sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Desde que me conheço…



…que tenha achado uma chatice o facto de ter uma consciência.
É que não é por nada, mas é uma coisa que, pensando bem, nem me fazia falta e houve já muitas vezes em que me chateei com ela, sempre a dar palpites sobre isto e aquilo.
Não me fazendo falta, já houve também alturas em que me quis desfazer dela, mas descobri que é coisa que ninguém quer, uns porque já têm a sua e outros porque não têm nem querem, e eu não tive coragem de a descartar sem mais nem menos, como se fosse um cachorro giro quando era pequenito mas que perdeu a piada quando roeu o sofá da sala que custou uma pipa de massa.
E assim sendo fui ficando com ela, numa relação que nem sempre é linear, sendo que muitas vezes a sacana só me dá descanso quando eu acabo por sair prejudicado de alguma situação. É verdade que frequentemente ela me rói o tal sofá da sala, eu zango-me e dou-lhe uma sova com papel de jornal, mas depois gosto demasiado dela para a deixar ao Deus dará.
Nos últimos tempos esta sacana, seja porque motivo for, tem-me posto diante da minha coerência. E tem feito isso de uma forma subtil, sobretudo através das noticias que me chegam do mundo que me rodeia.
Gosto de me ver de uma determinada maneira. Creio que qualquer um de nós gosta de se ver de uma determinada maneira. Basta passar um bocadinho no Facebook ou noutra rede social qualquer para percebermos que não há más pessoas no mundo. Simplesmente não há! Ou então nenhuma dessas más pessoas frequenta redes sociais. Todos as pessoas são queriduxas e fofinhas, todas defendem os direitos dos animais, todos se sentem solidários quando, por exemplo, há um atentado terrorista algures e mudam as suas fotos de perfil em solidariedade, todos partilhamos pensamentos de paz e amora, frases que reflectem valores de tolerância e compreensão…
Mas a verdade absoluta é que todos somos intolerantes a qualquer coisa. Alias, basta ter pressa e estar encravados no transito por um burgesso qualquer que não tem mais nada que fazer e a nossa tolerância acaba.
Nenhum de nós se acha fundamentalista, mas há sempre áreas que para nós são intocáveis, coisas com as quais não se deve brincar ou mencionar de animo leve…
…e os fundamentalismos não se deixam ficar pelas religiões.
Por exemplo, se eu afirmar que não gosto de Futebol, não vem mal ao mundo. Se eu afirmar que não gosto do Benfica tenho uma data de gente a insultar-me. Se eu disser que se pudesse extinguia o Benfica sou capaz de ter algumas ameaças de morte dos mais empedernidos fanáticos. Muitos deles, muito provavelmente, insurgir-se-iam contra um atentado de um grupo radical qualquer em nome de uma religião mas acham valido dar porrada noutro gajo só porque o clube de futebol é outro…
…e nem põem a mão na consciência, essa danada, para perceberem que, na realidade, são tal e qual os outros gajos, apenas divergem na religião…
…ou como o outro no facebook que mudou a sua foto de perfil para o “je suis Charlie” e ameaçou um gajo qualquer que fez uma piada de mau gosto sobre pedofilia…
…sem perceber sequer a incongruência do que fazia!
Acho que aquilo que falta mesmo, no mundo, é a coerência.
Não se pode pertencer a uma religião que defende a vida e matar em nome dessa religião. Não se pode ser budista e defender uma corrida ao armamento. Não se pode ser cristão e racista. Não se pode defender a liberdade e defender que esta seja suprimida aos que pensam de uma maneira diferente.
Mas há uma coisa que a minha consciência, à força desta confrontação com a minha coerência, me tem ensinado:

-Preocupa-te contigo, com a maneira como ages, com a maneira como te relacionas com o mundo, trata bem quem te tratar bem e ignora quem te tratar mal. Tenta ser a pessoa que achas que deverias ser, o que só por si é desde logo uma tarefa complicada. O resto…
…como diria a Rita Guerra, “são pormenores sem a mínima importância”

(Já agora esclareço que o nome do Benfica é só usado a nível de exemplo uma vez que é, alegadamente, o maior clube português. Tenho tanto a favor do mesmo como contra, ou seja, nada!)

2 comentários:

  1. Caríssimo, se não fosse o parêntesis final vi-me obrigado a te oferecer porrada por coerência com o meu benfiquismo! ;)
    Brincadeiras à parte, gostaria de poder afirmar não perceber do que falas mas também tenho disso que afirmas ter e manter a postura que advogas revela-se mais difícil do que poderia parecer (é uma m#$%”# não se ser perfeito, eu sei!).

    Grande abraço,
    FATifer

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  2. FATifer,

    Meu caro, oferece-me o que quiseres, mas porrada não que eu sou um gajo pacífico...
    Pois é, esta coisa de se ser imperfeito tem muito que se lhe diga...

    (como diz a música que está postada aqui a cima, "Eu nunca fui perfeito, nunca andei direito na linha que Deus fez...)

    Mas não acho que o interesse esteja em sermos perfeitos - o que faria de qualquer pessoa uma seca - mas sim na luta para atingir a perfeição, essa sim a matéria ideal para escrever histórias inspiradas...

    Forte Abraço

    :)

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O QUÊ?!?!? ESCREVE MAIS ALTO QUEU NÂO T'OUVI BEM!