sexta-feira, 22 de maio de 2015

Acerca do festival da canção da Eurovisão e da música em geral

A grande maioria das músicas que se ouve na rádio seguem uma de duas formulas, ou em alguns casos seguem mesmo as duas:

- Mais baseadas no Blues, com uma progressão de acordes 1-1-4-1-5-4-1-5
- baseadas na progressão vencedora 1-5-6-4

Para os que se estão a perguntar o que é isto, faço uma breve explicação; o 1 representa a tónica base da música e os restantes números os acordes relativos em relação à tónica, ou seja, se tomarmos o segundo exemplo e considerarmos o Dó como nota base teríamos a sequência Dó-Sol-Lá-Fá.
Esta segunda sequência é sobejamente conhecida como “as músicas de quatro acordes” e, sem dúvida, a maior parte dos êxitos que se têm ouvido estão nesta progressão ou em alguma variante da mesma (não é invulgar começar a progressão no 3º acorde, ficando assim 6-4-1-5). Duvidam?
Então vejamos (mencionando apenas algumas famosas, para isto não ser entediante):

Africa – Toto
Ai se eu te pego – Michel Teló
All of me – John Legend
Apologise – One republic
Bailando – Henrique Iglésias
Barbie Girl – Aqua
Bullet with Butterfly wings – Smashing Pumpkins
California King Bed – Rihanna
Can you feel the love tonight – Elton John
Con te partiró – Andrea Bocceli
Don’t stop believing – Journey
Down under – Men at work
Electrical Storm – U2
Forever young – Alphaville
Glycerine – Bush
Grenade – Bruno Mars
Head over feet – Alanis Morrissette
Higher love – Steve Winwood
I was here – Beyoncé
If i were a boy – Beyoncé
I’m yours – Jason Mraz
It’s my life – Bon Jovi
Let it be – Beatles
Like a prayer – Madonna
Não me toca – Ansemo Ralph
No one – Alicia Keys
No woman no cry – Bob Marley
Numb – Linkin Park
One of us – Joan Osbourne
Paparazzi – Lady Gaga
Paradise – Coldplay
Poker face – Lady Gaga
Price tag – Jessie J
Take on me – A-ha
Tears of the dragon – Bruce Dickinson
Tonight she comes – The Cars
Torn – Natalie Imbruglia
Umbrella – Rihanna
Whenever, Whereever – Shakira
With or without you – U2

...e poderia continuar com a lista, mas acho que já deu para perceber.
O que é que varia entre estas músicas todas? A harmonia vocal e a letra. Ah, e já me esquecia, a tonalidade da música.
Quer isto dizer que não há dificuldade nenhuma em  cantar a letra do “with or without you” por cima da “Paradise”, ou de “Umbrella”. Cabe quase tudo nesta simples progressão.

Outra coisa que varia, mais, faz com que estas músicas sejam bem distintas entre si são os arranjos e a produção das mesmas. Se levarmos em conta que na lista acima tanto se encontram musicas de cariz clássico como de Heavy metal, algo tinha de as distinguir…

A música que foi para a Eurovisão a representar Portugal foi mais uma, padronizada, mas sem grande sal, e é precisamente o sal que distingue as músicas. Já se percebeu que quem produz o festival não tem grande interesse em fazer um brilharete. Ir lá representar Portugal não é mais do que picar o ponto. Se assim não fosse, no momento em que o festival encerra em Portugal, com a escolha da música vencedora, a música deveria ir directamente para as mãos de um produtor de nível internacional (cá há pelo menos um, que já colaborou em álbuns das maiores divas da canção a nível mundial) para que a música fosse completamente reproduzida e repensada para fazer impacto no sítio onde se vai apresentar.
Em vez disso, como é um costume tipicamente Tuga, pauta-mo-nos pela mediocridade…
…e quanto muito queixa-mo-nos depois que a mediocridade dos outros foi melhor que a nossa.
Não vi a eliminatória de ontem do Eurofestival, vi apenas as primeiras duas ou três actuações, mas aquilo que vi, embora fosse mais do mesmo, estava mesmo bastante bem produzido…
…e a avaliar pelo que sempre aconteceu (as músicas permanecem imutáveis entre o festival RTP e a Eurovisão – ao contrario do que fazem outros países) a nossa nem por isso…
…e francamente, é pena…

…mas é o que temos!

3 comentários:

  1. Eu, Maria, me confesso uma desviante dos padrões musicais mainstream. Cansei-me em criança! ;)

    Beijos, "ex-Ulisses". :P

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  2. Maria Eu,

    Pois, eu normalmente aquilo que ouço mais é algo que alguns amigos meus chamam de "musica para músicos", que é algo que vai da música clássica ao metal progressivo e passa por coisas incategorizáveis (como Ktu ou Alamailmann Vaasarat por exemplo)...

    ...mas a verdade é que o mainstream é um manancial de tesouros de produção musical. Basicamente é algo que um colega meu costuma chamar de "polir um cagalhão". Nas palavras dele a produção mais mainstream é exactamente isto. Pegar em coisas sem ponta por onde se lhe pegue e poli-las até brilharem...
    ...no entanto, como eu costumo dizer, um cagalhão polido e brilhante continua a ser um cagalhão...
    ...é apenas esteticamente mais interessante!

    :)

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  3. Sinceramente, não ligo mesmo nada ao festival da canção.
    Agradeço as visitas "mudas" ao meu blogue.

    Boa semana!

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