terça-feira, 13 de janeiro de 2015

A música e a literatura são artes.

Antes de tudo o mais, há que lembrar que a música é a primeira arte e a literatura a sexta. E isto é algo de que muita gente se esquece.

Mas o que é, afinal, uma arte?
Em traços gerais eu diria que arte é uma actividade que dá estética às emoções.
Qualquer ser criativo e inteligente será capaz de criar arte se reinterpretar as suas emoções. Se essa manifestação artística terá alguma validade para outros ou não é indiferente. A arte é por si só sem mais nenhum objectivo que ela própria.
Uma cadeira ou um carro não podem ser obras de arte pelo facto de serem objectos criados com um objectivo e, por mais esteticamente apelativos que possam ser, nunca serão uma expressão de emoções.
Já uma reinterpretação da cadeira e do carro de um ponto de vista pessoal é uma manifestação artística.

Mas depois, quando uma obra de arte está pronta, acabada e existe por si só, acaba por só fazer sentido quando é partilhada. Um livro que nunca foi lido, uma escultura que nunca foi vista, uma música que nunca foi ouvida podem ser o culminar do génio humano mas não ecoarão nos espíritos de quem as poderia ter admirado e a expressão perde-se.

É aqui que entra na equação o negócio que é a arte. Para este negócio não interessa a expressão artística mas sim a possível quantidade de pessoas que poderão admirar essa expressão e até adquirir cópias da mesma.

No caso da música e da literatura, as artes por onde eu navego, isto faz-se através de editoras.

O objectivos de uma editora deveriam ser:

-avaliar a viabilidade da obra (que seja para um publico mais alargado ou para um determinado nicho de mercado)
-Disponibilizar a obra ao público alvo e promove-la de modo a viabilizar o seu investimento na produção de cópias da obra pagando ao autor uma quantia acordada por cada venda e que viabilizará a produção de futuras obras pelo mesmo autor

Olhando para o primeiro ponto, não é difícil entender que a editora deve ser um filtro daquilo que é editado. Uma obra, por mais perfeita que o esteja para o autor (e, convenhamos, ainda que o autor tenha consciência das imperfeições da sua obra, é sempre um “filho” seu) pode não ter qualquer valor em termos comerciais. A partir do momento em que se tenta vender arte esta passa a ser um bem de consumo como qualquer outro, sujeita a leis de mercado e, se não houver interesse de alguém na obra, é normal uma editora não ter interesse em distribuí-la no mercado.
Um dos grandes exemplos disto é o romance “mau tempo no canal”, obra-prima da língua Portuguesa que é hoje em dia editado pela Imprensa Nacional depois de a editora ter abdicado dos direitos de publicação, uma vez que não vendeu! Não deixa de ser uma obra-prima. No entanto não despertou interesse e, em termos editoriais foi “um tiro no pé”.
Mas cabe ao editor, a pessoa que decide ou não a publicação, ter em atenção a qualidade da obra (algo que não é fácil uma vez que, muitas vezes, há que pôr de lado gostos pessoais) e a capacidade que a mesma terá de vir a ser rentável.

Passando ao segundo ponto, uma vez decidida a publicação há que disponibilizá-la e dá-la a conhecer, para que o mundo saiba que a mesma existe.

Ora, o mercado editorial Português, neste momento, subverte por completo os papeis da editora e do editor. A grande maioria das editoras Portuguesas não passa de casas de auto-edição disfarçadas. Quando se submete uma obra a resposta, quase invariavelmente, passa por um valor de edição, seja sob que formato for. No caso dos livros pedem ao autor para adquirir um determinado número de livros, fazem uma sessão de lançamento (normalmente a custo 0 ou perto disso), divulgam o livro em websites ou nas redes sociais. Algumas, mais cotadas um pouco, fazem uma distribuição decente, disponibilizando a obra a um público mais vasto, outras nem isso e ficam à espera que os potenciais compradores se dirijam a eles para adquirir a obra.
Claro que estas editoras podem dar-se a este luxo, uma vez que a compra que impõem ao autor viabiliza de imediato a edição e ainda deixa algum lucro. O problema é que deixam de agir como filtro de qualidade derramando no mercado quantidades enormes de coisas que em condições normais jamais veriam a luz do dia. Isto acaba por criar descrédito para aquilo que é bom, porque o joio é tanto que o trigo se perde no meio. Pior ainda, um autor, ao aceitar estas condições, nunca poderá ter a certeza se a sua obra é considerada viável ou não, porque para estas editoras todas as obras o são.
O caso da música é ainda mais paradoxal que o da literatura. Há Editoras que cobram uma fortuna para produzir os CD’s (que, caso não saibam, saem da fábrica a preços irrisórios quando são produzidos em grandes quantidades, podendo o custo variar conforme a embalagem) e fazer o agênciamento do artista sem que ofereçam qualquer garantia de retorno do valor investido e tendo o artista de fazer a gravação às suas próprias custas. Claro que o justo seria a empresa ganhar a percentagem devida pelo trabalho que arranja ao artista e se não arranjar, não ganha, ter de fazer por merecer esse dinheiro, bem como uma editora de livros deve ganhar pelo que consegue vender, ter de merecer esse dinheiro.
Mas não, garantem o lucro à partida.

E a pergunta é:
-Se não têm de se esforçar para merecer o lucro, porque haviam de o fazer?

Claro que eles sabem (ou se não o sabem deveriam saber) que o seu modelo de negócio tem os dias contados. Há, já hoje em dia, ferramentas de edição on-line que permitem a qualquer um ter o seu titulo disponível no mundo inteiro com apenas um clik. Ferramentas que não retiram os direitos de edição da obra ao autor, cobram ao autor pela produção de cada cópia, uma vez que usam a tecnologia “print-on-demand”, que quer dizer basicamente que um CD, livro ou seja o que for é produzido quando é encomendado e que colocam a obra à venda de imediato deixando o autor estabelecer o preço da mesma e cobrando, por venda, a disponibilização do título. Isto, claro, a custo 0 para o autor e sem qualquer impacto ecológico, uma vez que só são produzidas as unidades que são pedidas.
Basicamente fazem exactamente o mesmo que todas estas editoras…
…mas muito, muito mais barato!
Isto, claro, vai criar uma revolução no mercado editorial, uma vez que vai tornar todas estas pequenas “editoras” obsoletas. A vantagem é que dará mais força àquelas que estão na disposição de cumprir o papel que deveriam ter à partida.

E se o Zé Manel teve uma ideia de fazer um livro de poemas para oferecer aos amigos, poderá sempre fazê-lo, pagar pouco por isso (só paga o que encomendar sem quaisquer obrigações) e ainda têm a alegria de ver a sua obra espalhada pelo mundo inteiro e ao alcance de um clik de qualquer um…

2 comentários:

  1. Para mim,a literatura é a arte maior.Adoro livros e não consigo viver sem eles:)

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  2. Til,

    Embora isto talvez pareça estranho vindo de um gajo a que alguns chamam escritor com 3 romances editados e 2 livros de crónicas, para mim a literatura não é a arte maior, porque a linguagem é imperfeita e os erros de interpretação e a falta de contextualização de um texto podem levar a mudanças de sentido que jamais ocorreriam ao autor!

    Dito isto, para mim a música, 1º arte, é a arte maior, precisamente porque a música é uma linguagem universal e capaz de transmitir sentimentos de uma forma mais eloquente que qualquer texto...

    Dito isto, também adoro livros e também não consigo viver sem eles!

    :)

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O QUÊ?!?!? ESCREVE MAIS ALTO QUEU NÂO T'OUVI BEM!