O telefone tocou…
E tocou…
Algo no fundo da sua mente lhe disse que poderia ser o Alex e ela finalmente mexeu-se, olhando para o telemóvel.
Lisa.
Há quanto tempo estava ali, ausente? Estava tudo escuro. Não se lembrava de ter anoitecido. Não sabia se estivera a dormir ou acordada. Não sentia nada, absolutamente nada. O seu corpo estava como a sua mente, completamente dormente.
O telemóvel calou-se, só para voltar a tocar em seguida, insistentemente. A muito custo mexeu-se, agarrou-o e atendeu, mas não disse nada.
“Até que enfim.” Ouviu a voz de Lisa no auscultador “Estava a começar a ficar preocupada. Então como é que estão as coisas?”
As palavras trouxeram uma torrente de recordações que lhe inundou a mente e a assoberbou outra vez. Lisa estranhou o silêncio. Verificou se a chamada tinha caído, mas não lhe parecia.
“Marie, estás aí?”
Finalmente algo primário emergiu de dentro de Marie que soltou um grito de dor absolutamente primitivo e caiu em seguida num pranto que assustou Lisa.
”Marie?” Chamou Lisa assustada “O que é que se passou? Marie…”
Estava incapaz de falar, de reagir, de pensar. Na sua cabeça a conversa que tinha tido com Alex continuava a correr num circulo continuo sem resolução. Apenas o seu pranto persistia.
“Marie, estou a caminho.”
Meia hora depois Lisa batia insistentemente à porta e chamava:
“Marie, sou eu, abre a porta. Abre a porta por favor”
Tentou ligar novamente e ouvia o telefone a tocar dentro de casa mas ninguém atendia. “Meu Deus, o que é que aconteceu? Será que o Alex se passou?”
Lembrou-se do olhar que ele tinha quando foi ao encontro dele no meio daquela maldita sala e alarmou-se ainda mais. Pensou em todo o comportamento dele, durante a noite. Mas o Alex nunca faria algo a Marie… Ou faria? Ao longo da noite a sua atitude foi sempre, no mínimo inquietante. Estava prestes a chamar a policia quando a porta abriu com um simples clique.
Empurrou a porta devagar, receosa da escuridão que reinava.
“Marie?” perguntou. Encheu-se de coragem avançou, encontrando um interruptor e vendo que não estava ninguém, avançou e quando olhou para a sala viu Marie sentada no sofá, pálida, tremula, com uma expressão de dor. Ainda estava vestida com a roupa do dia anterior.
Largou a sua mala no chão atabalhoadamente e foi ter com ela, sentou-se ao seu lado, abraçou-a e perguntou.
“O que se passou?”
Marie respirava em fôlegos curtos e ansiosos, com soluços à mistura e finalmente lá respondeu:
“Ele foi-se embora. Deixou-me. Diz que nunca mais me quer ver na vida.”
“Foi-se embora? Para onde?”
“Não sei. Estava no aeroporto…”
Lisa recusava-se a acreditar.
“Como?”
“Disse-me que aceitou uma posição num sítio para onde ninguém queria ir, aceitou a promoção e estavam tão necessitados de alguém lá que lhe arranjaram voo umas horas depois.
Lisa acenou.
“Já comeste alguma coisa?”
“Não quero”
Lisa levantou-se dirigiu-se à cozinha, pôs água a aquecer para fazer um chá e ligou a máquina do café para si.
Procurou pêlos armários da cozinha e encontrou as saquetas de vários chás. Tirou uma de Camomila. Enquanto esperava que a água aquecesse ligou ao marido.
“Fernando, desculpa estar a incomodar-te, mas… podias vir ter comigo e trazeres alguma coisa para jantarmos? Mas qualquer coisa mesmo muito leve. Uma canja ou um caldo de legumes… Eu, tu e a mulher do Alex… Sim, esse Alex…. Não ele não está e é esse o problema… basta seguires o GPS para onde está o meu telemóvel… Sim para nós podes trazer o que quiseres… Tu sabes o que eu gosto… Eu sabia que podia contar contigo… Já vais perceber quando cá chegares” e desligou.
Procurou novamente pêlos armários da cozinha e encontrou uma chávena e um pires, preparou o chá e tirou um café para si e levou o café para a sala. Sentou-se ao lado de Marie colocando o chá á sua frente, na mesa de apoio.
“Bebe. Precisas de te acalmar. Estás em choque.”
Ela reagiu, e agarrou na chávena, e começou a beberricar, espaçadamente.
Ao fim de algum tempo o telemóvel de Lisa tocou. Ela atendeu.
“Sim é mesmo essa porta. Eu vou abrir, escusas de bater”
Levantou-se e foi à porta, abrindo-a e deixando Fernando entrar. Fernando perguntou onde era a cozinha e foi para lá, levado por Lisa, para deixar os sacos com a comida. De caminho Viu Marie sentada na sala e percebeu que algo de grave se tinha passado.
Lisa voltou à sala.
“Marie, o meu marido trouxe comida, tens ali uma canja. Sei que não queres comer, mas tens de te alimentar. Já falaste com mais alguém?” Ela abanou a cabeça negativamente “E os teus filhos?” novo abanar de cabeça.
Lisa agarrou no telemóvel de Maria e procurou o numero da filha. Ligou.
“Oi mãe, estava mesmo a pensar em ti…”
“Oi Patrícia. Não é a tua mãe. Não sei se te lembras de mim, sou a Lisa, uma amiga dela…”
“Passou-se alguma coisa com a minha mãe?” Perguntou a rapariga preocupada. “E o meu pai?”
“Patrícia, passou-se sim. O teu pai deixou a tua mãe e ela está à beira de um esgotamento.”
“O meu pai o quê? Deixou-a? Porquê?”
“É complicado falar disso agora. Não acho que deva ser eu a dizer-te e a tua mãe não está em condições de falar. Mas estes são os factos e acho que ela vai precisar de ajuda, de ti e do teu irmão.”
Patrícia ficou um pouco em silêncio. Depois disse:
“Vou avisar o meu irmão e arrancar para aí agora. Só devo chegar perto da meia noite. Podes ficar com ela até eu chegar?”
“Não te preocupes e não venhas com pressa. Se for preciso eu passo aqui a noite com ela.”
Desligaram a chamada e Lisa esticou a mão para Marie.
“Anda. Tens de sair de dentro dessas roupas e tomar um banho. Depois vamos comer. Importas-te que o Fernando acenda a televisão enquanto tratamos de ti?”
“Claro que não.” Respondeu Marie debilmente enquanto se levantava com esforço. Lisa fê-la ir à frente enquanto subiam as escadas para o quarto.
Não adianta chorar depois do mal já feito!
ResponderEliminarEssa desmiolada não tinha o direito de ter arrastado o marido para uma situação tão bizarra.
Nem percebo tanta desolação. Agora sofra com dignidade as consequências da sua loucura...Não tenho pena nenhuma. Também não concordo que o marido da outra, tendo sido o parceiro dessa Maria tonta , esteja lá como se o que aconteceu nessa madrugada fosse a coisa mais banal do mundo.
Lamento, Gil, mas a minha 'mentalidade monogâmica', não está nada receptiva a estas vidas modernas... :))
LOOOOOOOOOOOOL
EliminarAparentemente a mentalidade monogâmica do Alex concorda contigo
Não foi o marido da outra ( o Fernando) que foi o parceiro da Maria Tonta (Guilherme)
A outra é que foi parceira do Alex. Isto não era uma troca directa de caisais, era um sorteio... E vais perceber o porquê quase já a seguir... Na segunda-feira, que esta semana já fechamos para balanço ;)
A vida é cheia de escolhas e consequências! Acho que esta história vai surpreender-te...
Abraço e Bom FDS, Janita :)
Narrativa interessante para pensar fora da caixa e perceber melhor o mundo que me rodeia.... cada vez ponho mais as coisas fora prespectiva.... ansiosa pela continuação
ResponderEliminarGrata por me desafiar
Bom fim de semana
Lidar com estes personagens com visões e perspectivas diferentes sempre me ajudou a tentar encontrar uma para mim que assente numa realidade concreta. Porque há sempre uma realidade concreta. A nossa, subjectiva, é sempre apenas uma lente, que pode distorcê-la mais ou menos. Há sempre três lados para cada história...
EliminarGrato :)
Bom FDS :)