Ontem, ao passar pelo blog da Beijo Molhado dei de trombas com um pedaço do livro do JRS, “A Mão do Diabo”, que fala acerca da introdução do €uro como moeda única, e do facto de ter havido economistas a alertar a comissão Europeia de que a moeda, só por sí, sem outras medidas que fossem estudadas para a equilibrar dentro do espaço monetário, seria uma receita para uma catástrofe anunciada, uma vez que iria promover a transferência de fundos das economias periféricas mais fracas para as economias mais fortes. E também fala de como esses avisos foram, simplesmente, ignorados.
Ora isto pôs-me a fazer uma coisa de que não gosto: Pensar!
Há muitos anos atrás, ainda antes de entrar o Euro e depois do falhanço crasso do ECU, falava-se muito de como a Europa teria de avançar para uma federação.
Ora, uma federação Europeia levanta problemas graves. Aliás, nem é preciso ir muito longe para perceber isso. Uma escala mais pequena a nossa vizinha Espanha vê-se a braços com as suas regiões que, se pudessem, declaravam a independência. A Galiza gostava de ser Portuguesa, a Catalunha afirma-se Catalã e não Espanhola, do Pais Basco acho que nem vale a pena falar…
Passando isto para uma escala maior, os Portugueses não gostam dos Espanhóis, Os espanhóis não gostam dos Franceses, nem dos Ingleses, nem dos Portugueses, os Franceses não gostam dos Ingleses, dos Espanhóis e dos Italianos e ninguém gosta dos Alemães (a não ser talvez os Austríacos).
Diferentes línguas, diferentes culturas, histórias cheias de conflitos entre países e nada disto é fácil de apagar da memória colectiva em uma ou duas gerações.
Voltando ao €uro, mesmo por cá houve bastantes intervenções na assembleia da republica a falar dos problemas que a nova moeda traria. No entanto, não só foram ignorados como foi vendida uma ideia de que esta moeda iria reduzir o fosso entre os países mais ricos e os mais pobres.
Infelizmente, tapar o sol com uma peneira nunca deu bom resultado e, passados estes anos, tudo o que foi previsto aconteceu. Se calhar mais depressa do que era esperado devido à estupidez politica do outro lado do Atlântico que desregulou por completo os mercados de capitais com os resultados que se viram.
Mas a minha questão é: e se tudo isto, mesmo as consequências previstas, foi feito de forma premeditada?
Quando se andou a falar em federação, ninguém estava de acordo. Não é fácil pormos para trás milhares de anos de história. Mas, de repente, deixou de se falar numa federação.
Entretanto as consequências da introdução do €uro fazem-se sentir, com as tais transferências de dinheiro para o centro, o que em ultima analise faz com que os países, para funcionar, precisem de se endividar, o que causou a crise das dividas soberanas.
Se a Europa fosse uma federação o problema seria resolvido com transferências de capital do centro para a periferia, reequilibrando o conjunto. Não sendo, é difícil a um governante Alemão justificar a transferência de verbas para Portugal ou para a Grécia.
Creio que, dentro e pouco tempo estaremos confrontados com a seguinte pergunta: Saímos do €uro ou damos aval à transferência da nossa soberania para um governo central europeu?
Sair do €uro seria mau a curto prazo. Muito mau. A desvalorização imediata de moeda e a inflação resultante da mesma faria com que ficássemos, na pratica, com menos de metade dos ordenados que temos neste momento, com todas as consequências que dai viria, como por exemplo um colapso da banca que se veria a braços com muitos mais milhares de casas do que têm agora, uma vez que um ordenado “normal” mal daria para comer. Durante uns cinco anos, numa perspectiva conservadora, passaríamos por algo que faria os últimos quatro anos parecerem um paraíso. E mesmo quando o país finalmente estabilizasse, ficaríamos bastante atrás do padrão de vida que temos hoje.
Por outro lado, não saindo, para a situação europeia ser resolvida sem uma implosão da união monetária, há que avançar para uma federação de estados Europeus, pelo menos para os que fazem parte da moeda única. A consequência disto seria Portugal passar a ser somente uma região. Seria, na pratica, mesmo que houvesse eleições directas para os altos cargos Europeus, que, pela simples força dos números, teríamos sempre um governo Alemão ou Francês.
O pior é que, na pratica, quando confrontados com duas hipóteses: Pobreza extrema ou o fim de Portugal enquanto país, a maioria preferiria a segunda hipótese…
Acho que nos fizeram a cama. Ao entrar no €uro fizemos um pacto com o Diabo. E nunca ninguém se deu bem com tais pactos…