quarta-feira, 28 de abril de 2021

Um casamento moderno - I

 

Estavam casados há vinte anos.

Tinham-se conhecido bastante jovens, ela, Clara, com catorze e ele, Marcelo com dezasseis. Vinham de famílias conservadoras, católicas e conheceram-se no grupo de jovens da Igreja. Ele, embora não fizesse parte do grupo, tocava guitarra com o coro numa das missas e o coro era, basicamente o grupo de jovens.

Ele tinha-se apaixonado por ela no dia em que a conheceu, mas ela dizia não querer nenhuma relação, a prioridade eram os estudos. Foram crescendo. Ele acabou por se tornar um rapaz atraente, alto e não sobejamente musculado, mas bem definido, inteligente e carismático. As mulheres não lhe ficavam indiferentes e ele aproveitou-se desse facto durante algum tempo, mas para ele eram sempre relações casuais, mesmo quando duravam algum tempo. Muitas vezes ele deixou uma namorada pendurada para passar um serão na companhia da malta do grupo de jovens, apenas porque podia estar também com ela.

Quando ela foi para a universidade começaram a falar mais directamente. Falavam diversas vezes por dia, acerca de tudo e mais alguma coisa. Ela pedia-lhe ajuda com algumas matérias que sabia que ele também tinha tido, estudavam muitas vezes juntos, mas sempre numa base de amizade, embora ele secretamente quisesse muito mais.

No dia em que ela se formou ligou-lhe esfusiante de felicidade. Combinaram festejar à noite e foi nessa noite que ele se atreveu a dar-lhe um primeiro e muito tímido beijo. Ela ficou assustada com o beijo e ele pensou “Já estraguei tudo!”. Foram ambos para casa, ela sem saber o que pensar, ele a pensar o que faria, e, com um enorme receio, mandou-lhe uma mensagem no dia a seguir. Não teve resposta imediata e o seu coração afundou-se no peito, e foi-se afundando ao longo do dia. Nessa noite não dormiu. Apetecia-lhe ligar-lhe, falar com ela, pedir desculpa, mas simplesmente não dormiu.

O dia seguinte foi igual e ele pensava tê-la perdido da sua vida para sempre por causa de um momento.

Ao fim de três dias, uma mensagem dela “Precisamos falar”.

Encontraram-se nessa noite e falaram. Ele abriu-lhe o coração e disse-lhe o quanto a amava desde aquele dia em que a tinha visto pela primeira vez. E beijaram-se, trocaram carícias, tornaram-se namorados, mas ela foi muito clara que só aconteceria algo mais sério após o casamento, algo com que ele concordou sem objecções.

Um ano depois ela perdeu a sua virgindade na noite de núpcias. Não foi uma noite de sexo tórrido e espectacular. Bem pelo contrário…

Com o tempo ele aprendeu que tinha de a excitar bastante antes da penetração e como tal os preliminares eram sempre obrigatórios e demorados. Rapidinhas, entre os dois eram algo que estava fora do menu.

Entretanto, logo a seguir ao casamento ficaram grávidos, veio o primeiro filho e com ele as preocupações, as noites sem sono e o stress provocado por uma criança que não foi nada fácil até aos dois anos.

As coisas foram voltando ao seu lugar, o sexo entre os dois voltou a acontecer, mas quase nunca por iniciativa dela, e quando havia essa iniciativa era de forma tímida.

Ele atribuía isso sobretudo à educação estrita que ela tinha tido, mas havia alturas em que duvidava se ela o queria realmente ou se só cedia por obrigação…

Claro que depois das coisas começarem, depois de ele a excitar, masturbando-a ou oralmente, frequentemente ambas, ela despertava e transformava-se num vulcão de volúpia, quase irreconhecível. Mas esse vulcão nunca aparecia de forma espontânea, era preciso lançar achas para a fogueira. E ele perguntava-se diversas vezes se não seria ele o problema. Não frequentemente, mas bastantes vezes, sobretudo quando passavam por períodos em que ela não parecia minimamente interessada nesse tipo de intimidade.

Mas era o único ponto em que ele se podia queixar. Ela era a sua melhor amiga, a sua confidente, a sua luz num mundo de escuridão, uma mãe e dona de casa exemplar e ele era feliz.

Ela, depois daquele primeiro beijo, ficou sem saber o que fazer. Ele era o seu melhor amigo. Era o seu confidente. Era a pessoa, à parte dos seus pais, em quem ela mais confiava. Pensou muito. Passou três dias sem saber o fazer, mas quanto mais pensava nele mais se apercebia da falta que ele lhe fazia. Mais descobria que o amava. E foi assim que ela aceitou começar a namorar com ele. E ela, com mais algum tempo de namoro, percebeu que o amava verdadeiramente e o quanto ansiava para estar com ele. Mas nunca houve aquele momento de paixão inicial, as borboletas no estomago, a explosão de cores.

No início o sexo tinha sido bastante difícil para si. Depois, com o nascimento do filho as coisas no quarto acalmaram, o que para si foi uma bênção. Quando voltaram a uma vida sexual mais normal, o sexo era sempre fabuloso. Ele deixava-a sempre mais que satisfeita. Podiam contar-se pêlos dedos de uma mão a quantidade de vezes em que ela não tinha tido múltiplos orgasmos, mas a verdade é que se ele não a instigasse, ela não o procuraria. E mesmo quando procurava era porque tinha a noção de que já tinha passado algum tempo desde a última vez, mas o desejo, na maior parte das vezes não estava lá.

Ele trabalhava como programador. Trabalhava a partir de casa, era um programador de topo de grandes projectos de software. Raramente tinha de sair de casa para ir à firma e tinha flexibilidade total, dentro dos prazos estipulados. Os rendimentos dele eram substanciais e permitiam-lhes certos luxos, como uma casa deslumbrante a meia hora da capital, bons carros, boas roupas.

Ela trabalhava num escritório de advogados de topo e passava a vida rodeada por homens extremamente atraentes, e outros que nem tanto, mas com posses além do que está acessível aos comuns mortais. Nunca olhou para nenhum, e, embora alguns tenham sido mais atrevidos com ela, nunca deu saída a ninguém e sempre soube impor respeito.

No entanto, há uns meses atrás, um advogado novo tinha sido admitido. E não era um homem lindo, mas era afável, simpático, brincalhão. Começou a meter-se com ela de formas cada vez mais atrevidas, sem nunca cruzar a barreira do respeito e ela descobriu que isso a fazia sorrir. Sem pensar muito nisso começou a olhar-se mais ao espelho e a pensar que para uma mulher de quarenta e dois anos e mãe de um rapagão de dezoito não estava nada mal. Antes pelo contrário, muitas miúdas com metade da sua idade matariam para ter o seu corpo. Os piropos que o colega lhe mandava na brincadeira não eram mal direccionados. Começou a imaginar como seria estar com ele e, quando isso acontecia, apareciam-lhe as tais borboletas no estomago.

Mesmo quando fazia amor com o seu marido dava consigo a imaginar como seria estar com o colega e isso, de alguma forma, excitava-a ainda mais. Mas jamais quereria ser infiel ao seu companheiro. Sabia perfeitamente que aquilo que sentia pelo colega era apenas luxúria, mas o que sentia pelo marido não podia ser definido apenas numa palavra.

Procurou na internet respostas para o seu problema. E achou que as descobriu na possibilidade de um casamento aberto. E foi assim que chegamos a esta noite em que a história começou.

8 comentários:

  1. E nessa noite, pois o dito a fazer contas de cabeça :-)

    Bom dia, sô Gil

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    1. Há coisas que, só de serem mencionadas, nem que seja ao de leve, dão para qualquer pessoa com dois neurónios começar a fazer contas de cabeça...

      Bom dia, D. Noname, como tem passado? ;)

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  2. Bom e cá estou eu de novo para ler esta bela história.
    Já lhe disse não sei quantas vezes que gosto imensa da sua escrita. E tenho saudades.
    Abraço e saúde

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    1. Obrigado, Elvira :)

      Eu já gostei bastante de escrever, mas agora nem por isso!
      Normalmente, quando me dá a vontade, espero que passe...

      Este foi só um caso em que não passou...

      Abraço forte :)

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  3. Boa tarde. Vim recomendada pela Amiga noname!
    Adorei ler este instigante texto... Resumindo, fazer amor com o marido apensar noutro...é pecado?? Humm?? E quem nunca?? Lool

    Vim para ficar!
    Beijo e uma excelente tarde!

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    1. Boa tarde.

      Em sitio nenhum está referido no texto se é pecado ou não...
      ...apenas está referido que ela não queria ser infiel e que ainda assim sentia aquela luxuria e por isso foi à procura de uma saída para o seu problema e começou a achar que um casamento aberto lhe daria aquilo que ela queria (sol na eira e chuva no nabal ou como se diz muito hoje em dia, comer o bolo e ficar com ele na mesma) :)

      Obrigado, um abraço e um excelente resto de dia :)

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    2. Claro que não referiu se era pecado. Eu é que escrevi. Ou seja, alimentam-se os egos viajando na "maionese" hahhahah

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    3. ...na maionese ou noutros fluídos mais orgânicos... ;)

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