quinta-feira, 23 de abril de 2015

O estranho caso da chave saltitona - Capítulo XVI *



Prólogo - Xilre
Capítulo I - Calma com o andor
Capítulo II - Dúvidas Cor de Rosa
Capítulo III - A Mais Picante
Capítulo IV - Mirone
Capítulo V - Pasme-se quem puder
Capítulo VI - A Uva Passa
Capítulo VII - Kiss and Make Up
Capítulo VIII - Amor Autista
Capítulo IX - Talqualmenteoutro 
Capítulo X - Linda Porca
Capítulo XI - Sister V
Capítulo XII - A elasticidade do tempo
Capítulo XIII – A vez da Maria

Capítulo XIV - Teias de Folhas de Papel
Capítulo XV - Imprópria para consumo





CAPÍTULO XVI


-Olha o “Johnny”. Já não aparecias por aqui há uns tempos pá. Ké que tens feito, puto? – Disse o Zé “Diabo” de trás do balcão.
-Olha, nã faço nado, compro tudo já feito que dá menos trabalho!
O “Diabo” riu-se, revelando a sua extensa falta de dentadura.
-És sempre o mesmo, páh. Vai alguma coisa?
João Carlos meditou um pouco decidindo-se logo em seguida:
-Pá uma bica e uma aguardente, mas vê lá, quero daquela especial, daquela que tens guardada lá atrás, não quero a zurrapa que vendes ao pessoal…
-É para já… - respondeu o "Diabo" retirando-se momentaneamente com um sorriso maquiavélico no rosto, enquanto pensava “Deves mesmo pensar que a aguardente que tá lá atrás é diferente da que está cá à frente” ao mesmo tempo que enchia o cálice que serviria ao João de uma garrafa de aguardente martelada pelo seu primo, o Quim de Abreijadas de Cima, famosíssimo por nunca ter usado uma única uva no vinho e aguardentes que fazia.
Voltou para o balcão com o cálice já cheio e foi tirar o café. O João, enquanto esperava, foi molhando os lábios.
-Granda pomada quist’é, páh. Onde é que arranjas isto?
-Pá, isto é caseirinho. É do meu primo Quim, lá do Norte – respondeu o “Diabo” rindo-se para dentro enquanto pensava “e é por isso mesmo que isso nem me chega aos lábios, xiça…” – Mas, mudando de assunto,… - continuou enquanto espetava com a chávena de café no pires que já a aguardava no balcão - …o que é que te trás por aqui? Já não davas à costa há uns tempos, e gaivotas em terra…
-Olha, meti-me aí numa confusão entre duas gaijas…
-Poizé, tu não eras para te ter enforcado há uns dias?
-Nem me digas nada, páh, nem me digas nada…
-A coisa anda mal?
-Oh s’anda!
-Vai uma puta? Tenho umas frequinhas que chegaram há pouco, ainda não foram muito marteladas…
-Não páh, farto de gaijas ando eu…
-Não falava da gaija toda, só da parte que interessa…
O João fez-lhe um olhar estranho.
-Ya! Mas a parte que interessa trás sempre o resto agarrado, e é à pala do resto que eu tou aqui.
-Atão mas o que é que aconteceu?
-Olha, sabes que tava pr’a me casar, mas enrolei-me com a Maria…
-Maria?
-Sim, páh!
-A “vai-com-todos”? Fosga-se, ficavas mais bem servido com uma das minhas putas. Sempre são menos rodadas…
João olhou-o com cara de poucos amigos. Está bem que era verdade, mas não era preciso andar a espalhar isso à boca cheia, assim sem mais nem menos.
-Prontus, prontus, já cá não tá quem falou… Mas olha, já que falas nessa gaja, lembrei-me de uma coisa… - …e saiu disparado para as traseiras, deixando o João sozinho ao balcão.
Este, aproveitou o momento e virou-se na cadeira, vendo o resto do bar, quase vazio. Ao fundo, num mini-palco improvisado uma tipa que parecia já ter passado o prazo de validade tentava por alguma sensualidade num strip, mas via-se que era uma batalha perdida. Entretanto o “Diabo” voltou.
-Deixaram aqui isto para ti. – disse ele, abanando um envelope que tinha na mão.
João pareceu não ligar nenhuma ao envelope.
-Olha lá, aquilo é um bocado triste, não? – disse ele, apontando para a stripper ao fundo da sala.
-Páh, yá, mas vai lá dizer à minha mãe que já não tem idade nem corpo praquilo…
Encolheram ambos os ombros.
-Percebo-te. Ké ke s’hade fazer, né?
-Yá…
João abanou o envelope e reparou que havia algo pesado lá dentro.
-Kéisto?
-Sei lá. Tás-me a perguntar a mim? Achas que eu abria isso?
-Acho!
-Pois, mas não abri. O raio do velho ainda me rogava alguma praga…
-Velho?
-Sim, páh, foi o Jorge dos livros que deixou aí isso.
-O pai da Maria?
-Yá! Nem mexi nisso, que sabes que o velho não bate… - disse enquanto rodava o dedo indicador em redor de têmpora direita.
Curioso, Jorge abriu a carta e, de lá de dentro caiu uma chave dourada, ricamente decorada, que parecia velha. O “Diabo” viu a chave e sentenciou logo:
-Eh láhhh! Olha Cuma coisa dessas deve valer uns tostões, se for verdadeira…
-Cala-te páh, e traz outra aguardente.
-Queres da do meu primo?
-Evidentemente…
Junto com a chave vinha uma carta escrita numa letra impecavelmente desenhada.

“Caro João,

Sei que tens andado enrolado com a Maria.
Infelizmente, apesar de todos os meus esforços, a Maria é quem é. Gostava que ela não tivesse seguido alguns caminhos mas não a pude acompanhar como devia e o resultado é esta galdéria conhecida no bairro inteiro e arredores, e não pelos melhores motivos.
Por isso mesmo não pude até hoje dizer-lhe muita coisa acerca do passado dela, mas sinto a obrigação de passar esta informação, e sei que tu és um bom menino.
Esta chave que está em teu poder é de uma extraordinária importância. Essa chave pode decidir o futuro do mundo. Sei que estão no meu encalço, e que já não vou durar muito…”

-Olha lá, tens visto o velho por aí? – Perguntou ao “Diabo”
-Desde que deixou o envelope para ti nunca mais o vi…
Pôs-se a pensar e na verdade também já não o via desde uns dias antes de ter ficado fechado no quarto com a Maria. E a verdade é que estavam tão preocupados com a chave que nem se deram conta que o velho nunca tinha ido a casa… Continuou a ler:

“…por isso, na impossibilidade de passar a chave à legitima dona, entrego-ta. Para perceberes o que essa chave é, por baixo da terceira tábua a contar da porta da entrada da minha sala está a uma caixa onde está a chave de um cofre que está na dependência do BES, ou Novo Banco, ou lá o que é, de Xabregas, bem como as instruções para acederes à mesma. Lá encontrarás a explicação.

Entretanto, protege a Maria. Quem anda atrás de mim não demorará a perceber quem é a Maria, portanto a vida dela estará em perigo. Rogo-te para que cuides dela.

Deste teu velho amigo

Jorge de Burgos”

João sentiu uma súbita urgência em sair dali. Pagou o café e os dois bagaços, deu uma ultima olhadela de relance à mãe do Diabo, por esta altura já quase nua, abanou a cabeça, olhou para o “Diabo” que lhe respondeu com um encolher de ombros e disse-lhe:
-Vou-me! A gente vê-se!
-Yep! Hasta…
-…la baby vista! – e seguiu para casa da Maria em busca da terceira tábua…


Continua AQUI


*Post partilhado - batata quente passada por Imprópria para Consumo

8 comentários:

  1. Gostei! Gostei muito! lolol
    O Johnny e a Maria ainda vão dar muito que falar! :)))

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  2. Lolololo, o enredo está cada vez mais atractivo:)
    Quando passares o testunho da chave e for escrito o próximo capítulo gostava de aceder ao link, obrigada e gostei muito.

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  3. A regressar às origens! Muito bem!

    Beijos. :)

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  4. IPC,

    Também me diverti com este bocadinho. Há que ginasticar os neurónios, de vez em quando, senão eles atrofiam!

    LOL

    Obrigado pelo convite :D

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  5. Sandra Louçano,

    Obrigado :)

    A continuação já existe e podes seguir o link adiccionado ao fundo do post, mas se não te quiseres dar ao trabalho:

    http://wet-kiss.blogspot.com/2015/04/o-estranho-caso-da-chave-saltitona.html

    Ah e bem vinda aqui a tasca :)

    :)

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  6. Maria Eu,

    Depois de ver o trailer e ler o prólogo, achei que já seria altura...

    ...embora ambos os dois não tenham rigorosamente nada a ver um com o outro, mas foi giro tentar reconciliá-los...

    Obrigado

    :)

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  7. Não sei se teria aceite o desafio da Beijo Molhado se não fosse o teu trabalho aqui!
    Já publiquei a continuação…

    Abraço,
    FATifer

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  8. FATifer,

    O resto da história segue mais a linha do trailer original...

    ...já eu resolvi pegar no prologo, porque a história do trailer já estava esgotada...

    Mas ainda bem que pegaste nisto...

    ...agora já sabes, passa a outro e não ao mesmo... LOL

    :)

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