas dos tremoços, que usou a pena para escrever nesse mesmo guardanapo as fundações da nova corrente existencialista.

Após acesa discussão entre os três, o que tinha a pena acabou por escrever no papel:

-Não pensarás.

E depois disto não escreveu mais nada porque tudo o resto se tornou irrelevante.

Consta-se que este guardanapo de papel foi destruído junto com o restante conteúdo da biblioteca de Alexandria. Embora não haja certezas, há textos de um obscuro filosofo grego, Plucrates, o Obtuso, que afirmam que ele ouviu dizer que um conhecido de um amigo que tinha ido ao Egipto ver as pirâmides, não as achando nada de por aí além, tinha falado com um guia turístico que conhecia um sacerdote do templo que era intimo do director da biblioteca que tinha o papel emoldurado numa fina moldura de Oricalcum que mantinha em cima da sua secretária, o que prova de maneira inequívoca que:

-Os tremoços são já acompanhamento de produtos de fermentação da cevada desde templos imemoriais

-Os guardanapos de papel foram inventados muito antes do que se pensava

Necrofagismo Macrobiotoco Existencialismo (Nmismo para abreviar)

Hoje em dia apenas alguns, muito poucos, o sabem.
O que é normal. Aliás, apenas muito poucos sabem porque no fundo é algo que não interessava a ninguém. Os poucos que ainda sabem são membros de sociedades secretas que se dedicam a especular acerca dos segredos que as antigas sociedades secretas guardavam, apenas porque sim ou porque têm demasiado tempo livre durante a hora do almoço. Não que lhes interessasse especialmente.

Mas conta-se que numa terra distante, para lá das águas, onde o céu é recortado por montanhas, onde as praias têm a areia mais branca e as águas mais cristalinas, onde o alvorecer parece derramar pingos de luz por sobre as gotas de orvalho que se espalham nas folhas verdes, de um verde muito verde, das plantas, ervas, arbustos e árvores, onde há fontes de hidromel, onde o cheiro da terra enche as narinas do mais incauto após uma chuvada, onde os animais são dóceis, à excepção dos gatos, e carinhosos, à excepção dos gatos, onde as cores eram tão cintilantes que o azul era mesmo triste, o encarnado dava uma sensação absolutamente sensual e o amarelo era simplesmente amarelo, três sábios tiveram um dia uma epifania enquanto bebiam o produto da fermentação da cevada a partir de pequenos recipientes de sílica fundida e contemplavam com espanto e admiração não só a profundidade do Universo patente  por cima das suas cabeças sob forma de abobada luminosa de estrelas, mas também a admirável profundidade da condição e da alma humana, tendo a partir dela (da epifania) criado o Necrofagismo Macrobiotico Existencialismo!

O Necrofagismo Macrobiotico Existencialismo era, como o próprio nome indica, uma corrente existencialista que promovia a alimentação saudável a partir de fontes comprovadamente mortas! Um Necrofagistamacrobioticóexistencialista, ou Nmista, para abreviar, não podia consumir nada que não estivesse comprovadamente morto. Não chegava achar que estava mais-ou-menos morto, ou morto assim-assim, tinha de o estar comprovadamente. Foi talvez por isso que a filosofia Necrofagistamacrobioticóexistêncialista não se propagou mais, uma vez que a preparação de uma refeição era um processo laborioso, dispendioso e, no fundo, incrivelmente chato!
Imaginemos por um momento que um Nmista estaria inclinado para comer ervilhas com ovos escalfados.
Não poderia comer os ovos, visto que havia todo um potencial num ovo cru de se vir a tornar uma galinha ou até, quem sabe, um galo.
Depois, se quisesse juntar umas rodelas de chouriço teria de pedir um certificado no talho que comprovava que o porco de onde o chouriço proviera estava realmente morto e não tinha sido apenas amputado.
Por fim, havia que pegar nas ervilhas, uma a uma, e executar três testes:

-O teste do espelho: Um espelho era colocado por cima da ervilha durante algum tempo para se verificar se a ervilha ainda respirava. Caso o espelho não embaciasse, passava-se à fase seguinte

-O Electrocardiograma: Era feito um electrocardiograma à ervilha para comprovar que não havia quaisquer batimentos cardíacos. Caso esta condição se verificasse podia-se avançar para a terceira e ultima fase

-O Electroencefalograma: A fase final que comprovava que a ervilha estaria cerebralmente morta, podendo assim ser consumida

Isto tinha de ser feito ervilha a ervilha. Como podem constatar, além de moroso (ainda hoje em dia é famosa a história de Zeferino de Arronches, um dos principais entusiastas do Nmismo, que, depois de estar desaparecido durante meses após ter convidado alguns amigos para um jantar, coisa que os amigos atribuíram a uma forretice ímpar, veio a ser descoberto morto por inanição com um espelho na mão junto a um electrocardiografo e a um electroencefalografo ainda ligados – aparentemente faleceu durante o processo de teste dos bagos de arroz que ia usar para fazer um arroz de marisco), e dispendioso, por causa da maquinaria que tinha de ser utilizada (quando o Nmismo se tornou popular várias marcas de electrocardiografos e electroencefalografos celebraram efusivamente, isto para além dos fabricantes de pequenos espelhos), era uma seca!


quarta-feira, 13 de abril de 2016

Há uma desconfiança de que a inteligência causa propensão para a estupidez.



Uma consequência disto é que a inteligência superior causa uma propensão para a estupidez superior.
Quanto mais evoluído for um organismo, mais estúpido se torna!

Claro que tudo isto pode parecer contra-intuitivo, sobretudo se olharmos para uma galinha. Uma galinha é um bicho estúpido!
No entanto uma galinha só é estúpida porque, no fundo, nós achamos que ela é, porque a galinha em si está apenas a fazer o que sempre fez. Não é estúpida por isso!
Nós é que achamos a galinha estúpida, porque ela não se reconhece como tal. Aliás, ela não se reconhece.

Já um cão pode ter mais uns laivos de inteligência que uma galinha. E pode até nem parecer tão estúpido quanto uma. No entanto o cão é mais propenso a atitudes estúpidas e inusitadas.


O ser humano, espécie aparentemente mais inteligente deste sistema solar, é o animal que melhor reconhece a estupidez. No entanto apenas alguns da espécie estão dispostos a reconhecer a sua própria estupidez.
Esta cegueira à própria estupidez não impede, de todo, que a estupidez seja reconhecida…
…mas nos outros!
Sendo o ser humano o ser (provavelmente) mais inteligente do sistema solar, é pois seguro dizer que é (provavelmente) o ser mais estúpido!

Só isto, por si só, deveria fazer os seres humanos terem receio de contacto com espécies estranhas ao seu mundo. Se esses seres existirem disporão de um maior intelecto e com isso a sua capacidade para serem estúpidos aumentará na devida proporção. E isso seria potencialmente mau. Até porque iriam olhar para nós e pensar:
-Fosga-se! Ca estúpidos…

As pessoas que querem governar pessoas são, por isso mesmo, as menos convenientes para isso!

terça-feira, 12 de abril de 2016

"Nada viaja mais rápido que a velocidade da luz...
...excepto as más noticias!"

Douglas Adams
 "Resumindo: É um fato bem conhecido que todos que querem governar as outras pessoas são, por isso mesmo, os menos indicados para isso."



- O Restaurante no fim do Universo - Douglas Adams



segunda-feira, 11 de abril de 2016

Pois é…



…parece que o Universo é muito velho! Mesmo muito velho!

Parece que no princípio o Universo foi criado e isso irritou muita gente!

Muitas raças acreditavam que ele tinha sido criado por uma espécie de Deus, embora os Jatravartids, habitantes de Viltvodle VI acreditem que o universo inteiro escorreu do nariz de um ser chamado “Grande Constipação Verde”.
Os Jatravartids, que vivem no medo do perpétuo tempo a que dão o nome de “a vinda do grande lenço branco”, são pequenas criaturas azuis com mais de cinquenta braços cada, o que faz dele um povo singular por terem sido os únicos da história do universo a inventar o desodorizante de aerossol antes da roda!

A teoria da grande constipação verde não é, no entanto, amplamente aceite fora de Viltvodle VI e assim, sendo o universo o enigmático lugar que é, muitos procuram outras explicações.

Por exemplo, uma raça de seres pandimensionais hiperinteligentes construiu um supercomputador gigantesco a que chamaram de pensador profundo para calcular de uma vez por todas a resposta à questão fundamental da Vida, do Universo e de tudo. O Computador fez cálculos ao longo de 7.500.000 de anos e anunciou por fim que a resposta era:

42.

Posto isto tiveram de construir um computador ainda maior para descobrir qual era a pergunta afinal!



E é no meio disto que me encontro perdido nos transportes…
…a história mais absurda e estranha que já li!

Depois de ter lido “Até à próxima e obrigado pelos peixes” e “A Vida, o Universo e o resto”, estou agora embrenhado em “O restaurante no fim do Universo” e isto promete.

Eu quero mesmo o que o Douglas Adams anda a fumar, porque aquilo é mesmo bom, de certeza…

sexta-feira, 8 de abril de 2016

Acabei agora...

...de ouvir um album que já não ouvia há anos:

S&M de Metallica

O Michael Khamen era um génio!