Estavam casados há vinte anos.
Tinham-se conhecido
bastante jovens, ela, Clara, com catorze e ele, Marcelo com dezasseis. Vinham
de famílias conservadoras, católicas e conheceram-se no grupo de jovens da
Igreja. Ele, embora não fizesse parte do grupo, tocava guitarra com o coro numa
das missas e o coro era, basicamente o grupo de jovens.
Ele tinha-se
apaixonado por ela no dia em que a conheceu, mas ela dizia não querer nenhuma
relação, a prioridade eram os estudos. Foram crescendo. Ele acabou por se
tornar um rapaz atraente, alto e não sobejamente musculado, mas bem definido,
inteligente e carismático. As mulheres não lhe ficavam indiferentes e ele
aproveitou-se desse facto durante algum tempo, mas para ele eram sempre
relações casuais, mesmo quando duravam algum tempo. Muitas vezes ele deixou uma
namorada pendurada para passar um serão na companhia da malta do grupo de
jovens, apenas porque podia estar também com ela.
Quando ela foi para a
universidade começaram a falar mais directamente. Falavam diversas vezes por
dia, acerca de tudo e mais alguma coisa. Ela pedia-lhe ajuda com algumas
matérias que sabia que ele também tinha tido, estudavam muitas vezes juntos,
mas sempre numa base de amizade, embora ele secretamente quisesse muito mais.
No dia em que ela se
formou ligou-lhe esfusiante de felicidade. Combinaram festejar à noite e foi
nessa noite que ele se atreveu a dar-lhe um primeiro e muito tímido beijo. Ela
ficou assustada com o beijo e ele pensou “Já estraguei tudo!”. Foram ambos para
casa, ela sem saber o que pensar, ele a pensar o que faria, e, com um enorme
receio, mandou-lhe uma mensagem no dia a seguir. Não teve resposta imediata e o
seu coração afundou-se no peito, e foi-se afundando ao longo do dia. Nessa
noite não dormiu. Apetecia-lhe ligar-lhe, falar com ela, pedir desculpa, mas
simplesmente não dormiu.
O dia seguinte foi
igual e ele pensava tê-la perdido da sua vida para sempre por causa de um
momento.
Ao fim de três dias,
uma mensagem dela “Precisamos falar”.
Encontraram-se nessa
noite e falaram. Ele abriu-lhe o coração e disse-lhe o quanto a amava desde
aquele dia em que a tinha visto pela primeira vez. E beijaram-se, trocaram
carícias, tornaram-se namorados, mas ela foi muito clara que só aconteceria
algo mais sério após o casamento, algo com que ele concordou sem objecções.
Um ano depois ela
perdeu a sua virgindade na noite de núpcias. Não foi uma noite de sexo tórrido
e espectacular. Bem pelo contrário…
Com o tempo ele
aprendeu que tinha de a excitar bastante antes da penetração e como tal os
preliminares eram sempre obrigatórios e demorados. Rapidinhas, entre os dois
eram algo que estava fora do menu.
Entretanto, logo a
seguir ao casamento ficaram grávidos, veio o primeiro filho e com ele as
preocupações, as noites sem sono e o stress
provocado por uma criança que não foi nada fácil até aos dois anos.
As coisas foram
voltando ao seu lugar, o sexo entre os dois voltou a acontecer, mas quase nunca
por iniciativa dela, e quando havia essa iniciativa era de forma tímida.
Ele atribuía isso
sobretudo à educação estrita que ela tinha tido, mas havia alturas em que
duvidava se ela o queria realmente ou se só cedia por obrigação…
Claro que depois das
coisas começarem, depois de ele a excitar, masturbando-a ou oralmente,
frequentemente ambas, ela despertava e transformava-se num vulcão de volúpia,
quase irreconhecível. Mas esse vulcão nunca aparecia de forma espontânea, era
preciso lançar achas para a fogueira. E ele perguntava-se diversas vezes se não
seria ele o problema. Não frequentemente, mas bastantes vezes, sobretudo quando
passavam por períodos em que ela não parecia minimamente interessada nesse tipo
de intimidade.
Mas era o único ponto
em que ele se podia queixar. Ela era a sua melhor amiga, a sua confidente, a
sua luz num mundo de escuridão, uma mãe e dona de casa exemplar e ele era
feliz.
Ela, depois daquele
primeiro beijo, ficou sem saber o que fazer. Ele era o seu melhor amigo. Era o
seu confidente. Era a pessoa, à parte dos seus pais, em quem ela mais confiava.
Pensou muito. Passou três dias sem saber o fazer, mas quanto mais pensava nele
mais se apercebia da falta que ele lhe fazia. Mais descobria que o amava. E foi
assim que ela aceitou começar a namorar com ele. E ela, com mais algum tempo de
namoro, percebeu que o amava verdadeiramente e o quanto ansiava para estar com
ele. Mas nunca houve aquele momento de paixão inicial, as borboletas no
estomago, a explosão de cores.
No início o sexo
tinha sido bastante difícil para si. Depois, com o nascimento do filho as
coisas no quarto acalmaram, o que para si foi uma bênção. Quando voltaram a uma
vida sexual mais normal, o sexo era sempre fabuloso. Ele deixava-a sempre mais
que satisfeita. Podiam contar-se pêlos dedos de uma mão a quantidade de vezes
em que ela não tinha tido múltiplos orgasmos, mas a verdade é que se ele não a
instigasse, ela não o procuraria. E mesmo quando procurava era porque tinha a
noção de que já tinha passado algum tempo desde a última vez, mas o desejo, na
maior parte das vezes não estava lá.
Ele trabalhava como
programador. Trabalhava a partir de casa, era um programador de topo de grandes
projectos de software. Raramente
tinha de sair de casa para ir à firma e tinha flexibilidade total, dentro dos
prazos estipulados. Os rendimentos dele eram substanciais e permitiam-lhes
certos luxos, como uma casa deslumbrante a meia hora da capital, bons carros,
boas roupas.
Ela trabalhava num
escritório de advogados de topo e passava a vida rodeada por homens
extremamente atraentes, e outros que nem tanto, mas com posses além do que está
acessível aos comuns mortais. Nunca olhou para nenhum, e, embora alguns tenham
sido mais atrevidos com ela, nunca deu saída a ninguém e sempre soube impor
respeito.
No entanto, há uns
meses atrás, um advogado novo tinha sido admitido. E não era um homem lindo,
mas era afável, simpático, brincalhão. Começou a meter-se com ela de formas
cada vez mais atrevidas, sem nunca cruzar a barreira do respeito e ela
descobriu que isso a fazia sorrir. Sem pensar muito nisso começou a olhar-se
mais ao espelho e a pensar que para uma mulher de quarenta e dois anos e mãe de
um rapagão de dezoito não estava nada mal. Antes pelo contrário, muitas miúdas
com metade da sua idade matariam para ter o seu corpo. Os piropos que o colega
lhe mandava na brincadeira não eram mal direccionados. Começou a imaginar como
seria estar com ele e, quando isso acontecia, apareciam-lhe as tais borboletas
no estomago.
Mesmo quando fazia
amor com o seu marido dava consigo a imaginar como seria estar com o colega e
isso, de alguma forma, excitava-a ainda mais. Mas jamais quereria ser infiel ao
seu companheiro. Sabia perfeitamente que aquilo que sentia pelo colega era apenas
luxúria, mas o que sentia pelo marido não podia ser definido apenas numa
palavra.
Procurou na internet
respostas para o seu problema. E achou que as descobriu na possibilidade de um
casamento aberto. E foi assim que chegamos a esta noite em que a história
começou.
E nessa noite, pois o dito a fazer contas de cabeça :-)
ResponderEliminarBom dia, sô Gil
Há coisas que, só de serem mencionadas, nem que seja ao de leve, dão para qualquer pessoa com dois neurónios começar a fazer contas de cabeça...
EliminarBom dia, D. Noname, como tem passado? ;)
Bom e cá estou eu de novo para ler esta bela história.
ResponderEliminarJá lhe disse não sei quantas vezes que gosto imensa da sua escrita. E tenho saudades.
Abraço e saúde
Obrigado, Elvira :)
EliminarEu já gostei bastante de escrever, mas agora nem por isso!
Normalmente, quando me dá a vontade, espero que passe...
Este foi só um caso em que não passou...
Abraço forte :)
Boa tarde. Vim recomendada pela Amiga noname!
ResponderEliminarAdorei ler este instigante texto... Resumindo, fazer amor com o marido apensar noutro...é pecado?? Humm?? E quem nunca?? Lool
Vim para ficar!
Beijo e uma excelente tarde!
Boa tarde.
EliminarEm sitio nenhum está referido no texto se é pecado ou não...
...apenas está referido que ela não queria ser infiel e que ainda assim sentia aquela luxuria e por isso foi à procura de uma saída para o seu problema e começou a achar que um casamento aberto lhe daria aquilo que ela queria (sol na eira e chuva no nabal ou como se diz muito hoje em dia, comer o bolo e ficar com ele na mesma) :)
Obrigado, um abraço e um excelente resto de dia :)
Claro que não referiu se era pecado. Eu é que escrevi. Ou seja, alimentam-se os egos viajando na "maionese" hahhahah
Eliminar...na maionese ou noutros fluídos mais orgânicos... ;)
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